Foi uma jornada tortuosa até aqui. Não só para Percy enfrentando os perigos que envolvem o seu nome e o Olimpo, como também a execução dessa aventura dentro das telas. Isso muda agora por completo com a adaptação em formato longo pela Disney+. O semideus finalmente encontrou um lar para sentir-se confortável.
Quando anunciada a nova casa do filho de Poseidon, surgiu um sentimento de, finalmente, glória. Quem seria responsável por dar vida a uma nova adaptação do herói parecia entender a responsabilidade. Ainda que a produção desenvolvida para os cinemas deixou tanto a desejar, agora, é fugaz e inteligente deixar esse passado de lado.
A nova resolução de mundo para uma série de 8 episódios torna-se prazerosa para os fãs da saga, já que as escolhas do novo formato são feitas com um objetivo muito maior do que dar vida ao 1º livro: o time da produção quer contar uma história e abrir as portas para o Riodanverso.
Indo além do presente, ‘Percy Jackson e os Olimpianos’ já tenta contar sobre os personagens que serão apresentados no futuro, sendo inseridos para causar empolgação nos fãs. O vislumbre do Pégaso negro Blackjack, as menções sutis aos irmãos Di Angelo (e uma possível “aparição” sonora de um deles), são só algumas das dicas preciosas presentes.
Mas antes de tentar inserir mais futuro no corpo do programa, a série consegue entregar (a nível de narrativa e composição de mundo) quase tudo que foi pedido por anos. E enxergando a série como uma obra que não vem diretamente de um material base, ‘Percy Jackson e os Olimpianos’ é algo divertido e leve que Disney precisava a um tempo.
Nova aposta do Disney+ cria justiça, mas aposta numa calmaria um pouco preocupante
O maior acerto fica por conta do trio principal. Walker Scobell é uma descoberta, o jovem ator brilha como Percy, mostrando aos poucos o ar irônico, desafiador, corajoso e divertido do personagem a cada episódio. Leah Jeffris entrega com maestria toda inteligência, sagacidade e até o sentimento de arrependimento que Annabeth Chase demonstra nos livros. Enquanto Aryan Simhadri é apaixonante como Grover Underwood. O ator transmite com apego a sensibilidade, carisma, senso de proteção e afetividade do sátiro.
A boa conjuntura deles se liga bem com o desenvolvimento da relação entre os personagens. Vezes ou outra falta sim uma dosagem de amizade, havendo desconfianças e alguns desalinhamentos. Porém, se constrói episódio a episódio de um jeito que emociona, cativa e lembra muito o material de origem.
O ship Percabeth se constrói com uma sutileza linda, mas também de forma muito clara. Cada detalhe importa e é construído para importar. Seja com o uso dos apelidos “cabeça de alga” e “sabidinha”, a relação da dupla é delicada como precisa ser, já que (importante!) estamos falando de uma construção de romantismo entre pré-adolescentes; o tom de inocência é alocado com cuidado e atenção.
A maior missão da série era tentar fazer jus à obra de Riordan sem que os filmes interligassem à imagem atual e causar nos fãs o nível de excitação necessário, o que podemos confirmar que foi feito com êxito e isso se deve ao próprio autor dos livros.
O envolvimento direto do autor na produção é sem dúvidas o maior trunfo desta primeira temporada. É nítido em cada episódio como ele brinca com sua própria criação a cada alteração que coloca no roteiro.
Essas mudanças estão presentes desde o momento 1 – a escolha do elenco. Optar por um elenco que foge do imaginário dos fãs e da escolha anterior para os longas, mostra ao público a vontade dos produtores da série em entregar um material novo e que se distancie daquela versão.
O criador desse universo não só brinca com sua obra, fazendo mudanças que possibilitam a introdução das tramas futuras, mas corrige algumas construções que não eram tão justas na obra original, como o caso do mito da Medusa no 3º episódio.
Deixando um pouco de lado todos os pontos de controle que envolvem a execução do livro e focando no sentido técnico e mais importante para uma série de TV, talvez seja aí que ‘Percy Jackson e Os Olimpianos’ mais mostre carência.
A falta de ritmo constante que deveria ser adicionada episódio a episódio com um fio condutor que deixe o telespectador completamente aficionado é bem faltante. Parece não haver um clímax contínuo que faz o coração da série crescer.
Esse apoio em gerar grandeza parece ser exclusivamente único da proposta de tornar o mundo do programa sólido e quase que artificial demais; tornando a jornada do herói um tanto calma. Isso sem dúvida fica grave quando se chega no capítulo final e o frenesi de conclusão é extremamente mínimo no que é posto em tela.
Sem dúvida, isso causa uma aflição na alma de ‘Percy Jackson e Os Olimpianos’, fazendo com que o futuro seja gracioso para quem acompanha a série de modo literária e conseguiu finalmente a justiça. Mas pela visão de quem assiste unicamente pela ideia de começar um programa novo e autêntico, há, sim, falhas um tanto graves aqui.
De todos os modos possíveis, quem conhece os livros conseguiu sentir quase que nitidamente a mesma empolgação vivida a cada página lida e quem ainda não leu, encontra fortes motivos para adentrar no universo de Rick Riordan.