Falar do rock inglês é quase sempre evocar nomes masculinos. Desde Rolling Stones, passando pelos conturbados irmãos Gallagher do Oasis, até Arctic Monkeys. Recentemente que, a lá Nairóbi em La Casa de Papel, o matriarcado assumiu de vez as guitarras e amplificadores. Em 2022, as Wet Leg fizeram barulho no mundinho indie e agora é a vez de The Last Dinner Party ecoar esse império.
Formada em 2021, a banda composta por Abigail Morris (vocalista), Lizzie Mayland (guitarra e vocal), Emily Roberts (guitarra solo, bandolim, flauta), Georgia Davies (baixo) e Aurora Nishevci (teclados e vocal) se conheceu ainda em 2020, quando Abigail, Lizzie e Georgia eram calouras do King’s College Union que viam a cena local ferver com nomes como black midi e Shame e decidiram mergulhar nesse mundo. Logo depois, um amigo indicou Emily, que puxou Aurora para formar o quinteto.
Porém, logo veio a pandemia de covid-19 e, antes mesmo de seu nascimento, o grupo teve que se adequar as políticas de distanciamento provocadas pela doença. Com isso, a banda só foi fazer seu primeiro show no final de 2021, com as leis mais flexíveis. Após isso, o grupo dedicou 2022 para enfim conseguir ensaiar mais, aprimorando tanto a amizade das integrantes quanto o som delas. O resultado foi “Nothing Matters” single lançado em 2023 e uma das cartas de apresentação mais pungentes da música atual
Ainda em 2022, já assumiram a responsabilidade de abrir para os Rolling Stones e, após assinarem com a Island Records, seus horizontes se expandiram rapidamente, integrando festivais como o Glastonbury e abrindo shows para nomes como Hozier e Florence + the Machine, além do seu single ir direto para a trilha do EA Sports FC 24 (nome atual do FIFA), sem dúvidas um dos maiores propulsores de artistas de seu gênero.
Essa ascensão tão dinâmica, que vai contra a de nomes que conseguiram o estrelato nesse mesmo período como Sabrina Carpenter e Chappel Roan, logo começou a levantar dúvidas. A principal é que, pelo passado em escolas caras e todo o tempo desenvolvido pela gravadora para elas, o The Last Dinner Party não passaria de um industry plant, termo descrito para artistas que despontam basicamente por networking. Esse assunto inclusive é tratado pelas integrantes, a própria vocalista, Abigail, já afirmou que não tiveram que batalhar menos na música por conta das escolas que vieram.
“Ser essa banda badalada e agitada pode ser uma maldição. Acho que sentimos que temos algo a provar.”
Mas a resposta definitiva veio da melhor forma que elas sabem: fazendo música. Quatro anos depois de se conhecerem, a banda lança “Prelude to Ecstasy”, em fevereiro de 2024 e prova porque elas são o nome que ainda vai figurar muito por aí em listas e line-ups.
O álbum personifica e amplia a estética gótica promovida pelos singles e a mistura do art indie com o pop barroco traz um grau de unicidade delicioso para a obra, que é potencializado pelas performances extravagantes ao vivo, com suas características roupas que parecem de brechó. Aqui, tudo funciona como um grande ritual do feminino, feito por bruxas que não foram queimadas fisicamente, mas simbolicamente através de violências diárias, e entrega faixas memoráveis como “Caesar on a TV Screen”, “Beautiful Boy” e “The Feminine Urge”.
Não à toa, o início de 2024 foi a época de colher os frutos maturados durante os anos anteriores. Antes mesmo do seu debut sair do forno, o TLDP já havia figurado em primeiro na BBC Sounds Of, que já premiou nomes como Adele e Sam Smith; e também ganhou o prêmio Rising Star! no BRIT Awards. Depois do álbum, o grupo se tornou nome recorrente em grandes festivais como Coachella, Primavera Sound Barcelona e Porto e a recente edição do Lollapalooza Chicago.
Por isso, é quase certeza que o quinteto possa dar as caras pelo Brasil nas edições nacionais desses dois festivais.