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Crítica | It’s A Sin impacta ao falar da Aids nos anos 80

Minissérie inglesa que acompanha a pandemia da AIDS nos ano 80 é impactante e repleta de bons personagens

Um alienígena enfrentado vilões e viajando pelo espaço e pelo tempo. Uma sociedade distópica marcada pela pela ascensão da extrema-direita e pelo avanço frenético da tecnologia. Russel T. Davies já criou diversas realidades sendo a mente criativa por trás de Doctor Who (2005-atual) e de Years and Years (2019). Entretanto, nenhuma dessas narrativas soam tão cruéis como a realidade revistada em sua nova série, It’s a Sin, desenvolvida pela Red Production Company e exibida pela Channel 4 e pela HBO

Uma pandemia que parou o mundo

A AIDS assombrou a década de 80. O vírus da imunodeficiência humana, conhecido popularmente como HIV, ataca as estruturas de defesa do organismo e deixa o corpo humano vulnerável a várias doenças. Na época, a ausência de informações criou falsos paradigmas e associou a AIDS aos homossexuais. It’s a Sin acompanha o início do que viria a ser uma pandemia global, em um contexto marcado pela homofobia e pela falta de tratamentos eficazes contra este vírus.

O seriado acompanha um grupo de jovens gays que estão na capital inglesa em busca dos seus sonhos. O principal deles é Ritchie Tozer, interpretado pelo cantor Olly Alexander, que deixa a pequena ilha onde mora com a família conservadora para estudar direito, mas logo abandona a carreira jurídica para se dedicar ao teatro. Em Londres, Ritchie começa a viver uma realidade digna dos personagens de Queer As Folk – também roteirizada por Davies – e conhece Jill (Lydia West), Colin (Callum Scott Howells) e Roscoe (Omari Douglas). 

Morando juntos em uma república, o quarteto de protagonistas – acompanhados de bons personagens coadjuvantes – encaram os desafios da vida adulta enquanto acompanham, com receio, as primeiras notícias sobre a pandemia implacável do HIV. It’s a Sin não tem medo de mostrar a realidade cruel que assolou a época e não poupa seus personagens – e nem os espectadores – do sofrimento. As cenas densas, repletas de melancolia e de espanto, tornam It’s a Sin uma série arrebatadora. Entretanto, a narrativa não se esquece dos bons momentos do início da vida adulta e é repleta de musicais dançantes e cenas sensuais que abordam o despertar sexual dos personagens.

Uma série sobre dor e empatia

Não é spoiler dizer que alguns personagens do núcleo principal têm os seus corpos infectados e sua realidade alterada pelo HIV. Além da pandemia de uma doença até então sem tratamento, outros problemas afetam a realidade dos protagonistas, como a homofobia de uma Inglaterra conservadora e governada por Margaret Thatcher. Certamente, o personagem que mais sente este preconceito é Roscoe, um jovem negro e homossexual que é exilado pela família devido a sua sexualidade.

Assistir It’s a Sin é ver de perto a dor do outro. É improvável que o espectador não tenha empatia pelos personagens, que são caracterizados pelo o seu sofrimento. Não estou dizendo que a série é marcada pelo desconsolo gratuito, muito pelo contrário. Os protagonistas evoluem a cada desafio, se tornando pessoas mais fortes e complexas dentro de uma existência hostil, em que mal sobra tempo para respirar. O seriado apresenta uma diversidade grande de arquétipos em seus personagens, mas Jill Baxter talvez seja a mais complexa de todos eles. A atriz e melhor amiga do protagonista Ritchie, torna-se também uma amiga para o espectador. Ela encarna o sentimento do público ao estender a mão para cada um, em cada dificuldade.

Se Years and Years conquistou grandes elogios ao mostrar um pesadelo do futuro, It’s a Sin repete o sucesso ao mostrar um pesadelo do passado. Davies não tem no elenco de It’s a Sin nomes tão populares como teve em trabalhos anteriores, mas isso definitivamente não é um problema. Olly Alexander e Lydia West interpretam seus personagens sentindo na pele suas histórias e seus receios. Tecnicamente impecável, a série também leva para as telas um leque de referências culturais e sonoras dos anos 80, um prato cheio para os admiradores dos badalados produtos culturais daquela época.

It’s a Sin é uma série que, sem dúvidas, nos faz chorar. Mas essa não é a sua mensagem principal. A produção – que chega como candidata à uma das melhores de 2021 – mostra que, mesmo nos momentos mais sombrios, os sorrisos ainda são possíveis e que a melhor das escolhas é ter esperança num futuro melhor. São cinco episódios que afetam de forma contundente os espectadores. Uma história que nos apresenta a novos amigos, todos eles adeptos da filosofia de que o mais importante da vida é aproveitar o tempo que ainda nos resta.

It’s a Sin já teve os seus 5 episódios disponibilizados pela HBO em vários países. Está sendo exibida semanalmente pelo Channel 4 e deve chegar oficialmente no Brasil em junho, junto com a HBO Max.

Nota do autor: 100/100

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