Crítica | 5 anos do “ANTI” da Rihanna

Oitavo e até então último álbum lançado por Rihanna, o ANTI completou 5 anos e representou uma quebra de vários comportamentos e conceitos.

O ANTI representou uma faceta muito mais intimista da cantora, trazendo um repertório bem menos ligado ao pop comercial. Com elementos do rap, trap, hip-hop e R&B tradicionais, Rihanna apresentou um material – que como o próprio nome sugere – representa uma ruptura ou oposição ao que ela vinha fazendo até então.

No 8º álbum, a artista oferece composições que exprimem fragilidade, sensualidade e intimismo. Seu tom é completamente envolvente no sentido mais sombrio da exploração instrumental e vocal. Músicas que não conversam com a “simplicidade” dos trabalhos anteriores e que exigem dos ouvintes, uma conexão mais profunda do que a simples vontade de dançar.

Letras íntimas, polêmicas, que falam sobre sexo, drogas e sentimentos controversos estão presentes ao longo da carreira da cantora, mas nada como o que é apresentado no ANTI. O projeto pode parecer confuso aos ouvidos de quem acompanha Rihanna há anos e se apaixonou pelo pop desbocado da cantora, mas em seu todo é muito coerente com o tema de romper estruturas já estabelecidas.

Se opor a própria questão artística e industrial do segmento parece um objetivo claro na obra, até porque neste álbum, ela também é a produtora executiva. ‘Consideration‘ (parceria com a brilhante SZA) abre os trabalhos com uma letra que em diversos pontos pode evocar esse aspecto de romper com conceitos dá indústria que lhe foram impostos durante boa parte da carreira.

“Fazer as coisas à minha maneira, querido. Você deveria apenas me deixar. Por que você nunca vai me deixar crescer?”

Consideration, ANTI (2016)

Work‘ – que repete a parceria da cantora com Drake – é talvez a canção mais “radiofônica” do projeto, composta por um refrão mais repetitivo e uma batida dançante. ‘Love On The Brain‘ e ‘Kiss It Better‘ fazem parte das músicas que mais caíram no gosto do público, canções que trazem a mente sensualidade, paixão e elementos sonoros que remetem os anos 50 e 80. ‘Desperado‘ é uma canção forte no álbum, mais agressiva e intensa. Rihanna fala sobre um relacionamento perigoso, um amor que ela estaria disposta a investir e fugir junto.

Já em músicas como ‘Close To You‘ e ‘Never Ending‘, ela demonstra mais melancolia e delicadeza. De modo geral, cada faixa é um combo de sentimentos, desiguais musicalmente, mas alinhados ao momento da cantora.

Um álbum que exprime conceito, reconhecimento e identidade

O R8, como também foi chamado na época, vai ainda mais além no ponto de ser um álbum conceitual. Seu propósito é tão sonoro quanto visual, da capa aos ensaios relacionados ao álbum. Criada pelo artista Roy Nachum, a capa do cd foi apontada por Rihanna como a sua preferida dentre todas já desenvolvidas e demonstra o significado que a mesma quis expor com a obra: “Uma pessoa contrária a uma política, atividade ou ideia em particular”. Já na parte fotográfica, Rihanna trabalhou com o fotógrafo Paolo Roversi, nome forte no segmento e também diretor criativo da i-D Magazine. A parceria acabou gerando dois belíssimos ensaios para a promoção e para o encarte do disco.

Antes de mais nada, em uma indústria que cobra ainda mais das mulheres, o ANTI é a forma de Rihanna se posicionar como alguém que lutou para chegar em um patamar de excelência que a possibilita cantar o que quiser – algo que cantoras como Beyoncé e Lady Gaga também fizeram. Há de se apontar ainda, que o projeto pode dizer nas entrelinhas o porquê a cantora se afastou da música e decidiu ampliar seus horizontes profissionais. O black excellence é um dos conceitos mais comentados da atualidade e mesmo que pessoas negras o alcancem, não passam de ser vistas como medianas diante de brancos. Mostrar facetas que vão além do sucesso na indústria musical – na qual ela já se consolidou – é também uma forma de mostrar que ela e os seus, podem ter sucesso em absolutamente tudo que se propõe, já que não tem medo de se esforçar para tal.

O ANTI conta com parceiros de peso em sua produção, que reforçam inclusive as referências sonoras do cd, nomes como Timbaland, Travis Scott e Hit-Boy. Embora apresente uma certa disparidade sonora que cause estranheza nos amantes das farofas anteriores da cantora, o álbum não poderia ser mais coeso e representativo do que Rihanna é: dona de si, dona daquilo que produz e uma força não só como empresária, mas como mulher preta.  

Nota do autor: 87/100

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