A morte de David Lynch foi um dos maiores baques para a indústria cinematográfica em 2025. Contando com diversos fãs, uma das obras mais cultuadas do diretor, “Mulholland Drive – Cidade dos Sonhos” retornou aos cinemas brasileiros em 17 de abril, em uma versão restaurada em 4K.
Afirmar que Lynch é um dos maiores e mais relevantes diretores da segunda metade do século XX não é nenhum exagero. Sua obra transpassa as décadas e não perde seu charme. Isso porque, além de não dialogar somente com seu tempo, ele ainda explora o surrealismo para contar uma história que vai além da realidade de seus personagens.
É com este fio condutor que o público é apresentado a Betty (Naomi Watts), uma jovem que anseia em ser uma atriz de renome, que chega em Los Angeles para viver seu grande sonho. Tudo parece ser um conto de fadas, até que em sua nova casa se depara com Rita (Laura Haring) — uma garota com amnésia, ocasionada por um acidente de carro. A partir disso, Lynch traça uma jornada que atenua-se entre o “real” e o “sonho”.
Esta linha tênue torna-se ainda mais evidente e imersiva quando se coloca a cidade como personagem. Los Angeles, mais especificamente Hollywood, representa um palco para o mundo, onde filmes de maiores investimentos são criados e a fama é ofertada para suas estrelas. Paralelamente, ela é capaz de decidir quem terá o sucesso, criando uma indústria manipulada, como é mostrado no longa. Mas, no sonho de Betty, ou melhor, de Diane, como será revelado ao longo do filme, o distrito de LA é um conto de fadas perfeito para a personagem de Naomi Watts.
Falando na atriz, ela é uma das grandes responsáveis por prender o espectador ao filme. Com uma atuação que vai aos extremos da alegria até a loucura, Watts entrega um ato memorável em sua carreira que, certamente, torna “Mulholland Drive — Cidade dos Sonhos” um clássico do cinema. Além de Naomi Watts, Linda Haring também traz uma interpretação memorável — sua Rita e Camilla exprimem uma sensualidade e um mistério essenciais para a sua construção.
Obviamente, não dá para esquecer da fotografia marcante do filme: com cores vivas e ângulos que representam tanto a utopia, quanto o horror presentes no sonhos, é notável a marca do diretor já vista em “Veludo Azul”, que é o choque entre a beleza e o repulsivo. Isto garante algumas imagens inesquecíveis e extremamente bonitas.
Mas afinal, vale a pena rever “Mulholland Drive — Cidade dos Sonhos” no cinema?
Como dito anteriormente, a obra de David Lynch é um marco do cinema mundial. Ao optar por uma linguagem tão original, em que explora o surreal e o sobrenatural para representar as emoções humanas, Lynch praticamente criou um gênero para si, pois nada se compara ao universo que o diretor criou em seus filmes e sua série, Twin Peaks. “Mulholland Drive” sendo um de seus maiores sucessos, não poderia ficar sem todas essas características e mesmo com 24 anos desde seu lançamento, o filme segue com um frescor e uma qualidade que o faz envelhecer cada vez melhor.