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Crítica | Falcão e o Soldado Invernal foca no peso e legado em se tornar o herói que é a cara do país

A segunda série original da Marvel para o Disney+ põe em foco Sam e Bucky e toda a honrosa questão em assumir o manto do Capitão América.

Atenção! Essa crítica contém spoilers de “Falcão e o Soldado Invernal”.

Após o fim de “WandaVision”, já era certo dizer que a alternativa da Marvel em expandir o seu riquíssimo e bem montado universo estendido para a televisão (melhor, streaming) era uma batalha muito bem travada, e agora, com “Falcão e o Soldado Invernal”, esse sentimento se alastra: não há plano melhor em deixar o telespectador ansioso para os próximos passos se não uma prévia que monta a guerra.

Diferente da jornada complexa vista no show antecessor, “Falcão e o Soldado Invernal” já segue a fórmula mais condizente de outros filmes do estúdio, e aqui, a coisa se dissolve expandidamente (por ser em episódios, é claro), mas não tão contemplativa, já que temos um fio condutor simples e que não rega nada de extraordinário até o seu final. Fazendo com o que melhor da produção seja de fato, seus personagens.

Sam e Bucky unem forças para combater os chamados Apátridas, um grupo que após o retorno das pessoas do blip, ficam sem para onde ir, e decidem então renascer em uma revolução. Esse é o fio que gera ação e traz coadjuvantes para a tela, que infelizmente, não se sustenta tão bem até a conclusão. Então, tudo passa a se desenvolver com o arco mais potente da série, que gira em torno de uma coisa que a gente vai ver muito dentro do MCU a partir de agora: legado.

Captain America / Marvel/Disney+

O mundo sem um Capitão América

Sem Steve Rogers, o governo convoca o seu próprio homem de cabelos loiros e azuis para vestir o uniforme com as cores da bandeira: John Walker. Interpretado por Wyatt Russell, ele entra em ação para gerir o maior conflito da trama, toda a questão da entrega do escudo pelo Sam e em como ele deve proceder quanto a isso, já que Rogers representava a América da forma mais próxima possível. Isto é sem sombra de dúvidas um dos pontos de insegurança do atual protagonista e uma dor que ninguém que não seja de sua raça enxerga. Fato este, que inclusive, desencadeia uma cena em que o próprio Soldado Invernal pede desculpas a Sam por não ter compreendido a complexibilidade (que Sam sentia) em assumir esse manto.

Esse conflito entra em contexto na metade da série, e em um diálogo poderoso com Isaiah (Carl Lumbly) – veterano de guerra que recebeu o soro do super-soldado –, o protagonista começa a se questionar ainda mais sobre o peso da escolha de se tornar o herói que é a cara do país. Na conversa, forte e assertivo, Isaiah é enfático quanto ao racismo americano, apontando que nenhum dos nascidos no país aceitaria um homem negro como Capitão América e por tudo o que os seus sofreram, nenhum homem negro deveria de fato aceitar ocupar este lugar.

Pode-se descrever como crucial a Marvel incorporar o real ao ficcional e trazer o racismo como um ponto forte e necessário para o surgimento do novo Cap, mesmo que de maneira simplista e sem muito pra onde se estender, é super importante e atenua um lado palpável sobre as principais dores e lutas americanas dentro do MCU.

E esse ponto se resolve bem dentro do que o programa oferece, ainda mais com um Anthonie Mackie entregando muito bem uma nova faceta e não tão nova ao mesmo tempo para o Sam, ele é o coração disso tudo, e ver como todos os sentimentos dele se perpetuam devido ao Steve, é incrível. Uma das maiores provas disso é um plano que o personagem tem com uma civil no capítulo final. Aquilo é super simples, mas muito valioso e emocionante para o que a história preza.

De modo geral, o fim do racismo ou sua reparação está bem longe, mas a série faz um ótimo serviço em estabelecer o personagem não como “o Capitão América negro”, mas sim como o Capitão América, dando a Sam o seu protagonismo e não o colocando em momento nenhum como uma figura de menor respeito ou peso do que Steve Rogers, mas um herói de mesma patente, a ser visto de igual para igual.

E é justamente aí, com esse núcleo principal que a produção concentra em 6 episódios o seu melhor. A gente entra em um debate sobre quem deve de fato assumir o manto do Steve e em plano secundário, nos é mostrado todo o contexto dos Apátridas. Que se formos parar para analisar bem, não preenche muito, ficando pairando no ar dada certas motivações, ainda mais no último capítulo. Onde tudo se acelera e acaba se resolvendo de uma maneira extremamente básica. O que se preparava desde o seu principío, cai por terra em um desenvolvimento que infelizmente não trava pontos épicos, porém, ainda assim, emociona em certos pontos.

Bucky, Ayo e Zemo

O que acaba não se dissolvendo positivamente são outros arcos; o da Sharon, que é sem dúvida posto em último momento para gerar uma desventura diante o ocorrido; o do John, que é puramente mal acabado mas lá no fundo reserva algo interessante; e o dos Apátridas que desde sempre, ficou inteiramente no ponto morno.

Quanto ao Bucky, é muito bom ver esse lado mais “doce” dele, e mesmo que o programa o preze menos (afinal, ela é para o Falcão), ele produz as melhores interações, que são leves, engraçadas, e o finda como uma nova pessoa diante de uma jornada difícil e que era até então, inconclusiva. O seu núcleo germina ações com Ayo (uma das Dora Milaje) e Zemo. Esse último aparece para assumir o plano de cara mal que ajuda, e isso até funciona. Ele se faz presente da maneira que deve dentro dos conflitos que a série produz para si, e trabalha bem com o duo protagonista. Nada além disso.

Para Ayo, ainda que tenha aparecido pouco, ela oferece poder na dosagem certa e consegue nos fazer pedir por mais. A cena da luta das Dora Milaje contra o John Walker é ótima, e inclusive põe em prática o aspecto técnico mais bem executado da obra: as boas cenas de ação.

Isso se reafirma desde a sequência inicial lá do primeiro episódio, que traz uma das cenas mais bonitas da Marvel nos céus. É o Sam dominando o seu território como ninguém. E o mais triste pensando sobre essa característica, é não termos momentos visualmente falando, incríveis do tal acontecimento com o Sam.

E se aquele primeiro momento que potencializava o gigante estúdio em seu aspecto mais querido tenha cedido aos fãs esperanças para que o que vem a seguir dentro do MCU seja algo grande, a jornada valeu a pena. Mas quando refletimos sobre tudo o que vemos, “Falcão e o Soldado Invernal” ficou no ponto morno até o seu fim.

Assista “Falcão e o Soldado Invernal” no Disney+.

Nota dos autores: 65/100

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