Crítica | Dancing With The Devil é sincero, avassalador e extremamente disruptivo

No documentário Demi Lovato: Dancing With The Devil, Demi narra acontecimentos avassaladores de sua vida de forma sincera e pessoal

Contém spoilers

Para acompanhar o lançamento de seu novo disco ‘Dancing With The Devil…The Art Of Starting Over’, Demi Lovato liberou um documentário de mesmo nome, dividido em quatro partes, através de uma parceria com o Youtube Originals e dirigido por Michael D. Ratner.

‘Demi Lovato: Dancing With The Devil’ marca de vez o ponto de transformação público que Demi desejar destacar ao mundo, e viabiliza uma entrada íntima em seus últimos anos repletos de acontecimentos chocantes e muito pessoais. Para os fãs, muitas informações já são de conhecimento antigo, mas para o mundo no geral, trata-se de um destrinchamento do que foi sua overdose em 2018, seu péssimo gerenciamento de equipe, seu noivado falho e apressado e como tudo isso a afetou em todas as variantes de sua vida.

Leia nossa crítica do álbum ‘Dancing With The Devil…The Art Of Starting Over’

Demi se tornou uma figura pública e de alto conhecimento depois de participar do filme Camp Rock (2008) e posteriormente Sunny Entre Estrelas (2009), uma série de comédia, ambos do Disney Channel. Desde seu lançamento em Hollywood, é visível que a artista se tornou alvo de uma atenção eminente e de muitos olhares negativos. Desde adolescente, imagens suas eram vazadas, informações deturpadas, atitudes eram tomadas e em torno disso, a mídia se alimentava.

O documentário faz uso de diversas cenas de um projeto de documentário não lançado de 2018, logo antes do acontecimento. Enquanto estava em turnê com a Tell Me You Love Me Tour, Demi participou de diversas filmagens que segundo ela “mostravam apenas a ponta do iceberg, e não o que de fato acontecia com as portas fechadas”.

Neste documentário disruptivo, Demi busca narrar sua trajetória em relação à sua overdose que aconteceu em meados de 2018, em sua casa em Los Angeles, Califórnia: “Tive muito a dizer nos últimos dois anos sobre o desejo de esclarecer o que aconteceu”, destaca a artista no início de sua nova série documental. A tragédia de 2018 levou Lovato a sofrer um ataque cardíaco e três derrames e embarcar na luta por sua vida: “Meus médicos disseram que eu tinha mais cinco a dez minutos vida”.

As 4 partes da série são objetivas e muito bem desenhadas, mostrando em um passo a passo o que aconteceu com a artista e o que a levou a praticar sua rotina química até o acontecimento de quase morte. Além de abordar detalhadamente o dia de sua overdose, com diversos depoimentos de amigos e família, o projeto ainda destaca o noivado brusco de Demi Lovato com Max Ehrich, que durou apenas 4 meses, e como o término (público) disso a afetou durante todo o processo de cura do que havia acontecido anteriormente. Além de dar detalhes do processo criativo de seu novo disco e o sentido principal da obra existir.

Permeando todos esses temas, Demi ainda revelou fatos chocantes de sua vida. A artista alega que no ato de sua overdose, foi estuprada pelo traficante que a vendeu as substâncias. Também alegou que em sua época da Disney, enquanto “estava no set de filmagens de um projeto”, foi estuprada por dos membros de elenco, do qual “permaneceu impune” mesmo com ela levando o ocorrido para a atenção dos responsáveis na época. Ela ainda acrescentou que hoje, o homem “não tem mais uma carreira e isso é reconfortante, no mínimo”.

A luta de artista contra sua antiga equipe também permeia todos os 4 episódios. Demi passou anos e anos sendo regulada por pessoas das quais confiava. Testes de drogas, refeições previamente decididas, bolos de melancia, sem amigos, sem controle de sua própria vida. Com tanto monitoramento e restrição, Lovato diz que começou a ter uma recaída em seu distúrbio alimentar, já que sempre fazia exercícios excessivos e fazia dietas extremas: “Sinto que as decisões foram tomadas por mim mais do que eu mesma”. 

Em aproximadamente quatro horas e meia, Demi Lovato dialoga com quem assiste e explica que suas decisões foram legítimas, e mesmo depois de tantas decisões irregulares, conseguiu retomar as rédias de sua própria vida, não só pessoal, como criativa e profissional – algo que há muito tempo não conseguia identificar por estar imersa em um papel definido a ela por outras pessoas.

‘Dancing With The Devil’ veio para acompanhar o lançamento de seu novo álbum e explicar de uma vez por todas e de igual para igual o que Demi Lovato passou nesse tempo afastada. O álbum se consagra como o seu mais pessoal e evita cair em qualquer consentimento de pop batido e raso. Suas letras refletem objetivamente suas experiências, boas ou ruins, de forma artística e sincera, mostrando que um tempo afastada da mídia só fez acrescentar em sua persona artística.

O doc encerra mostrando que suas recentes decisões não só a libertou de seus traumas passados, como a ajudou a superar seus recentes. Por muito tempo Demi foi submetida a avaliações indiretas que afetaram não só sua habilidade social, mas também sua expressão criativa. Tudo isso combinado ao estresse de uma vida pública, relações pessoais descabidas e muita pressão da mídia resultaram em ações catastróficas. Demi Lovato afirma que, hoje, tem controle consciente sobre suas próprias decisões e nunca foi tão livre para expressar, como bem entender, o que está sentindo.

Assista ‘Demi Lovato: Dancing With The Devil’ no Youtube.

Nota do autor: 96/100

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