Revisitando Legalmente Loira | O que faz um bom filme de patricinha?

A personagem de Reese Witherspoon se eternizou como uma das patricinhas mais amadas do cinema por sua autenticidade e confiança.
Design: Diego Stedile

O que faz um bom filme de patricinha? Desde a titulação da categoria, muitos filmes tentaram surfar nessa temática para angariar público mas sem oferecer a chave do gênero: personagens carismáticas e visuais icônicos.

Seja em mansões extravagantes, carros cor de rosa ou modelitos nada discretos, uma boa patricinha precisa ganhar espaço no imaginário popular. Como é o caso de Elle Woods, protagonista do clássico “Legalmente Loira”. A personagem de Reese Witherspoon se eternizou como uma das patricinhas mais amadas do cinema por sua autenticidade e confiança.

Ultrapassar gerações. Ou “Legalmente” eterno.

O filme, que foi lançado há mais de 20 anos atrás, segue na memória do público. Sendo até hoje referenciado em fantasias de Halloween, áudios do TikTok, clipes (como o de Thank U Next, da Ariana Grande) e até mesmo em histórias reais, como a de uma estudante de direito dos EUA que se formou usando usou um terninho cor de rosa inspirado no filme. Todas essas menções demonstram como a obra conseguiu seu espaço dentro da indústria cultural, seguindo a fórmula prévia da categoria “patricinhas” mas atualizando-a à seu próprio modo.

Ser precursor. Ou “lá em 2001”.

Dentre as muitas razões que justificam esse sucesso, podemos citar o caráter vanguardista da obra. Se só agora a patricinha maldosa e sem escrúpulos vêm caindo em desuso, dando lugar para uma nova fórmula que mantém os quesitos estéticos mas investe em personagens com senso de justiça, lá em 2001, os roteiristas da obra, Karen McCullah Lutz e Kirsten Smith, já investiam em uma Elle que têm como suas principais características seu caráter empático e justo.

“Legalmente Loira” se torna precursor ao investir nessa personagem que, para além das toneladas de lantejoulas, ganha o público com sua pinta de mocinha mas sem deixar de lado a sagacidade de uma boa patricinha, marcada em suas falas como a icônica: “Do you hate me because i’m too blond?”. Nessas tiradas, Elle convence o público de que muito mais que uma menina mimada ou uma mera heroína, ela é acima de tudo um ícone. 

Para além da construção da protagonista, o enredo assume um caráter de vanguarda ao propor uma narrativa de emancipação. Elle inicia o filme refém da aprovação de seu namorado, entrando em Harvard exclusivamente para demonstrar sua inteligência e assim se casar com ele. Ao final, Woods não só nega esse ex como descobre sua paixão pela advocacia, sendo peça fundamental na resolução de um caso jurídico. Nem mesmo o novo par romântico de Elle rouba seu protagonismo ou faz com que a grande conquista do final seja um outro romance.

Surpreender. Ou rosa is the new cinza

Outro ponto forte do filme é justamente essa fusão. A mistura entre o universo cinzento do direito e o mundo cor de rosa de Elle traz uma proposta única. Esteticamente, é incrível ver os figurinos extravagantes da protagonista trazer cor aos corredores de Harvard. Mais do que isso, a mesclagem desses dois universos tão caricatos proporciona boas sacadas. Por exemplo, a utilização dos jargões jurídicos, tão caricatos quanto as falas de uma patricinha, e a cena final onde Elle desvenda o caso por saber exatamente os rituais de um procedimento de permanente no cabelo.

Ter atrizes icônicas. Ou “Bend and Snap”.

É impossível falar de “Legalmente Loira” sem referenciar, por fim, as atuações de Reese Whiterspon e Jennifer Coolidge. A primeira, mesmo após tantos papéis memoráveis, parece ter nascido para interpretar Elle, segurando muito bem os exageros da personagem sem tornar algo grotesco. A personagem rendeu para Reese uma indicação ao Globo de Ouro de 2002 por melhor atriz em comédia ou musical.

Com Coolidge a história é parecida, a atriz, que carrega a caricatura nas próprias feições, contribui para o lado humorístico formando uma ótima dupla com Whiterspoon. A parceria rendeu mais uma cena icônica do filme, onde Elle insina a famigerada técnica do “Bend and Snap”.

Para além da comédia, a amizade das personagens expõe mais uma vez esse lado confiante e vanguardista da protagonista, que não sente necessidade de rivalizar com as outras mulheres, nem mesmo com a atual parceira de seu ex namorado. Pelo contrário, utiliza do seu senso de justiça para prestar diferentes ajudas as mulheres a sua volta.

Tudo isso lá em 2001!

Total
0
Share