Crítica | ‘Um Dia’ da Netflix apresenta um roteiro fiel ao livro

Minissérie inspirada em livro de David Nicholls apresenta uma versão menos moralista e mais fiel a trajetória de Emma e Dexter

Em 8 de fevereiro, mais uma nova adaptação do best-seller de David Nicholls, agora em série, chegou à plataforma de streaming Netflix. “Um Dia” (One Day) — estrelado por Ambika Mod e Leo Woodall, narra a jornada de Dexter e Emma, dois amigos que, ao longo de 20 anos, tem suas vidas contadas em apenas uma data: 15 de julho. Dos anos 1980 até os 2000, seus caminhos se encontram e desencontram numa jornada de amadurecimento e paixão.

Sua primeira adaptação aconteceu em 2011, com Anne Hathaway e Jim Sturgess nos papéis principais. Mesmo não sendo tão bem avaliado nas críticas, o filme conquistou seu público e até hoje é relembrado por fãs. Nesta nova versão, a diretora Nicole Taylor evidencia a disparidade entre o filme e o livro ao retratar os personagens com a profundidade e complexidade que a versão cinematográfica não foi capaz.

Certamente, a direção e o roteiro de Nicole Taylor, Bijan Shelbani e Anna Jordan são o destaque da série. Ao trazer a história de Emma e Dexter com tanta fidelidade ao livro, permitiu que os protagonistas tivessem um desenvolvimento muito mais intenso, honesto e muito bem humorado, ao invés de um retrato maniqueísta.

Um ótimo exemplo disso é como Emma é colocada no filme e na série. Enquanto na versão de 2011, Emma é extremamente “certinha” e tímida, na série, ela é colocada como alguém com qualidades, defeitos e uma percepção muito mais sensata sobre sua relação com Dexter.

O mesmo vale para Dexter, que não se limita ao um jovem hedonista, mas também retrata um indivíduo repleto de inseguranças, paixões e frustrações que o modificam e o amadurecem.

Mesmo com o ótimo trabalho de roteiro, não se pode tirar o mérito da atuação de Ambika Mod e Leo Woodall, que apresentam cenas extremamente realistas que, muitas vezes, dão a sensação de estarmos visualizando pela fresta de uma porta a vida de um vizinho ou ouvindo o relato de um amigo.

Um Dia acerta ao retratar a passagem de tempo

É evidente que a passagem de tempo é extremamente importante para toda a construção da narrativa e, para além do calendário, a série consegue refletir bem as mudanças. Um dos destaques para essa curso temporal é a trilha musical, com artistas britânicos famosos dos anos 1980 e 1990, como New Order, Blur, Elastica, Suede e The Charlantans, além de clássicos do folk como a Nico, em “These Days”, a banda eletrônica Massive Attack e até o grupo de hip hop Public Enemy.

Vale ressaltar também a caracterização dos personagens é capaz de refletir tanto a mudança de idade dos personagens, quanto a moda e estilo da época em que eles vivem. Um guarda-roupa com mom jeans, óculos arredondados, coturnos, blasers pontudos e muito do que foi tendência entre os anos 1980 até 2000.

O mesmo não se pode dizer da maquiagem, que não apresenta nenhuma mudança ao longo dos anos, fazendo parecer que todos os personagens permanecem em seus vinte e poucos anos. Só percebemos a passagem de idade a partir das roupas e da interpretação dos atores.

Personagens coadjuvantes mais bem trabalhados


Não é apenas a escalação de Leo Woodall e Ambika Mod que tornam Um Dia tão bem amarrado, mas também a escolha dos coadjuvantes. Mostrando um Ian muito mais profundo e amoroso, Jonny Weldon consegue dar uma personalidade menos cansativa e mais determinada.

Assim como Weldon, Eleanor Tomlinson como Sylvie também traz uma atuação rica ao retratar um garota rica, jovial e eletrizante se transformando em uma mãe cansada e decepcionada.

Todos esses elementos trazem uma versão muito mais fidedigna, divertida e honesta da trajetória deste casal tão marcante na literatura moderna. Mesmo que a minissérie da Netflix não tenha o mesmo apelo que um filme estrelado por Anne Hathaway, ela apresenta a história de Em e Dex em sua melhor versão.

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