Bridgerton chegou ao Netflix ainda em 2020 e se consagrou como um dos 5 maiores lançamentos da história do serviço de streaming. A história é a adaptação da saga literária ‘Os Bridgertons’, que conta com 9 volumes e é escrita pela autora Julia Quinn. O projeto integra a Shondaland, grupo responsável pelo desenvolvimento das séries assinadas por Shonda Rhimes (Grey’s Anatomy).
Bridgerton se passa em 1814 e gira em torno de uma família da alta sociedade inglesa e da sua busca para cumprir os padrões impostos pela sociedade e dar segmento à família e linhagem. Daphne Bridgerton (Phoebe Dynevor) é a filha mais velha entre as mulheres e assim sendo, a próxima que deve arranjar um marido. Embora esteja treinada e preparada para se casar, a personagem não foge ao ideal de conto de fadas de achar o amor verdadeiro para constituir família.
A produção é dividida em dois momentos, no primeiro, temos essa busca da protagonista pelo par ideal para casamento, atrapalhada muitas vezes pelas imposições do irmão mais velho e chefe da família, Anthony (Jonathan Bailey). Daphne anseia por casar e achar um bom pretendente, mas o irmão sempre coloca empecilhos e dificuldades a cada um que se apresenta. Nesse contexto surge o Duque de Hastings (Regé-Jean Page), amigo de Anthony e um dos homens mais cobiçados da cidade – pelo título que ostenta e pela beleza que possui.
Ele e a jovem Bridgerton não se dão bem de cara, principalmente porque, diferente de Daphne, o duque (chamado Simon) não deseja se casar e perpetuar sua linhagem, graças a péssima relação que teve com o pai abusivo. Entre alguns percalços e desentendimentos, os dois acabam se aproximando e criando um plano que torna a jovem uma das pretendidas mais cobiçadas da região e faz com que Simon tenha um pouco de paz (ficando livre das mães de família desesperadas que desejam casá-lo com suas filhas). Uma receita perfeita para o clichê da aproximação de opostos que gera o amor, não é mesmo?
No segundo momento da série, os dois acabam por se casar de fato, o que causa uma agonia sem tamanho para ambos, já que ela ainda insiste em querer constituir família e ele se nega a trair seus próprios votos de que a linhagem Hastings morra consigo. Bridgerton pode parecer apenas um romance de época, mas reinventa deforma divertida, sexy e cativante o gênero, trazendo elementos atuais e um fator que a difere de qualquer outra obra deste universo. O ponto alto da produção é sem sombra de dúvida Lady Whistledown (Julie Andrews), uma mulher misteriosa que apenas narra os episódios sem aparecer e age como uma espécie de “Gossip Girl” da época, escrevendo e divulgando todas as fofocas das famílias nobres da cidade. Fofocas que inclusive ditam mudanças comportamentais significativas na movimentação da trama.
Poder feminino e diversidade racial
Não é novidade para ninguém que Shonda Rhimes sempre incorpora elementos feministas e raciais em suas obras, a produtora de How to Get Away with Murder e Scandal, sendo uma mulher negra, nunca deixa de fora personagens poderosas e pretas. Em Bridgerton isso não é diferente. Indo contra a realidade da época, ela apresenta personagens femininas fortes e donas de seus próprios desejos. São as mulheres que desenham e planejam suas vidas na série. Elas se unem quando necessário e se movimentam da forma que sabem para fazer com que tudo ocorra como de fato desejam.
Lady Violet (Ruth Gemmell), matriarca da família Bridgerton, livra a família de um escândalo de forma brilhante e toma a frente da situação, deixando seu filho mais velho e chefe da família no chinelo. Outra mulher forte da série é Lady Portia (Polly Walker), vizinha da família de Daphne e matriarca da família Featherington, é ela que dá as cartas dentro de casa, enquanto seu marido apenas lê o jornal em busca de apostas.
As jovens da série também são extremamente cativantes, como é o caso de Eloise Bridgerton (Claudia Jessie) – que sonha em descobrir quem é de verdade Lady Whistledown; Penelope Featherington (Nicola Coughlan), uma doce menina que é apaixonada pelo irmão de Eloise e Marina Thompson (Ruby Baker) prima de Penelope, que chega a casa da família para arranjar um pretendente na cidade. As três meninas são personagens espertas, intensas e brilham na tela em todas as vezes que aparecem.
Outro ponto extremamente forte e valioso da produção é sua representatividade, Shonda e o showrunner Chris Van Dusen, fazem questão de colocar pessoas pretas em lugares de poder, sem demonstrar nenhum tipo de racismo ou contrariedade aquilo. A personagem mais respeitada e temida da série, a rainha Charlotte (Golda Roshuvel) é uma mulher negra, assim como uma das mais sábias e respeitadas figuras da sociedade, Lady Danbury (Adjoa Andoh) e o próprio Duque de Hastings.
Trilha sonora da época (não disse qual)
Não bastando recursos narrativos e elementos para que uma série que tinha tudo para se clichê, na verdade seja muito criativa e interessante, Bridgerton ainda nos coroa com uma trilha sonora de época bem inusitada. Ao assistir a série, principalmente nos bailes que apresentam as damas para a sociedade, somos apresentados para versões de época de músicas atuais. Canções de Taylor Swift, Shawn Mendes e até Billie Eilish compõe a trilha sonora da produção, mas são tocadas apenas de forma clássica, com instrumentos de orquestra. É quase um deleite assistir uma cena e se pegar tentando reconhecer de onde se conhece a música que toca no grande baile de época.
Bridgerton é sobre romance e a busca da vida perfeita, mas encontrou uma forma muito criativa de expor isso e terminou sua 1ª temporada de forma agradável, fechando praticamente todos os seus arcos, surpreendendo o espectador e deixando um ou outro fio condutor para uma possível renovação, já que conteúdo para isso (e vontade do autor) nós temos. Uma boa série para quem um procura visual de época belíssimo, sensualidade e cenas quentes, diversão e notas dramáticas.
Assista Bridgerton na Netflix.