Um relacionamento pode ser tão inspirador quanto desafiador. E poucas coisas capturam essa dualidade tão bem quanto a música. Selena Gomez sabe bem disso. Ao longo da carreira de quase duas décadas, suas faixas frequentemente refletiam os altos e baixos dos relacionamentos intensos e conflituosos que tivera, transformando suas desilusões em alguns de seus maiores sucessos, como “Lose You To Love Me” e “The Heart Wants What It Wants”.
Agora, sua relação com o produtor Benny Blanco gera uma curiosidade incessante dos fãs e da mídia, repleto de momentos compartilhados com o público desde que assumiram o romance em junho de 2023. É desse cenário, de sentimentos que floresceram e se estenderam sob os olhos do mundo, que nasce I Said I Love You First.
Mais do que um simples relato de um casal apaixonado, o álbum também explora vulnerabilidade, crescimento e o peso de recomeçar. Inspirado nessa parceria, tanto romântica quanto criativa, o projeto mergulha nos momentos mais doces, nas incertezas e na cumplicidade que moldam um relacionamento. E, em meio a melodias envolventes e letras confessionais, Selena entrega um trabalho que, embora muito discreto em sua abordagem sonora, se sustenta na honestidade emocional de quem finalmente encontrou conforto ao lado de alguém.
I Said I Love You First passeia por diferentes atmosferas sonoras. Selena começa com um monólogo nostálgico e emocionado que dá nome ao disco, antes de mergulhar em “Younger and Hotter Than Me”, balada melancólica que reflete sobre inseguranças e as mudanças inevitáveis do tempo. Em seguida, “Call Me When You Break Up” transforma essa dor em um pop mais vibrante, trazendo Gracie Abrams como convidada e adicionando uma dose de ironia à introdução.
Entre os momentos mais marcantes, “Ojos Tristes” se destaca pela produção e participação da banda The Marías, com vocais suaves que flutuam sobre uma produção bem minimalista. Diferente das faixas mais confessionais do álbum, essa música captura um sentimento de nostalgia, como se Selena e María Zardoya narrassem, em uníssono, um amor que deixou marcas sutis, mas inesquecíveis. É uma faixa que brilha pela sua atmosfera etérea, provando que, às vezes, a força de uma canção está na sua delicadeza.
“Bluest Flame”, por sua vez, injeta energia ao ouvinte, com uma pegada mais hyperpop, resultado da sua colaboração e produção com Charli xcx. O reggaeton também marca presença em “I Can’t Get Enough”, colaboração de Selena em 2019, onde J Balvin adiciona uma camada mais excitante à sonoridade do disco. Já “How Does It Feel to Be Forgotten” e “You Said You Were Sorry” são canções que novamente tocam nas feridas emocionais da cantora, mas de forma sutil, evocando sentimentos que são profundos, mas sem cair no melodrama exagerado.
No entanto, apesar de toda a sinceridade e do apuro sonoro, algumas faixas passam despercebidas, sem causar grande impacto. Há momentos em que I Said I Love You First parece hesitante, sem um grande ponto de clímax ou uma faixa verdadeiramente memorável que o eleve ao status de um disco clássico. A curta duração, apenas 35 minutos, também mantém a experiência escassa, deixando a sensação de que poderia haver mais ousadia na narrativa.
O grande mérito de I Said I Love You First está na capacidade de transformar experiências pessoais em músicas que soam universais, transitando entre a introspecção e o escapismo musical, sem perderem a coesão.
Mesmo que Selena tenha declarado que sua carreira musical está se tornando um projeto esporádico, este álbum prova que, quando ela decide se expressar através da música, o resultado ainda sim pode ser envolvente. Ainda que não seja nenhum divisor de águas na indústria, o disco se firma como um retrato honesto de uma artista que encontrou sua voz e seu amor, e sabe exatamente como usá-los.
