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Crítica | Feel Good encerra jornada com escrita poderosa em seu segundo ano

Com o mesmo número de episódios da temporada de estreia, “Feel Good” retorna para o seu fim tomando o máximo cuidado com as narrativas.
Feel Good

É curioso notar que algumas produções conseguem se exaltar e entregar um material ainda mais promissor e expressivo na sua segunda leva de episódios. Quando isso geralmente acontece, é porque a série em questão vai provavelmente se finalizar. Um caso muito exponencial pra essa situação é “Fleabag”, que entregou em sua temporada final um dos melhores momentos do entretenimento televiso dos últimos meses

E agora, dá pra colocar mais uma série nessa lista: “Feel Good“; que na sexta-feira passada (5), retornou para o seu fim com a segunda temporada de somente 6 episódios. É uma maratona extremamente curta (assim como o ano um), que dura aproximadamente quatro horas, mas que é capaz de fazer o telespectador entender que tudo que envolve essa produção não é feito despretensiosamente.

Os núcleos nessa temporada final ficam cada vez mais interessantes e conforme desabrocham para o seu final, o sentimento quanto a maneira que tudo é posto em tela é de satisfação pelo cuidado e intimidade, mesmo que ainda surjam entre as escaladas dos episódios várias dúvidas se Mae e George são bem uma para a outra (a resposta é óbvia). Dúvidas essas que não envolvem nada quanto a parte técnica da série, que é primorosa, mas sim a questão de humanidade mesmo. Em analisar o que as duas têm juntas. E é tudo feito com um apreço mínimo para nos fazer compreender que elas juntas possuem uma conexão única, e que se rompida, causa trovões. Porém, a real dor aqui é: não termos mais episódios.

Mas esse ponto, o de ser a temporada final, ergue um aliado essencial pra que a dor não se espalhe, que é a solução para todos os conflitos, onde todas as arestas (se é que houve alguma vez) são preenchidas. E é interessante ressaltar que desde o ano um, a série nunca entregou saltos arriscados, sempre trazendo arcos ponderados, mas que são refrescantes de acompanhar.

Nos novos episódios, Mae passa pela clínica de reabilitação e George tenta seguir a vida sem a pessoa que a define agora. Mesmo que ambas tentem disfarçar que tudo está bem e que é sim possível seguir em frente deixando o relacionamento de lado, elas acabam retomando ao que tem, mas agora, prezando (ou ao menos tentando) o que cada uma quer em na relação conjunta, ainda que nas entrelinhas. Tão complicado de entender, quanto ver a situação.

Situação essa que é muito bem traduzida pelas perfomances do duo protagonista, Mae Martin e Charlotte Ritchie. Não seria ousado alegar que Martin entrega um show a parte, desde o ano um. E aqui ela retorna ainda mais reluzente diante das nuances da personagem. É um papel contido, mas que solta palavras e oceanos por todos os lados. Sem contar que os coadjuvantes são posicionados muito bem, com cada um desempenhando funções que só ajudam a série a se elevar; Phill (Phill Burgers) continua trazendo ótimas doses de estranheza; Linda (Lisa Kudrow) e Malcolm (Adrian Lukis), os pais de Mae, são juntos uma adição excelente para o quadro do elenco, e Kudrow desempenha um papel frio no ponto.

Todos os problemas unem-se e Mae tem em mãos o seu diagnóstico: estresse pós-traumático, e devido a uma escrita poderosa, esse e todos os temas que rodeiam o fio principal, e que são imensamente espinhosos, ganham vida de maneira sublime e única, e sempre são tratados com um cuidado enorme que torna tudo ainda mais doloroso e feroz, mas também especifico.

E dentro dessa especificidade, “Feel Good” estabelece o seu melhor falando sobre assuntos como gênero com narrativas muito bem usadas, onde o caminho final é agridoce, mas que prova que quem está envolvido nesse projeto sabe as razões para essa decisão, e quem vê entende que foi a escolha certa.

Assista “Feel Good” na Netflix.

Nota do autor: 80/100

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