Monkey Business, do Black Eyed Peas, é a captura do exagero dos anos 2000

Chamar Monkey Business de camp seria um elogio — a palavra mais adequada para descrever o disco é “kitsch”

Em 2005, o The Black Eyed Peas abria alas para Monkey Business, seu quarto álbum de estúdio, passar. De um fenômeno global para a celebração de seus vinte anos de lançamento, o disco é lembrado como parte da discografia do grupo, para o bem e para o mal, e como um retrato sonoro de uma era marcada por exageros, experimentações digitais em meio ao surgimento de novas tecnologias e a busca desenfreada por hits. E a banda conseguiu tudo isso, de modo que, após uma apresentação meteórica de Lady Gaga no Todo Mundo No Rio, o quarteto é um dos mais desejados para subir ao palco em Copacabana. Com a segunda formação do grupo, claro, com a nossa querida M.I.L.F. Fergie. 

Sucessor do também bem-sucedido Elephunk (2003), Monkey Business representou a consolidação da nova fase do grupo, agora com Fergie no centro das atenções. O groove ficou um pouco de lado, os BPMs cresceram e “Pump It”, “Don’t Lie” e “My Humps” viraram a coqueluche das rádios. O hip hop radiofônico que marcou o início do BEP permaneceu, porém passou a contar com a presença do pop eletrônico de pista (que elevaria o grupo a níveis estratosféricos alguns anos depois), com pitadas de “phunk” retrô e colagens culturais que, à época, pareciam fresquinhas.

Monkey Business e seus hits

Com faixas como “Don’t Phunk with My Heart”, “Pump It” e “My Humps”, o disco foi feito para as paradas de sucesso e para não sair da cabeça do ouvinte. E assim se fez. Sua estética sonora grita anos 2000: batidas pulsantes, refrões repetitivos e samples ousados (de Dick Dale a Lisa Lisa and Cult Jam). “My Humps”, em especial, se tornou um caso à parte: simultaneamente um hit avassalador e alvo de críticas pela letra repetitiva e sexualizada ao extremo, virou um marco do kitsch pop.

Hoje, é difícil escutar Monkey Business sem notar o quanto ele envelheceu como um artefato cultural. Não é só a sonoridade, que em muitos momentos soa datada, mas a própria atitude do álbum: o humor forçado, a apropriação estética de diversas culturas sem muita profundidade (Fergie que o diga) e a obsessão com o “cool” em sua forma mais superficial.

O que vale é a intenção?

Produzido pelo amado e icônico Will.i.am, o disco tem um acabamento técnico invejável. A produção é limpa, vibrante e exala competência. Acontece que, revisando as faixas com ouvidos de 2025, a falta de coesão temática e artística fica evidente. Monkey Business quer ser tudo ao mesmo tempo: hip hop, pop, dance, retrô, global. Quem faz um pouco de tudo acaba não fazendo nada. Ainda assim, há méritos. A parceria com James Brown em “They Don’t Want Music” é um momento de respeito às raízes do funk. “My Style”, com Justin Timberlake, deu ainda mais visibilidade ao disco. E quem poderia imaginar uma composição do The Black Eyed Peas com Jack Johnson, como em “Gone Going”

Entre nostalgia e ruído

Duas décadas depois, Monkey Business ocupa um lugar curioso na memória coletiva. Há quem diga que é a trilha sonora de adolescências e pistas de dança. Para outros, é o símbolo de uma era em que o pop sacrificou substância em nome da viralidade (antes mesmo da era do TikTok!). Seja como for, o disco conseguiu o que muitos artistas almejam: deixou uma marca.Há coisas que, com o passar do tempo, tornam-se camp — ARTPOP que o diga. No entanto, este não é o caso. Monkey Business sequer chegou a ser camp. Agradou o público, teve alguns hits, mas nada além disso. É um dos discos menos memoráveis do BEP, embora tenha uma das capas mais marrentas e extravagantes do grupo.  Não é uma obra-prima, mas é um documento sonoro — barulhento, exagerado e inegavelmente memorável — de um tempo em que tudo era too much. E talvez por isso mesmo, ele ainda nos fascine. Afinal, o “negócio de macaco” era justamente esse: entreter a qualquer custo, como um macaquinho de cerâmica que vive de bater pratinhos. E como entreteve. Quem não gostaria de cantar todas as faixas do disco a plenos pulmões em Copacabana?

60/100

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