Imagine um período em que a ciência evoluiu tanto, que uma cirurgia vira uma arte performática e os humanos são capazes de naturalmente fazerem mutações em seus corpos – esse é o cenário que rege a distopia de David Cronenberg, Crimes do Futuro (Crimes of the Future, no título original), estrelado por Viggo Mortensen, Lea Seydoux e Kristen Stewart, que chega aos cinemas e streaming em julho. A convite da MUBI e da O2 Filmes assistimos o filme em primeira mão.
Crimes do Futuro traz Caprice (Lea Seydoux) e Saul Tenser (Viggo Mortensen), dois artistas performáticos. Saul possui uma síndrome que o faz produzir órgãos em excesso, inclusive, criando novos. Ele os retira como forma de arte, conseguindo assim, muito admiradores, dentre eles, Timlin (Kristen Stewart) – uma cientista que mapeia esses órgãos.
Trazendo a temática do transumanismo e do body horror, seus personagens são quase como “Frankenstein às avessas”. Não chega a ser um tema novo na arte e na filosofia, mas sua roupagem é fascinante, pois apesar do abismo entre a realidade e a ficção, tudo ali se assemelha de maneira assustadora com o mundo em que vivemos. Muito daaquela história parece possível em uma sociedade do século XXI, e é nessa fábula surreaista que se concentra o terror da história.
O filme mantém as fortes características das obras de Cronenberg, como por exemplo, a cirurgia plástica ter a mesma relação sexual que uma batida de carro em Crash – Estranhos Prazeres de 1996. Além das imagens fortes, como o que se via em A Mosca de 1986, explorando bem o body horror, isso graças aos seus excelentes efeitos visuais, que são tão gráficos e realistas, que chegam a ser aflitivos em diversos momentos.
Contudo, em alguns retalhos parece que a história anda em círculos sem dizer muito sobre o que acontece, sua conclusão deixa muitas dúvidas em aberto e a sensação que fica é que faltam mais alguns minutos para o fim mesmo depois de ter acabado. Muito provavelmente, essa sensação de algo inacabado seja porquê o filme segue uma linha performática não tanto linear – algo feito propositalmente para incomodar e instigar discussões. Em Crimes do Futuro os personagens são apenas um meio de trazer o debate, linhas de rascunho de algo em oconstrução. Isto não impede que haja um estranhamento com um fim repleto de pontas soltas.
Apesar disso, vale muito a pena assitir ao longa. É uma ótima experiência, principalmente por trazer um assunto tão rico em pedaços de assunto dos quais renderiam ótimos debates, com uma direção cultuada de David Cronenberg e ótimas atuações, principalmente de Leah Seyoux e Viggo Mortensen, que em toda sua performance trazem o fascínio e a ojeriza desses corpos.
Crimes do Futuro estará nos cinemas a partir do dia 14 de julho e chegará ao MUBI no dia 29 de julho através de uma parceria com a O2 Filmes.