Crítica | Top Gun: Maverick reintroduz um herói realista para adultos nostálgicos

Quase quarenta anos depois do sucesso arrebatador do primeiro “Top Gun”, Tom Cruise retorna às telonas no papel de Maverick em uma nova missão arriscada, desafiadora e praticamente impossível.

Sequências de ação absurdas, efeitos práticos de cair o queixo e um elenco extremamente afiado. Esses são apenas alguns dos elementos presentes na sequência do sucesso Top Gun. Com um Tom Cruise extremamente afiado em um papel feito praticamente sob medida, mesmo anos depois do lançamento original.

De forma mais direta, o filme não disfarça o desejo de criar um clássico instantâneo para o mesmo público que aclamou o primeiro filme. O patriotismo exacerbado, o quase-culto às referências militares e a masculinidade heroica presentes no homem-branco-hétero-americano estão todas aqui. Para as novas audiências, um baile de tecnologia na execução das cenas de ação e Lady Gaga cantando o tema principal do filme parecem ser novos ingredientes somados à mistura, junto com um novo elenco pouco conhecido (com exceção talvez do já aclamado Miles Teller).

Paramount/courtesy Everett Collection (reprodução)

Com centenas de referências ao filme anterior (muitos atores do elenco principal, fotos e flashbacks de momentos marcantes do primeiro longa), fica evidente o apelo pela nostalgia de quem viu o clássico dos anos oitenta. Os motivos são quase óbvios: o primeiro longa foi a maior bilheteria do ano de estreia. A música tema do anterior, “Take My Breath Away”, não apenas foi a segunda música mais tocada no Brasil em 1986, como também ganhou o Oscar de Melhor Canção Original em 87. O filme ainda criou uma comoção pelo alistamento militar, causando um aumento tão significativo no número de jovens interessados que muitos cinemas americanos passaram a apresentar um guichê improvisado para que jovens pudessem se alistar. Um sucesso absoluto.

Já em 2022, mesmo nadando em referências nostálgicas, temos sim novos personagens e uma tentativa em trazer um frescor para essa nova versão – talvez para que não soe tanto como um remake, e sim uma continuação. Mesmo assim, o foco do filme segue sendo Tom Cruise e sua personalidade rebelde e heroísmo infalível, seu interesse amoroso por Jennifer Connelly e suas relações pessoais, que no gancho atual envolve Bradley, personagem interpretado por Miles Teller.

A nova equipe de aviadores (que conta com Monica Barbaro interpretando a única mulher da equipe, Glen Powell como um dos personagens mais arrogantes do longa, Lewis Pullman como um talentoso desajeitado e Manny Jacinto como a representação filipina) é boa em cena, mas não convencem em um elenco individual, ou seja, o filme não se sustenta sem Tom Cruise no protagonismo. O conjunto da obra funciona, mas pode representar uma preocupação caso haja interesse em dar sequência no filme contando outras histórias do universo de pilotos de Top Gun.

As cenas de ação são absolutamente hipnotizantes, bem dirigidas e executadas. Em pouco mais de duas horas, não desviei os olhos da tela sequer para ver que horas eram. Embora o roteiro seja bem encaixado em clichês e momentos previsíveis, a execução técnica e o elenco alimentam a emoção no espectador. Já a trilha sonora, assinada por Hans Zimmer e Lady Gaga, une o melhor dos dois mundos. A canção “Hold My Hand”, que conhecemos na voz de Gaga, é usada ao final em um momento muito adequado e com um instrumental orquestral assinado por Hans: um dos maiores e mais aclamados compositores da atualidade. Ele também é responsável por trazer elementos de “Hold My Hand” ao longo do filme, mas com roupagens diferentes e sensíveis para caber no tema romântico de Tom e Jennifer: uma excelente concorrente ao próximo Oscar.

Top Gun (1986) / Paramount/courtesy Everett Collection (reprodução)

No IMAX a experiência é ainda mais imersiva e envolvente, e ajuda a criar a tensão nas cenas de ação mais complexas e nos momentos de clímax. Mesmo no padrão em que você sabe o que vai acontecer – aquilo acontece – eles colocam um plot twist – você sabe de novo o que vai acontecer – acontece, e eles surpreendem com outro plot twist.

Mesmo com o roteiro previsível e não tão profundo assim, o filme se mantém firme e consegue ser um filme de super-heróis para adultos realistas, com cenas de efeitos práticos complexas e bem executadas hipnotizando os espectadores. O clima clichê não desagrada, e a nostalgia nos dá a sensação de assistirmos pela primeira vez um dos melhores filmes da Sessão da Tarde, com uma tecnologia surpreendente, visuais de tirar o fôlego e uma balada impecável de Lady Gaga – que infelizmente não teríamos nos filmes que normalmente ocupam a grade.

Nota: 86/100

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