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Crítica | Rina Sawayama, “Hold The Girl”

Com “Hold The Girl”, Rina Sawayama retrocede na originalidade e frescor que a fez tão querida, mas continua firme graças a uma narrativa caprichada

Felizes são aqueles que tiveram o prazer de acompanhar o surgimento de Rina Sawayama e seguem a observando até hoje, isso porque ela é uma das artistas mais interessantes de sua geração.

Conseguir visibilidade entre uma produção maçante de cantores pop não é fácil. Se destacar e ainda assim prover uma qualidade acima da média; menos ainda. Mas estar em ascensão também pode gerar deslizes, já que qualquer tropeço — mesmo que facilmente eclipsado por outros momentos de auge — também tem o poder de marcar uma carreira.

A evolução vibrante que ocorreu durante 2017 e 2020 é um dos melhores exemplos de como alguém pode mostrar a que veio, lançar um dos melhores EPs dos últimos anos seguido de um dos melhores debuts não é nada fácil. Para os fãs sorridentes que já demonstravam apoio desde ‘Cyber Stockholm Syndrome’, ou muito antes, essa escalada já era dentro do esperado, pois a maturidade e visão da cantora já eram visíveis. Essa mesma maturidade também teve seus momentos de desconfiança, após alguns lançamentos que soavam tão genéricos que pareciam saídos de um catálogo datado de demos escritas para cantores classe C.

A maior riqueza de Rina Sawayama é a sua história. Falar sobre o quão interessante é sua origem japonesa e britânica já está batido, e em alguns momentos é até bom se lembrar que (mesmo sendo um traço tão importante) não é só isso que a define. Mas quando essa exploração vem por parte da cantora, é possível sentir que ela mesma está abrindo um baú com milhares de emoções, frustrações, felicidades e anseios. Esse turbilhão de sentimentos presentes em sua cabeça é de onde ela vai moldando exatamente o que quer dizer. Hold The Girl é uma extensão dessa visão, e mesmo que em alguns momentos acabe se tornando um pouco embaçada, há um pouco de força para fazer com que os períodos mais nítidos consigam transmitir a mensagem que desejam.

Rina Sawayama, “Hold The Girl”

Entender a cabeça da cantora sobre como ela queria que seu disco soasse é uma tarefa um pouco árdua, e em relação a gêneros simplesmente há muita coisa acontecendo em pouco tempo. Quando ‘This Hell’ foi apresentada ao público, era notável que estávamos lidando com a famosa estratégia da música mais comercial abrir os trabalhos, mas até o apelo visual forte na faixa acabou confundindo mais do que solucionando. Rina diz ter sido influenciada pela música country, mas não parece corajosa o bastante para ir além de uma pitada quase escondida e acaba caindo no pop mais ordinário possível.

Esse mesmo subaproveitamento de sonoridades também acontece em ‘Frankenstein’, onde a cantora pode ter levado o nome da canção muito ao pé da letra, pois a sensação é de dar play em uma playlist com centenas de músicas diferentes onde nada se conecta. O que ambas as canções têm em comum são as produções do renomado Paul Epworth, provando que nem sempre quando duas mentes brilhantes se encontram o resultado é algo agradável.

Não há o que reclamar das composições, logo em sua introdução com ‘Minor Feelings’ é possível imaginá-la como uma irmã mais nova da sensacional ‘Dynasty’ do disco anterior. A abertura é fulminante e deixa um gosto de quero mais que faz o ouvinte desejar que os dois minutos cantados fossem quatro, ou até cinco. A influência da banda irlandesa The Corrs em ‘Catch Me In The Air’ é tão bem executada que parece uma homenagem, e perceber dois lados de uma história sendo apresentados é o que deixa o julgamento justo. Rina Sawayama e sua mãe tiveram períodos de conflitos pesados, e mesmo que hoje em dia a paz esteja selada é simbólico eternizar isso em uma canção sobre uma relação familiar genuína.

Neste álbum não há momento algum que abale as estruturas, o que é o maior balde de água fria que ele joga no público, visto que no projeto anterior é possível citar vários de cabeça. Curiosamente, em seu propósito ele não se perde, o que causa uma dúvida paradoxal; se ele vai direto ao ponto e é tão claro no que se propõe como consegue soar tão perdido em si mesmo?

A resposta disso pode estar naquilo que a cantora não tem total controle: suas produções. Rina e os responsáveis por adicionar batidas as suas letras não parecem falar a mesma língua. É possível ouvir influências de sonoridades como drum n’ Bass e dance mas a falta de conectividade entre todos os estilos parece fadada ao insucesso. É até estranho pensar que os momentos mais coesos surgem das faixas mais simples, como ‘Hurricanes’ e ‘Phantom’.

Hold The Girl sofre com um retrocesso na originalidade e frescor que o projeto anterior apresentava, mas ainda consegue se segurar em uma narrativa caprichada. Rina Sawayama tem sorte de ser um ícone tão interessante, pois é através da forma que conta sobre sua vida que ela é capaz de guiar com transparência esse tour que faz tão bem quando é a hora de falar sobre si mesma.

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