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Crítica | Faroeste futurista e feminino rega “Mato Seco em Chamas”

Premiado em festivais importantes, “Mato Seco em Chamas” mescla documentário e ficção em um fundo alá “Mad Max”

É um pouco difícil colocar “Mato Seco em Chamas“, longa de Adirley Queirós e Joana Pimenta, nas lentes do telescópio. Antes disso, a gente precisa ver o filme todo como o próprio aparelho, que examina e expõe com empenho e clareza problemas de toda uma sociedade “criada” para o filme com base na nossa própria convivência.

A primeira vista, a narrativa que se passa na Ceilândia, no Distrito Federal, e mostra as irmãs Chitarra e Léa, integrantes de uma gangue que refinam petróleo ilegal no quintal de um forte e vendem a motoqueiros, parece minimamente distópica pelos tons de texto que se tornam imagens, mas também, com uma pegada enorme na realidade.

Real e ficção se condensam como água e sal em uma narrativa que, a primeira vista, não contém medo algum, assim como quem aparece em cena. Primordialmente, as irmãs, que mais aparecem nos planos de excessiva duração, eximindo-se de momentos que rompem a conversa entre o agora e o agora do universo do longa.

A câmera de Queiróz e Pimenta assumem o papel em nos fazer testemunhar ao exprimir o existente nas vidas das personagens, sempre usando do básico com uma sensibilidade automática; não é preciso de muito para trazer a tona o ordinário com tanto apreço.

“Mato Seco em Chamas” concentra ficção em realidade como algo talvez nunca visto antes no cinema

Acompanhar como um terceiro olho as irmãs e o resto da gangue apenas existindo, conversando sobre o dia a dia, a política que atrasa a região e deixa aqueles que muito precisam ser escutados de lado, sexo e de um jeito ou de outro e poder, é uma condição extremamente somativa ao escopo da obra, pois mescla pessoas reais encenando suas realidades com o afinco pelo natural — o primordial para um documentário.

Crédito: Instituto Moreira Salles

Se não fosse por uma duração tão fora do normal que bloca diferentes situações por um imenso período (como um culto, que roda na tela por longos minutos ou uma manifestação pró ex-presidente), a cinematografia das Gasolineiras de Quebradas poderia ter um impacto um pouco maior e menos abrasivo. Em um certo momento falta a imersão automática, que deveria assumir o palco sozinha.

Mato Seco em Chamas” além de não possuir (e se orgulhar disso) uma classificação, o filme combina documentário e elementos do faroeste com ficção-científica, e unifica histórias que aparentemente não se misturariam de acordo com pensamentos de cabeças pequenas. A conta final expõe uma obra que molda com esperteza e realidade usando de um tipo de ficção que não precisa beber muito para ser tornar real e radical.

70/100

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