Josh Klinghoffer e seu reestabelecimento pós-RHCP com o projeto Pluralone

O trabalho solo do ex-RHCP Josh Klinghoffer coloca o músico em um patamar distante da sombra de substituto que o perseguiu enquanto guitarrista da banda.

John Frusciante pode ser o guitarrista mais memorável da banda estadunidense Red Hot Chili Peppers, mas foi com seu parceiro de projetos Josh Klinghoffer que o grupo teve seu maior período de estabilidade. Quando Frusciante decidiu sair do RHCP – pela segunda vez – em 2009, Klinghoffer assumiu o posto do amigo e lançou seu primeiro álbum com seus novos parceiros de banda dois anos depois. O resultado foi o início de uma fase mais leve do RHCP, marcado pelo lançamento de “I’m With You”. Dez anos depois, em 2019, poucos meses após lançar o primeiro álbum sob o nome artístico Pluralone, Josh Klinghoffer é surpreendido com sua “demissão” do Red Hot Chili Peppers. O motivo? John Frusciante desejava voltar à banda, e para isso o guitarrista precisava se despedir do grupo que o acompanhou por uma década.

Fotografia de Josh Klinghoffer tirada de um ângulo superior. Josh veste um gorro preto e uma camisa azul, enquanto segura um violão.
JK durante a gravação de seu segundo álbum / Instagram

Apesar de sua expulsão da banda com quem passou a maior parte de sua carreira como músico, como fala em uma entrevista exclusiva com o jornalista Marc Maron, Josh Klinghoffer aproveitou o lançamento recente de seu trabalho nem-tão-solo para focar ainda mais no projeto Pluralone. Com parceria de outros músicos (incluindo Flea, atual baixista do RHCP, e Jack Irons, baterista fundador da mesma banda), o álbum de estreia do Pluralone, “To Be One With You”, ofereceu ao mundo pré-pandemia um consolo para o que estava por vir. Poucos meses depois, em março, a pandemia causada pelo novo COVID19 obrigou bandas a cancelarem seus shows, e Klinghoffer usou o tom melancólico, porém esperançoso de suas canções, para estar em contato com seus fãs e ouvintes.

Composto por dez faixas, a temática central de “To Be One Wth You” gira em torno da humanidade: suas ascensões e caídas, permeadas por relacionamentos afetivos, processos de autoconhecimento e decepções perante o outro. Embora as canções sejam densas e extremamente introspectivas, existe um respiro sutil em cada uma delas – respiro este que vem a calhar em um momento de incertezas e mudanças abruptas.

Questões emocionais à parte, “To Be One With You” coloca uma nova lente sobre o trabalho de Josh Klinghoffer, que se situa distante de todos os projetos nos quais se envolveu até então. Diferentemente das bandas as quais fundou, como é o caso de Dot Hacker e The Bicycle Thief, o Pluralone mostra uma faceta pouco explorada de JK, que mistura o piano cru com a música eletrônica e, é claro, com os arranjos de guitarra já esperados de um projeto de Klinghoffer. Mesmo assim, por mais que se trate da área de expertise de Josh, os riffs são inéditos, apesar de pouco inovadores ou técnicos

Josh não possui contas nas redes sociais, mas tem se comunicado com seus fãs por meio das contas do Pluralone, administradas por um amigo. O início da pandemia foi marcado pela publicação de apresentações ao vivo das faixas do “To Be One With You” (publicações estas que ainda não chegaram ao fim), bem como covers. O isolamento social foi, de certa forma, produtivo para Klinghoffer, uma vez que, além das elaborações das performances, compôs o segundo álbum de seu projeto quase-solo, intitulado “I Don’t Feel Well”.

Segundo o multiartista, o segundo álbum de seu projeto solo se apresenta ainda mais denso e reflexivo, ainda que a esperança marque presença nas dez faixas do disco. A guitarra e o piano, cada vez mais implosivos, continuam a ser os instrumentos centrais da sonoridade do Pluralone, fugindo um pouco do viés eletrônico do álbum anterior. Além disso, a bateria de Jack Irons marca presença clara, conferindo um aspecto que aproxima este trabalho dos padrões do rock alternativo seguido por JK em seus mais diversos projetos paralelos.

As principais diferenças entre os dois trabalhos é justamente o descontentamento com a humanidade e suas mazelas, evidenciadas no período pandêmico. “I Don’t Feel Well” apresenta questões sociais a essa mesma humanidade dubitável e tira um pouco o lado pessoal dos trabalhos de JK que, mesmo ao falar de temáticas como política, natureza, aquecimento global e, é claro, emoções humanas, não deixa de injetar suas percepções nas letras e melodias. Dessa forma, quem espera algum tipo de leveza – tanto sonora quanto sentimental – do segundo álbum do projeto solo de Josh Klinghoffer, pode não encontrar consolo.

À parte dos dois álbuns, o multiartista conta com diversos EPs em sua discografia (um deles, inclusive, contém um cover de “Menina Mulher da Pele Preta”, de Jorge Ben Jor, cantado em um belíssimo português). Diferentemente dos LPs, os EPs oferecem uma qualidade melódica certeira, mas deixam a sonoridade de JK suspensa e indefinível em relação aos álbuns. É uma forma do músico experimentar, portanto, em meio a diferentes gêneros e estilos, a sua pluralidade.

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