Desde 2017 sem vir ao Brasil, assim que os rumores de que The Weeknd voltaria ao país para realizar um show solo a expectativa em poder rever o artista sem que seja em um festival se tornou ainda alta. Afinal, ele vinha entregando uma série de concertos essenciais para marcar a sua atual fase como uma das melhores, em muitos sentidos.
Tudo começou com dois shows, que após a grande demanda, ganhou mais uma data. A divisão ficou então entre um show no Rio de Janeiro e dois em São Paulo. O do Rio foi marcado por uma chuva intensa, os das noites paulistas trouxeram um público ávido e sedento. E a gente comenta parte desses dois espetáculos aqui.
Quem situava o palco e a plateia para abrir os primeiros momentos de música ao vivo era o produtor Mike Dean, que esteve recentemente envolvido com The Weeknd na criação da trilha da série “The Idol”. O set se acoplou numa atmosfera cinematográfica um pouco deslocada, bonita, mas não parecia muito o momento ideal para estar ali.
A seguir, mesmo estando envolvido em certas polêmicas na última semana, KAYTRANADA entrava e o DJ conseguiu entregar um dos melhores shows de abertura do ano. Se o objetivo era somente aquecer o público, as expectativas foram superadas. Em uma mistura diversa que inclui músicas autorais, passando por Beyoncé e arriscando até alguns remixes de músicas brasileiras, o artista envolveu o Allianz Parque, fazendo a multidão dançar, pular e se entregar a um show também visual em um curto, porém fantástico espetáculo.
A atração principal entrou no palco logo após várias modelos formarem em fila uma imagem sem igual na gigante passarela da turnê. O primeiro bloco repleto de músicas eletrizantes fez todo mundo pular, gritar e a euforia foi geral. O apelo estético também muito bem aproveitado só deixou a experiência ainda melhor. Uma coisa importante que pode ter incomodado alguns foi que, por mais que não haja divisão de pista comum e premium em São Paulo, a falta de um telão atrapalhou um pouco a visão para quem estava em ambas as extremidades do palco.
O telão onde The Weeknd aparecia ficava nas laterais do telão principal, que exibia visuais durante todo o show, fazendo com que boa parte de uma boa visão ficasse exclusiva para os setores de cadeiras inferior e superior.
O palco da turnê After Hours til Dawn tinha dois objetos cênicos que chamavam tanta atenção quanto o próprio artista. A estátua da figura robótica sexualizada criada por Hajime Sorayama já era um item que o The Weeknd demonstrava gostar bastante há alguns anos, e no palco do seu show a estátua é gigantesca, metalizada e gira como se estivesse em um carro abre-alas de carnaval. Em buscas nas redes sociais é até difícil saber se existem mais fotos do show em si ou da tão apreciada ‘Sorayama’.
O outro item que aumentava as proporções estéticas do show é uma lua inflada um pouco depois do ato de abertura terminar sua apresentação. A polêmica envolvendo a decoração é que, dependendo de onde o público das sessões de cadeira estivesse, era capaz de ter um pouco da visão tampada pelo círculo brilhante.
As cores davam rumo e conversavam com a vibe que a música do momento ecoava, mesmo que em alguns momentos fosse claro o desperdício de montar um show visual envolvendo a lua e as pulseiras brilhantes que eram entregues no começo do show.
A decisão de adicionar mais quatro músicas na setlist do show foi acertada, principalmente na escolha das faixas. O single promocional do disco “Starboy” de 2016, “False Alarm”, fez o público se perguntar por qual motivo ela não esteve na setlist oficial do show.
A música é uma das mais barulhentas da era mais Pop do cantor e faz um ótimo trabalho como abertura do show. Abertura real, pois mesmo ao adicionar “La Fama” ao show, essa só serviu como uma rápida introdução para as dançarinas (chamadas de ‘Stargirls’) chegarem no palco. “Pray For Me“, música da trilha sonora de um dos maiores sucessos do cinema de super-heróis, Pantera Negra, foi um adendo que acabou dando um toque um pouco mais eletrônico ao show, servindo como uma ótima ponte entre “Starboy” e “House of Balloons“. As adições à passagem pelo Brasil da turnê foram concluídas com uma dobradinha entre “In The Night” e “Love Me Harder“.
A primeira, um pedido que fãs estavam quase que se desesperando para serem atendidos, foi o motivo de coros muito altos, e a última (faixa originalmente lançada pela cantora Ariana Grande com participação do cantor) pode ser vista como uma decisão inusitada para a setlist, mas que logo nos primeiros segundos dos vocais de Abel, já era quase eclipsada pelos gritos do público que sempre são bem servidos com todos os duetos que os dois cantores já fizeram em suas respectivas carreiras.
No fim, com uma lista de músicas imensa, mas que não se deixou cair em momento algum, fão foi preciso muito para fazer com que o público se entregasse de coração ao que The Weeknd tinha capacidade de fazer.
Suas músicas conseguem envolver e arrancar uma bela celebração para absolutamente cada parte da setlist. Ainda que tenha alterado muitos dos arranjos das inúmeras músicas, era possível sentir a faísca irradiando daqueles mais fãs.
“Popular“, canção de “The Idol“, sofre bastante com isso, mas de modo negativo, infelizmente. “Stargirl Interlude“, por outro lado, arranca suspiros por ser originalmente melódica nessa nova versão.
Tudo o que foi colocado no palco era um grande sinal para tornar o show num verdadeiro espetáculo: seja pela atmosfera noturna em si, a grande robô em cima do palco que girava e ganhava adereços de luz extremamente belos e místicos, e claro, por toda a empolgação do público que era responsável por cantar um conglomerado de hits explosivos que definem Abel Tesfaye como talvez um dos maiores artistas vivos hoje.