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Crítica | Kendrick Lamar, “GNX”

Novo disco de Kendrick é por todos os lados uma densidade de tons.

É ótimo ver um artista completamente disposto a ir mais e mais longe; é ainda melhor encontrar isso numa figura já tida como suprema; sem medo algum de ver o que pode acontecer. Ao lançar de surpresa ontem (22) o “GNX“, Kendrick Lamar confirma com obviedade como é possível tornar da música uma força viva, sempre criada pela mutação de tons.

O acontecimento pegou os fãs de surpresa e pelo susto, os sons vistos nesse sexto álbum de estúdio do rapper, do começo ao fim, criam uma imersa nova realidade latente de durarem por certo tempo na discografia de Kendrick, até que algo novo surja.

Talvez a maior novidade dentro do novo álbum seja o envolvimento de Jack Antonoff diante da produção executiva; sua diagramação acende por um bom tempo o entorno das faixas. Há uma execução ótima e bem adaptada ao que o rapper já faz, claro que a pressão é diferente, mas definitivamente não menos boa. Ele foi muito a pessoa certa para estar aqui.

Algumas sobreposições de sons parecem consumir o fato de soar como algo que já vimos Kendrick fazer. Não se sabe até que ponto isso poderia ser um tipo de tese para induzir o ouvinte a encarar o rapper dentro disso tudo como um projeto não pensando (o que é difícil acreditar); de todo modo, o resultado é estonteante.

De fato, a intensidade veste-se de modo diferente aqui. O disco em suas principais camadas técnicas west coast não se parece totalmente com isso ou aquilo do compositor. A harmonia ligada aqui acende faróis baixos, resultados do gênero relaxante, mas tendo como mais importante o tamanho da luz.

Fragmentos maravilhosos como “man at the garden” (que ganha cor numa atmosfera de fundo solene) e “tv off” (uma das melhores do álbum e também a mais revolta) sincronizam os polos do “GNX” em uma só área. É fácil dizer após chegar na esplendorosa finalização com “gloria“, feat. SZA (também vista na suave “luther“), que a equação da completude é fenomenal.

Por toda o caminhar de uma trama técnica west coast que elucida com sagacidade o envolvimento de pessoas vibrantes no interior do disco, o ouvinte encara potências sonoras dignas de Lamar; não é ele em sua excelência suprema, mas definitivamente nem sequer encosta no instável e no não-sofisticado.

Mesmo que no primeiro plano o disco troque a sintonia da aura técnica diferente da vista no projeto anterior (o “Mr. Morale & The Big Steppers”), neste há uma densidade corrompida por um dinamismo completamente modesto. Como se os conceitos, instrumentos, melodias e narrativas conversassem apenas, e unicamente, para gerar um único estado de espírito.

Considerando tudo que Kendrick já colocou nas pistas, encarar o rapper nesses “novos” tons, principalmente quanto a produção, só o evoca mais uma vez como um apurado artista que sabe onde se colocar. Isso, é claro, fica evidente não pela ousadia, mas sim por todos os riquíssimos movimentos que o projeto faz.

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