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Crítica | C. Tangana, “El Madrileño”

C. Tangana explora o que há de melhor em suas raízes em um registro sonoro fora do mainstream

O mais novo álbum de C.Tangana, e o terceiro em sua carreira, tem 14 faixas com colaborações muito especiais e arranjos muito bem trabalhados. O artista que é espanhol, fluí com leveza entre a música contemporânea e os gêneros tradicionais da Espanha e de outros países latinos. Mundialmente conhecido como o compositor premiado com um Grammy Latino em 2018 pela música “Malamente” que contribuiu juntamente com Rosalía entre outras músicas do “El Mal Querer”, lançou recentemente, o que me permite dizer, o álbum que trouxe uma projeção internacional ao seu trabalho, “El Madrileño”.

Em seus álbuns anteriores, Tangana versava e flertava mais com a cena underground. Seu segundo álbum tem muito mais elementos do hip-hop norte-americano que suas raízes latinas e dialoga de forma diferente com seus novos e também mais antigos ouvintes. Essa mudança de direção lembra as criações mais recentes e a ascensão da cantora Rosalía – sua ex-namorada – que com certeza abriu os horizontes sobre como vemos a produção musical de referências espanholas. Surfando na onda da internacionalização do ritmo latino, C. Tangana se inspirou em músicas que não fossem só romanescas como as internacionalmente conhecidas, bebendo de fontes como Julio Iglesias e Jorge Drexler. Suas colaborações mais recentes transitam entre os gêneros como hip-hop, pop latino, neo-flamenco e o mais conhecido, reggaeton.

Anton Álvarez Alfaro – artisticamente conhecido como C. Tangana – apareceu por aqui na lista de melhores músicas de 2021 até agora com Comerte Entera, uma parceria mágica com o mestre da bossa nova, Toquinho, e logo ganhou o coração de todos. A música feita em colaboração com o artista brasileiro, foi a primeira a ser lançada do álbum e ao homenagear o movimento, faz um convite a todos para o conhecer. É um exemplo da capacidade de C.Tangana de unir diferentes gêneros musicas numa fusão muito rica e diferente.

O álbum “El Madrileño” teve como objetivo homenagear todas as músicas tradicionais originalmente criadas com o violão em território latino. A parte de destaque do projeto é justamente o seu diferencial de C.Tangana. Seu histórico com o hip-hop fazem com que o álbum tenha elementos diversos, indo do clássico à música contemporânea em uma única canção.

Tu Me dejaste de Querer com participação de Niño de Elche e La Húngara, Los Tontos com Kiko Veneno, CAMBIA! com Carin Leon e Adriel Favela, Ingovernable com Gipsy Kings, Nicolás Reyes e Tonino Baleardo, e Muriendo de Envidia com Eliades Ochoa são exemplos de músicas do disco que misturam a sonoridade latina com o flamenco (este muito presente no projeto inteiro), juntando a cumbia com um violão marcado e as colaborações de músicos consagrados nos gêneros.

Ingovernable faz referência a série mexicana da Netflix de mesmo nome, sobre um drama político ficcional que conta a história de uma primeira dama do México que é capaz de matar o próprio marido, o presidente do México, para atingir os seus objetivos. Só aqui podemos entender a facilidade de C. Tangana em criar um enredo contagiante apenas em uma canção.

“Você esqueceu por quem se apaixonou – às vezes dói. Você esqueceu por quem se apaixonou – às vezes me dá vida. Vou pedir mais bebidas, vou jogar os dados, vou perder meu dinheiro e acabar com nós nos dedos.”

C. Tangana (ft. Omar Apollo) – Te Olvidaste

As músicas Nominao com o Jorge Drexler, Parteme La Cara com Ed Maverick) e Te Olvidaste com Omar Apollo e Cuando Olvidaré com Pepe Blanco são marcadas por letras fortes e românticas, que rememoram dos romances efêmeros aos clássicos boleros de amores eternos e insuperáveis.

Nunca Estoy, Hong Kong (Andrés Calamaro), Demasiadas Mujeres e Un Veneno, com José Feliciano e Niño de Elche, são as músicas com maiores referências de sintetizadores, se aproximando do pop rock. As letras evocam a vida noturna e esse perfil mais rockstar do rapper.

Durante o “El Madrileño” inteiro é visível que o artista pretende se desprender uma imagem mainstream, de ritmos batidos ou ideias conhecidas sobre si com base em seus projetos antecessores. Aqui, Tangana busca se aproximar ainda mais de uma criação pessoal, bebendo de fontes culturais presentes em sua vida e no que consome. Pra que isso funcione bem – como funcionou – o artista precisou largar mão de crenças impostas pela indústria aos artistas latinos baseadas em um molde que não os pertence, e isso sim foi o maior acerto do álbum. Ao se reconectar com origens, nosapresentou a fundo os ideais sonoros de um artista puro e em processo de lapidação.

Dica! Recentemente Tangana foi um dos convidados do famosos Tiny Desk Concert, acontecendo em casa, e trouxe toda a atmosfera do álbum para o mini show. Reunindo muitas referências sonoras de seu conglomerado sonoro, o artista definitivamente consegue ambientalizar de maneira espetacular e o projeto serve como um aperitivo do que poderemos ver em suas apresentações futuras.

Nota dos autores: 95/100

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