Gerações mais jovens têm abraçado cada vez mais um gênero antes considerado apenas clássico e destinado a pessoas mais velhas. Artistas como DOMi & JD BECK e Samara Joy são exemplos recentes de nomes que conquistaram o público que não costumava ter referência alguma do ritmo. Mesmo que, inicialmente, algumas sonoridades fortemente inspiradas no jazz possam desagradar os mais conservadores, é importante compreender que a forma como cada artista se identifica, constrói e torna sua música uma visão única do ritmo é o que a torna tão agradável e marcante.
Mesmo com tantos clássicos que ecoam por décadas, uma porta de entrada que tenha uma musicalidade certeira para diversas idades e soe como uma fusão perfeita entre tantos anos é sempre a melhor opção. Por esse motivo, Laufey teve tanto sucesso com seu apelo nas redes sociais, fazendo com que seu nome se difundisse amplamente e levando até os mais críticos a explorar sua discografia. O resultado é a descoberta de uma artista de vinte e quatro anos, dotada de uma voz atemporal e inspirações que vão desde nomes como Ella Fitzgerald, Chet Baker, Norah Jones e Taylor Swift.
A modernidade fez com que Laufey Lín Jónsdóttir conseguisse alcançar públicos que talvez nem saberiam como encontrar sua música. Viralizar em redes como o TikTok hoje em dia não é nada surpreendente, mas para uma artista que não é estadunidense e que se concentra no jazz-pop, é algo grandioso. E ela soube aproveitar muito bem essa grandiosidade, pois a linguagem que utiliza tem bastante apelo com o público jovem.
Entre vlogs em que se arruma para sair, conversa com sua irmã gêmea, mostra um pouco do seu dia a dia e sessões acústicas feitas ali em seu quarto, também é possível encontrar apresentações grandiosas feitas com a Orquestra Sinfônica da Islândia. A forma cotidiana com que a cantora compartilha sua vivência é um dos pontos fortes que a fazem se conectar com o público, desfazendo o pensamento comum de que todos os artistas desse gênero imprimem riqueza e elitismo.
Laufey lançou três discos até agora, sendo que o primeiro, “Everything I Know About Love“, despertou considerável curiosidade na internet. Isso gerou um burburinho em torno das músicas do EP lançado em 2021, onde destacou-se um cover da clássica “I Wish You Love“, versão em inglês da francesa “Que reste-t-il de nos amours?”, que também foi interpretada por nomes como João Gilberto e Natalie Cole. A cantora tratou a música com a justiça que merecia, enquanto encontrava caminhos para imprimir sua personalidade desde cedo.
Em setembro de 2023, Laufey lançou o álbum “Bewitched“, que se tornou o registro mais confortável para quem deseja explorar seu trabalho. O álbum não se limita apenas ao gênero que a inspirou na música, mas também incorpora toques de bossa nova, adulto contemporâneo e pop. Seu maior sucesso, “From The Start“, está presente aqui, com os toques de romantismo triste que tanto ouvimos em suas influências. O instrumental cativa pela complexidade apresentada de forma simples, e a voz da cantora acrescenta o contraste necessário, resultando em uma apresentação perfeita para quem deseja começar com uma música específica.
A graça de Laufey está em saber moldar o jazz e dar-lhe sua própria identidade. A influência do clássico está presente desde a infância, quando seus pais a introduziram à música e ao violoncelo. No entanto, seu crescimento, com uma apreciação pelo contemporâneo, foi essencial para que ela decidisse como adaptar décadas passadas e incorporá-las à sonoridade que apresenta hoje.
O carisma que a artista demonstra nas redes sociais contribuiu para que sua personalidade se tornasse agradável para as novas gerações, o que gerou interesse e resultou em muitos vídeos com suas músicas como trilha sonora. Em entrevistas, é perceptível que o mundo artístico não a intimida, e para alguém que produz uma música tão cativante, isso não deveria ser uma surpresa.
