Esse texto contém spoilers do filme.
Game of Thrones chegou ao fim. A maior série dos últimos anos encerrou a sua jornada no domingo de 19 de maio, com o sexto episódio da sua oitava temporada. Temporada essa cheia de decisões que dividiram os fãs, rendendo vários textos indignados ou defensivos nas redes sociais e não seria diferente com o episódio final, definindo o destino de vários personagens queridos.
A temporada final e a conclusão de Game of Thrones pode ter sido agridoce para muitos fãs, revoltante para outros e inaceitável para um seleto grupo – petição online para refazer a temporada é o cumulo da falta de bom senso -, mas a HBO guardava uma última despedida a esse universo, dessa vez, vista de fora.
Na noite do último domingo (26/05), a HBO exibiu o documentário Game of Thrones: a última vigília, um passeio pela jornada de toda a produção da última temporada. Foi uma forma de nos despedirmos agora sem muita polêmica, vendo pela última vez cenários que foram tão icônicos nos últimos anos e dar uma última olhada em um elenco tão querido e cativante. Momentos do documentário já estão rodando na internet na forma de memes – como houve após todos os episódios – ainda relacionados ao final em si da série. A última leitura do roteiro, juntando o elenco e equipe criativa pela última vez. Foi um dos momento mais marcantes e emocionantes do documentário, porém na internet já vemos cenas muito seletas do elenco descobrindo pontos polêmicos dessa última temporada, como a Arya matando o Rei da Noite, ou o ator Kit Harington (Jon Snow) descobrindo o destino final de Daenerys.
Contudo por mais que seja sempre emocionante ver o elenco de uma série popular, que durou anos, se despedindo, Game of Thrones: a última vigília não é sobre isso, mas sim sobre aqueles que não conhecemos. Sabe quando você vai ver um filme da Marvel, fica esperando a cena pós crédito, mas reclama que demora muito, porque tem um monte de nomes passando na tela? São essa pessoas que muitas vezes não nos importamos, mas são essenciais para fazer com que uma série de uma escala cinematográfica como Game of Thrones fosse capaz de ser feita. Muitos reclamam de copos de Starbucks ou garrafas de água surgindo em um take de alguns segundos, mas sem essas pessoas não existiria nem série para reclamar!
Seguimos então a jornada de várias equipes nas semanas de produção, lidando com objetivos e dificuldades em seu ofício, para que na hora em que o diretor disser “ação!” tudo estará no seu devido lugar. Então vemos por exemplo um diretor de fotografia no cenário que servia para as filmagens em King’s Landing, tirando várias fotos que servirão de base para quando eles precisarem recriar aquele cenário em um set externo e depois digitalmente no que veio a ser a sequência que vemos no quinto episódio da temporada do dragão destruindo a cidade, que não poderia ser realmente destruída; outro momento marcante são das filmagens noturnas, no meio do inverno. A equipe enfrentava nevascas durante o dia e precisava ficar retirando o acúmulo de neve o tempo inteiro para não atrasar as filmagens à noite.
Durante o período das filmagens noturna, o documentário dá destaque a Sarah Gower, chefe do segundo departamento de próteses e máscaras, para o que vimos na batalha de Winterfell contra os White Walkers. Ela e seu marido Barrie, que é designer de próteses, estavam trabalhando juntos aqui, o que não era para ser o caso, pois os dois têm uma filha pequena, mas a demanda nesse trabalho, com orçamento milionário, vários figurantes para experimentar máscaras e próteses, é uma demanda muito grande. Sarah falava com a filha todos os dias, mas diz emocionada que já havia perdido o dia das mães e possivelmente perderia a páscoa também. Felizmente o documentário mostra uma feliz conclusão no meio das consequências de um trabalho como esse.
Para criar o vínculo humano maior entre público e personagens, o documentário apresenta como protagonista Andrew McClay, um dos principais figurantes da guarda dos Starks, que fez esse trabalho nos últimos cinco anos, sendo um fã das Crônicas de Gelo e Fogo desde o seus 13 anos. Acompanhamos muito dos últimos dias de filmagens aos olhos de McClay, nos tornando empático à ele. É muito comovente quando vemos Kit Harington filmando sua última cena em Game of Thrones, emocionado, sendo elogiado por D. B. Weiss (co-criador da série) e em paralelo o documentário faz de Andrew a estrela, mostrando que ali também fora sua despedida, e também emocionado diz que não havia feito nada tão grandioso quanto aquela série e possivelmente não voltará a fazer e por isso seria muito difícil dizer adeus.
Game of Thrones realmente chegou ao fim, mas mais do que isso, um ciclo na televisão se encerra. No meio do auge dos serviços de streamings, o espectador já se acostumou com várias séries lançando suas temporadas completas para serem vistas quando e como quiser, mas mesmo assim a HBO conseguiu fazer com que o público voltasse a ser refém do seu conteúdo nos últimos seis domingos, a partir das 22 horas, para ter o que debater, teorizar e até xingar nas redes sociais logo depois. Uma série que fez história ao quebrar barreiras e conseguir produzir eventos épicos, no nível que muitos blockbusters apenas sonham e se a qualidade narrativa pode ter caído nas últimas temporadas, o nível técnico e de produção só aumentou. Nada mais justo então que a nossa última despedida de Westeros seja ao lado daqueles que sacrificaram momentos com a família, que eram essenciais a sua maneira mesmo estando do lado de astros e que nos proporcionaram dessa forma uma das melhores jornadas televisivas de nossas vidas. Adeus, Game of Thrones! Agora sua vigília chegou ao fim!