Young Fathers tem o controle total do caos em suas obras

Vindo ao Brasil pela primeira vez para o C6 Fest, o grupo Young Fathers consegue desdobrar potências em sons destemidos

O som do trio escocês Young Fathers (formado por Alloysious Massaquoi, Kayus Bankole e Graham ‘G’ Hastings) consegue reverberar onde deve reverberar num grande mar inquieto de camadas sonoras (e até visuais, criando-se imagens automaticamente conforme a audição). É um feito inegável para um tipo de produção simplesmente lotada de artefatos tecnológicos e também o tipo de música para se ter conhecimento.

Olhando para os primeiros projetos (lá de 2013), era possível reparar uma breve introdução para o que hoje mais define a música deles: o caos controlado. O “TAPE TWO”, que contém um dos melhores momentos da carreira (“Only Child”, “Ebony Sky”), ressoa hoje como essencial para novos ouvintes.

O disco é revigorante, apesar da diversidade mais sombria. Atmosfera essa diferente dos vindouros discos, inclusive a do “Cocoa Sugar”, álbum pulante de 2018 com músicas enormes como “In My View”, “Tremolo” e “Lord” — nessa pasta há uma concentração avassaladora de canções que concedem a banda um estágio de puro primor.

Em resolução, o que parece acontecer é que todos os trabalhos do grupo culminaram em “Heavy Heavy”. O mais recente deles, e talvez o melhor de 2023, é literalmente a junção de todas as versões que já foram colocadas a prova antes.

O projeto é inteiramente carregado de uma energia que faz tudo se erguer com facilidade. Boa parte do trabalho deles já conseguia fazer isso com a capacidade mínima no automático (“Nest” do “White Men Are Black Too” tem esse mérito dentre todas as muitas outras), mas ali é diferente. São eles ligados no máximo, mas em todos os álbuns anteriores eles estavam assim também.

A potência gospel que o disco evoca é capaz de criar uma aura muito quente e que persegue um destino além do convencional nesse sentido. Não é que essa proposta tome o álbum para si, mas eles usam dessa força para gerir algo potente e que nunca ousa desacelerar. É sem dúvida o projeto mais essencial para conhecer o trio.

Ter colocado 6 trabalhos no mundo e nenhum deles seguir um modelo único de criação, demonstra uma capacidade arrasadora em dar vida a sons que nunca não são destemidos, mesclando formas e cores para tornar o hip hop em algo com uma latência diferente da vista no mercado afora.

Por entre vozes, corais, gritos e camadas que incrementam de modo sonoro e vital tais peças faz com que a Young Fathers detenha um posto muito especial de projetos para se passar a acompanhar e torna-se fã.

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Young Fathers toca no domingo dia 19 de maio, na segunda edição do C6 Fest.

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