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Crítica | Orville Peck, “Stampede: Vol. 1”

Ser um artista country e começar um álbum sobre amor entre dois homens não é algo tão comum, ainda mais junto de uma lenda do gênero musical. Foi o que Daniel Pitout, ou Orville Peck, como é conhecido artisticamente fez em Stampede. O cantor mascarado, de 36 anos, decidiu lançar dessa forma o seu terceiro álbum de estúdio, completamente colaborativo. Isso é excelente e pega o público de surpresa, especialmente quem não o conhece muito bem.

Orville evoluiu bastante artisticamente no projeto, o que é possível notar já no Stampede: Vol. 1, EP lançado com sete faixas do álbum. O músico abre a era Stampede, “rodeio” em português, com um cover de “Cowboys Are Frequently, Secretly Fond of Each Other”, satirizando os estereótipos sobre cowboys e homens gays. “O que você achou que todas aquelas selas e botas significavam?”, cantam Orville e Willie juntos.

A partir desta faixa, podemos aguardar o inesperado ao longo de Stampede com parcerias musicais que realmente deram certo, como “How Far Will We Take It?” com Noah Cyrus. Orville não tinha como errar ao convidar uma artista que, apesar de cantar majoritariamente pop contemporâneo, tem raízes country. “Tentei te amar, mas não consegui romper essa barreira / Não consigo me acostumar a vida sem você”, a combinação dos vocais nos faz sentir na pele a dor de um relacionamento frustrado, sem necessariamente ter passado pela situação.

Orville também te leva para dar uma volta no meio da noite com a eletrizante “Midnight Ride”, com produção de Diplo e vocais de Kylie Minogue. A faixa, que definitivamente tem um duplo sentido, nos empolga do início ao fim, especialmente na ponte. Nesse momento, o instrumental desacelera, enquanto Orville e Kylie dialogam sobre a promessa de um amor eterno. A pausa e as falas prendem a nossa atenção e, ao mesmo tempo, nos deixam aguardando ansiosamente pelo retorno do refrão. 

A capa de arte do single tem o mesmo cenário da capa de Stampede, porém, o cenário é à noite e sem as pessoas presentes. Essa coincidência instiga reflexões. Onde estão as pessoas? De quem estão acompanhadas? O que elas estão fazendo? Essas dúvidas encaixam com a letra da música, que trata de uma aventura cheia de drama, romance e adrenalina. Três elementos que Orville, Diplo e Kylie conseguem despertar perfeitamente bem nos ouvintes. 

A revelação do álbum definitivamente é “The Hurtin’ Kind” com Midland. Com uma melodia que toca no fundo do coração, bastante similar ao estilo que o trio country, formado por Mark Wystrach, Jess Carson e Cameron Duddy, estão acostumados. A faixa poderia ser facilmente uma música do Midland, mas com Orville, se torna ainda mais envolvente por causa dos seus vocais graves.“Encontre-me onde ficam os corações partidos / Deita aqui, conta umas mentiras, baby, não me importo / Eu não sou de ficar sofrendo”, essa é mais uma canção de decepção amorosa que os artistas envolvidos acertam em cheio e nem tinham chance de errar.

Claro que há outras excelentes parcerias musicais no álbum, como “Saturday Night’s Alright (For Fighting)” com a lenda britânica Elton John e “Where Are We Now?” com Mickey Guyton. Além de outras com Teddy Swims e T.J. Osborne. Entretanto, os artistas menos conhecidos não acrescentaram tanto ao projeto, pelo menos não em comparação aos demais. O projeto ainda traz Margo Prince, Beck, Molly Tuttle, Golden Highway, Waylon Payne e Fancy Hagood, que não necessariamente passam despercebidos, mas não causam o mesmo impacto como os outros exemplos já citados, tornando seus momentos mornos e apáticos.

Apesar disso, a cantora italiana e mexicana Bu Cuáron surpreendeu e muito na canção “Miénteme”, em que pudemos nos maravilhar ao ouvir Orville Peck, que é sul africano, cantando em espanhol. E melhor ainda, com o gênero regional mexicano, que combina bastante com o country americano por causa das similaridades sonoras dos instrumentos musicais. Não falamos que Stampede é uma jornada inesperada? Então, a canção que combina inglês e espanhol está, precisamente, bem na metade do álbum e por essa colaboração intercultural ninguém esperava.

Em Stampede, Orvile Peck prova sua versatilidade artística por colaborar com diversos artistas dos mais variados estilos musicais e ainda ter produzido a maioria das músicas. O terceiro álbum do artista country pode ser o que estava faltando para sua carreira evoluir ainda mais. Como consequência, os resultados são positivos tendo em vista que Stampede tem alcançado um sucesso comercial nas paradas musicais muito superior ao seus dois primeiros álbuns, além do reconhecimento que sua arte tem recebido por outros artistas da indústria.

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