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Crítica | Com fan service de qualidade, Mortal Kombat tropeça em todo o restante

Lançado simultaneamente nos cinemas americanos e na HBO Max, novo Mortal Kombat agrada pelo fan service, mas peca no resto e não diverte.

Desde Mortal Kombat: O Filme (1995) e de sua sequência Mortal Kombat 2: A Aniquilação, os fãs do game vem esperando outra produção baseada no clássico que faça jus a tudo que a franquia oferece: diversão e muito sangue.  Quando anunciada, a versão 2021 trouxe de volta toda essa excitação aos fãs, de forma ainda mais significativa, já que agora o longa teria uma classificação indicativa para maiores e contaria com recursos visuais que só a tecnologia do século XXI poderia oferecer.

Lançado nos cinemas americanos na última sexta-feira (23/04) Mortal Kombat (2021) chegou as telonas e a HBO Max simultaneamente e se consagrou como um sucesso de bilheteria nos EUA (no Brasil, a estreia está marcada para 13/05), estreando em 1º lugar nas paradas cinematográficas. Este ponto se dá principalmente pela grande expectativa dos fãs e pelas promessas apresentadas nos trailers e divulgações do filme.

No longa, acompanhamos o primeiro embate entre Sub-Zero (Joe Taslim) e Scorpion (Hiroyuki Sanada), ainda no Japão feudal, antes mesmo de assumirem estes nomes dos guerreiros do torneio sanguinário. Anos depois, Cole Young (Lewis Tan), um lutador de MMA de nenhum sucesso (que porventura é descendente de Scorpion) é atacado pelo temível e frio lutador, a partir descobre que é um dos escolhidos para participar de um grande torneio mortal para salvar a humanidade.

Com um roteiro escrito a cinco mãos (Greg Russo, Drew McWeeny, David Callaham, Sean Catherine Derek e Rebecca Swan), o maior problema do reboot é querer enfiar história onde não precisava existir, o que desencadeia inúmeros furos no filme e o transforma numa secessão de equívocos, tornando o longa algo quase chato de assistir. Cole Young nunca existiu no game e cria-lo complica ainda mais o filme, principalmente quando a história dele não se sustenta e o personagem não convence em nada como protagonista (dado o roteiro e até mesmo o desempenho de Lewis no papel).

O filme consegue acertar em algumas sequências de luta e principalmente na forma que conduz seu fan service visual, entregando figurinos muito fiéis e golpes nitidamente retirados do jogo (uma menção especial ao embate entre Kung Lao e Nitara). Porém, infelizmente é só nisso que ele brilha, as lutas de modo geral pecam nas coreografias e parecem apressadas, dando pouca chance aos fãs de curtir o que deveria ser o foco da produção: os combates.

Elenco fraco, perda de foco e ausência de diversão

Mortal Kombat é rico na quantidade de personagens e talvez isto, somado à criação de uma história paralela dificulta o desenvolvimento deles e faz o trabalho de boa parte do elenco parecer fraco, para não dizer de fato ruim. Em 1995, o longa homônimo possuía diversas falhas, mas seu elenco cumpriu muito bem a missão de dar vida aos combatentes do torneio, o que infelizmente na nova versão não acontece.

Ao Raiden do ator Tadanobu Asano, falta a imponência e a força de um Deus do trovão – característica que era muito latente no personagem de Christopher Lambert (salve as discussões de protagonismo oriental que não existiam em alta na época). O Shang Tsung de Cary-Hiroyuki Tagawa foi um marco de crueldade, mesmo para um filme de classificação indicativa simples, enquanto ao atual, interpretado Chin Hang, falta ódio.

Sonya Blade (Jessica McNamee) e Jax (Mehcad Brooks) são outro ponto que deixa a desejar, embora a atriz construa uma lutadora com um pouco mais de carisma e presença, juntos eles não funcionam como deveriam. O Liu Kang de Ludi Lin, não passa de um personagem chato, fraco e infantil, completamente diferente da versão de Robin Shou, que mesmo trazendo um personagem espiritualizado e muito fiel aos valores dos monges, ainda imprimia um guerreiro voraz, digno de ser tornar um temido dragão durante a luta.

Esse fato ocorre também no grupo de vilões, os guerreiros do Outworld são meros peões e não tem um pingo de protagonismo ou carisma para que se tornem bons elementos na produção (salve o caso de Sub-Zero). Mileena (Sisi Stringer), Nitara (Elissa Cadwell) e Kabal (Daniel Nelson) são usados apenas para como “trampolins” numa tentativa de tornar os protagonistas da terra mais interessantes e até nisso falham. O único personagem realmente divertido e cativante da produção, é Kano (Josh Lawson), a ele sobram boas piadas e tiradas muito atuais, além de momentos que arrancam bons risos. Lawson consegue roubar os holofotes sempre que está em cena e cativar quem assiste suas aparições de uma forma engraçada e irritante.

De modo geral o filme acerta nos visuais, na forma em que introduz algumas falas tiradas diretamente do jogo e em algumas lutas, isto sem falar nos momentos em que temos Sub-Zero e Scorpion em cena, neste caso os atores dão um show à parte e as cenas luta cumprem um pouco do papel que todas as outras deveriam exercer.  Tentando inventar demais, o filme infelizmente perde seu foco e esquece do principal: o torneio. As mortes estão lá e elas acontecem, mas em nada parecem estar ligadas a uma competição em que o principal objetivo é não só sobreviver, mas matar todos aqueles que entram no caminho da vitória.

Mortal Kombat tinha uma única missão: divertir com muita pancadaria, sangue e lutas coreografadas, mas ao tentar contar uma história maior, acabou dando um ‘fatality‘ em si mesmo. Pior que isso, mirando em uma ‘flawless victory‘, o reboot só conseguiu mesmo um ‘game over‘, que, se não for corrigido nos próximos volumes, vai acabar gerando um banho de frustrações ao invés do tão esperado banho de sangue.

Ainda não conhece a versão clássica de 1995? Assista na Apple TV+.

Nota do autor: 55/100

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