Na busca pelo sucesso absoluto, os danos às faculdades mentais caminham em níveis irreparáveis e resultam em um trágico epílogo. O clássico conto do Cisne Negro, repaginado pela direção perturbadora de Darren Aronofsky, trouxe para as telas do cinema uma das mais intensas e sensíveis representações do caos na busca pela perfeição.
Contando a história de Nina Sayers (Natalie Portman), o longa de 2010 introduz uma bailarina que enquanto luta pelo papel principal numa peça teatral, começa a perceber suas falhas. Numa trajetória conturbada por sua ambição, a protagonista se corrompe nesse ínterim através de uma projeção análoga que desenvolveu de si mesma. Isto é, uma versão ousada e impura, escondida na prisão criada em sua própria mente pelo medo se tornar uma decepção para sua mãe. Enquanto Lily (Mila Kunis), sua rival, esbanja tudo que Nina almejava ser. Desse modo, a jornada perturbadora da protagonista se desenvolve numa película repleta de analogias e informações jogadas ao vento.
Acompanhado pela tensão orquestrada por sua trilha sonora sombria, Cisne Negro, em contrapartida, é um misto de desespero e sentimentos caóticos. O filme transmite perfeitamente a sensação do querer ser algo que não lhe cabe e, por outro lado, as consequências de atitudes irracionais. Depois dos longos anos de seu lançamento, a complexidade do longa-metragem ainda ecoa na cabeça de fãs do gênero.
A direção assinada de forma memorável por Aronofsky, deixa diversos rastros sobre a ideia do transtorno dissociativo de Nina ao longo da obra cinematográfica. Como por exemplo: ao se rebelar contra a sua própria pureza e ingenuidade para alcançar seu objetivo, seu reflexo, portanto, reage agressivamente em flashes de cenas que remetem à insanidade na qual a busca pela perfeição levou a bailarina.
O longa-metragem é uma peça excelente mas que exige calma e atenção do espectador. Incrivelmente bem escrito, com diálogos densos e roteiro de uma complexidade absurdamente instigante. Algo capaz de te fazer refletir por horas e ainda te faz buscar pelos mais diversos tópicos da psicanálise.
Para aqueles que já assistiram, o filme é definitivamente uma obra à ser revisitada. Em tempos atuais, Cisne Negro não absorveu a sensação de algo antiquado. Falando em termos comparativos com base no cinema da atualidade, a película seria facilmente uma produção de estúdios como a A24.