Zé Ibarra lança o experimental “Afim”, segundo álbum solo

Em oito faixas, Zé Ibarra mistura MPB, jazz, rock progressivo e uma estética confessional no disco “Afim”

Zé Ibarra apresenta AFIM, seu novo trabalho solo, o segundo de sua carreira, pelo selo Coala Records. O disco reúne oito faixas entre composições próprias e versões de artistas contemporâneos, em uma proposta estética que combina elementos da MPB, rock progressivo, jazz e pop em uma linguagem autoral e ousada. O álbum representa o cruzamento entre diferentes facetas do artista, desde o violão intimista aos arranjos mais densos.

“Este projeto é uma tentativa de, me aproveitando do que em mim é natural e espontâneo, repaginar e trazer uma nova sensação à minha música. Sensações que já vinham dentro de mim há muito tempo, mas que eu ainda não tinha conseguido encarnar em uma obra. Acho que agora se abre essa oportunidade e, com ela, a chance de me colocar em um lugar mais instintivo e menos formatado. Explorar lados meus que ainda não tinham sido organizados em um disco: uma certa escuridão, uma musicalidade mais cinematográfica, um desejo por paisagens sonoras novas. Gosto de pensar que cada faixa é uma nova versão de mim”, comenta Ibarra.

A conexão com o Coala Records, selo que abriga artistas da geração de Zé e nomes de destaque da nova música brasileira, reforça a identidade artística do projeto e o insere de forma ainda mais clara no contexto da cena contemporânea. 

Faixa por faixa

As faixas “Infinito Em Nós”“Morena, Essa Confusão” “Da Menor Importância” brilham aos sopros do Copacabana Horns, com Diogo Gomes (trompete), Marlon Sette (trombone) e Jorge Continentino (sax e flauta). Os arranjos são assinados por Diogo Gomes e Zé Ibarra, com exceção de “Essa Confusão”, arranjada por Zé e Jorge Continentino.

Cordas aparecem em momentos estratégicos, com arranjos de Jaques Morelenbaum nas faixas “Transe” “Essa Confusão”. Também participam Lucas Demoro (piano, synth e guitarra), Jonas Sá (teclados e synths), Frederico Heliodoro (guitarras e baixo), além de uma equipe de técnicos que inclui Angelo Wolf, Arthur Martau, Lucas e Antonio Nunes, Leo Marques, William Luna, Agustin Cornejo e Thomas Harres. “Infinito em Nós” é a música de trabalho do álbum, com construção rítmica crescente e variações entre graves, agudos e uma roupagem pop. Com versos como “Nosso amor foi tudo de bom!”, ela se destaca pela leveza e traz certa nostalgia. Com arranjos de metais do Copacabana Horns, o que contribui para ter a atmosfera que tem.

Em “Segredo”, de Sophia Chablau, Zé se apropria de um canto mais malicioso, até malcriado, para entoar os versos que dialogam um pouco com o tema do disco. “Mas se você quiser, eu viro um segredo seu”. Arranjo dançante, mistura jazz e pop com facilidade resultam em clima de mistério e festa. “Transe” foi primeiro single do álbum, a faixa mescla jazz, MPB e rock progressivo. É construída sobre um violão ritmado que sustenta camadas sonoras dinâmicas, abrindo espaço para a interpretação intensa de Ibarra. É marcada por auras cinematográficas, mais uma vez com clima de mistério.

Já em “Retrato de Maria Lúcia”, a música é conduzida por violões e coros em uma abordagem mais introspectiva. Em sua versão da composição de Ítalo França, a sonoridade de Zé é melancólica e romântica, remetendo a um amor antigo e simples, quase rural. A faixa enfatiza o canto direto e emocional do artista. A voz de Ibarra se move entre registros graves e agudos, criando uma interpretação que subverte expectativas de gênero e propõe novas camadas em sua versão de “Da Menor Importância”. Composição de Maria Beraldo, a canção explora ambiguidade e desejo com arranjos sutis, pontuados por agogô e hi-hat  de Thomas Harres.

Em “Morena”, versão da canção de seu amigo Tom Veloso, Zé experimenta a mistura de influências dos anos oitenta com uma composição que claramente reflete outros cenários. Uma mistura de canto do sertão com Sade, ecoando nas montanhas de Minas Gerais.

“Olha eu te amo tanto / Olha o que eu sinto por ti é coisa séria”, versa Zé na parceria com Dora Morelenbaum (também ex-Bala Desejo). “Essa Confusão” é uma celebração da intensidade do amor. Com arranjo de cordas assinado por Jaques Morelenbaum, e arranjo de sopros por Ibarra e Jorge Continentino, o som ganha uma textura mais elaborada e romântica. Outra versão de Sophia Chablau, “Hexagrama 28” nas palavras dos próprios versos da música, “não tem nada a ver com amor”. Fala sobre vulnerabilidade e coragem, apresenta uma estrutura livre e experimental, com texturas de synths e camadas eletrônicas discretas. 

Zé Ibarra em boa companhia

O álbum é resultado da colaboração de músicos experientes e parceiros de longa data de Ibarra. A banda base conta com Lucas Nunes nos órgãos, Alberto Continentino no baixo, Daniel Conceição e Thomas Harres na bateria e percussão, Rodrigo Pacato nas percussões adicionais, Chico Lira no Fender Rhodes e Guilherme Lírio na guitarra. 

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