Crítica | Charli XCX, “CRASH”

Em projeto um pouco básico demais para os moldes de XCX, em alguns momentos o novo disco da artista aperta até que forte no acelerador

Por alguma razão, duas artistas decidiram se aventurar no mesmo dia em uma narrativa visual dominada pela sensualidade e o mundo da velocidade. De um lado temos Rosalía com o “MOTOMAMI”, e do outro, Charli XCX promovendo o renascer de uma persona através de uma batida de carro com o “CRASH”. E através desse novo impacto, a artista quer agora nos fazer comprometer com uma sonoridade que faz muito jus ao que ela sempre promoveu. Mas ao mesmo tempo, a resposta para a proposta às vezes não esquenta muito o motor.

Imparável é sim a melhor palavra para descrever o que a artista é capaz de fazer e proporcionar aos fãs com seus trabalhos musicais. Antes desse disco, a britânica possuia na tabela 5 outros projetos incríveis que parecem seguir uma linha de tempo própria. Ela dentro de suas próprias criações passou a formalizar um clímax que nunca precisou de uma quebra de ritmo, já que trabalho após trabalho tínhamos em mãos resultados imponentes e deliciosos de se prestigiar.

Com esse novo álbum, tal idealização ainda persiste, mas se fermenta por decisões sonoras muito básicas. Para começar abordando esse temperamento do registro de estúdio, pode-se citar o caso de “Yuck”, que funciona para ser uma música regular e só, mesmo que ainda use termos freshs e que não enrolam em criar uma conexão.

Já em outra ponta, “Lightning“, a melhor criação daqui, é instalada entre a instável dissociação que o projeto tem, e isso funciona da mesma forma com “Baby”; uma das peças mais envolventes dentro de toda a sonoridade que Charli XCX poderia trazer a tona nesse novo compilado. A guitarra inserida em momentos chaves durante os menos de três minutos é um acalanto aos ouvidos. Tudo se mistura e cria uma forma deliciosa de se moldar com passos soltos na pista ou apenas o ato de ouvir e manter-se completamente encantado. “Move Me”, canção inédita na tracklist, também assume essa posição de magicidade pela instrumentação e formação, é como se tivesse saído diretamente da mixtape “Number 1 Angel”, mas usando as conformidades que são mostradas nessa atual fase. “Twice” também merece ser mencionada, mas como algo totalmente novo; possui uma ótima produção e serve como um ato final muito bom.

Essa aura de nostalgia também é levantada na faixa título, a usual “bagunça” que XCX tem em sua construção é feita de maneira ímpar, parecendo apenas como um tornado que chega com vontade de levar tudo, e nós, ouvintes, nos deixamos entrar. Esse evento natural por alguma razão não consegue manter-se durante toda a audição do “CRASH”; dentro do seu miolo, o disco perde algo, não o fôlego, mas um pouco da energia mais autêntica da artista.

Quem infelizmente sente muito isso é uma parcela do projeto, entre elas a mais genérica desse registro, a parceria com as fantásticas Caroline Polachek e Christine and the Queens se assemelha a um carro largado em meio a um rio, onde em um dado momento, ele só afunda e some. Até “Beg For You” sofre um pouco disso, infelizmente, o som com sample da icônica summer eltrohit “Cry For You”, de September, é um pouco mal erguida e simples demais, não se fundindo bem o suficiente para viver bastante; mas vale a pena em alguma contagem de tempo (e também pela ilustre Rina Sawayama).

Resolvendo a conta final, em si, seria ótimo se todas as peças vistas aqui tentassem ao pé da letra oferecer o turbilhão que uma corrida veloz possa ter, mas as vezes elas só parece com algo instável, não sabendo onde fincar as bandeiras de linha de chegada (não que algo precise de fato possuir um final e um único propósito, é claro). Porém, XCX é uma artista tão versátil e cativa que mesmo em um projeto morno, ela não precisa provocar e forçar muito para entregar uma obra boa, ela tem todas as vertentes do talento em mãos, só que especificamente aqui faltou acelerar um pouco mais.

Nota: 65/100

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