Crítica | 20 anos de “Is This It” dos Strokes

Para um disco de estreia,”Is This It” consolida, em primeira mão, a sonoridade clássica dos Strokes.

Já é aniversário de vinte anos do disco de estreia dos Strokes, “Is This It”, na Austrália. Isso porque o álbum, produzido por Gordon Raphael, foi lançado primeiro por lá, e depois passou por umas barras até ser lançado nos States, como falaremos adiante. Será que a banda, formada por cinco jovens novaiorquinos abastados, tinha noção do sucesso do que o álbum – e o próprio grupo – se atingiria? 

“Is This It” é um exemplo de um bom debut: dar aos ouvintes, possíveis fãs em algum momento de virada, algo que falta. Em 2001, algumas bandas tentaram “ressuscitar” o rock, gênero que não tinha acabado na época, tampouco nos dias atuais. The Strokes, sem ao menos tentar, conseguiu dar um ar de novidade às tentativas forçadas; essa aposta sem pretensões acabou moldando um dos maiores parâmetros existentes para o indie rock. 

É impossível não encontrar “Last Nite” ou “Someday”, principais hits do disco, em qualquer playlist de indie nos serviços de streaming. As composições de “Is This It” se tornaram, com o passar dos anos, um modelo a ser seguido até mesmo pela própria banda que, a cada disco, trazia referências dos trabalhos anteriores, de modo a consolidar um som bem “strokiano”. O som de um rock popular, à la garage, gravado em estúdios cujos tetos despencavam, não deixava de exibir a grana que os Strokes já tinham antes mesmo do primeiro disco. Prévio a qualquer número exagerado de vendas, a banda já havia gravado clipes dirigidos por Roman Coppola, filho de Francis Ford Coppola, conhecido diretor cinematográfico, como é o caso dos hits citados no início deste parágrafo. O clipe de “Someday”, inclusive, conta com a participação de ninguém mais, ninguém menos, que Slash: guitarrista da banda Guns N’ Roses, considerado o 65º melhor guitarrista de todos os tempos pela revista Rolling Stone

“Is This It” é definitivamente um divisor de águas entre o que era feito para salvar o rock e o que não o salvou, mas acabou por destrinchar o gênero em novos rumos. Apesar de não ser o melhor disco dos Strokes segundo a opinião desta que vos fala (alô, “Room On Fire”), entregar a jovens novaiorquinos sedentos por novidades o som que foi entregue fez com que a imprensa musical, demasiado forte em NYC, exportasse o som dos caras para o além-bolha. Afinal, por ser o primeiro trabalho dos Strokes, não era possível fazer comparações com os álbuns espetaculares (uns nem tanto, como é o caso de “Angles”) que viriam. A imprensa não sabia, mas a valorização de “Is This It” fora uma decisão acertada.

Retomando o que foi dito no começo dessa review, “Is This It” foi lançado, primeiramente, em terras não-estadunidenses. O disco só chegou, oficialmente, à terra do Tio Sam em outubro, um mês depois do atentado de 11 de setembro – que ocorreu, coincidentemente, na cidade natal dos Strokes. A nona faixa do álbum, “New York City Cops”, cuja sonoridade é destoante do resto de “Is This It”, criticava os policiais da metrópole dos EUA. Depois de tanto reboliço por lá, em meio ao reconhecimento do trabalho exaustivo que a polícia de Nova Iorque realizou para salvar tantas vítimas do atentado, a banda decidiu trocar a faixa por “When It Started” na versão estadunidense do disco. Dessa forma, a versão de “Is This It” dos EUA torna o disco mais coeso e reitera a tal sonoridade que qualquer ouvinte de Strokes é capaz de reconhecer.

Dez anos depois do lançamento de seu primogênito, a banda lançou o disco “Angles”. Em uma das faixas mais reproduzidas do álbum, o vocalista e líder dos Strokes, Julian Casablancas, canta, em “Under Cover of Darkness”, algo que soa como “todos estão cantando a mesma canção há dez anos”, em uma referência precisa a “Last Nite”. Se ainda restam dúvidas se a alusão é clara, Casablancas lança o microfone da mesma forma com que o lançou no clipe dirigido por Roman Coppola. Dá pra ter uma noção aqui embaixo, no minuto 2:05:

Para um disco de estreia, “Is This It” acerta em cheio no que os adolescentes – e, mais tarde, os adolescentes que cresceram – escutariam ao longo das próximas duas décadas. Trata-se de um álbum fluido, vívido e conservado, que mostra logo de cara a sonoridade característica dos Strokes, perpetuada em seus seis trabalhos seguintes.

Nota da autora: 95/100

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