Uma das vozes mais aclamadas da atualidade, Rosalía esgotou o Espaço Unimed, em São Paulo, em agosto do ano passado. Cerca de oito mil presentes não foram suficientes: os ingressos esgotados com antecedência e a aclamação da apresentação só elevou o burburinho, o status da cantora e o desejo por mais.
Por isso, pareceu um acerto instantâneo quando o Lollapalooza Brasil anunciou a cantora como uma das principais atrações de seu line-up. Com um álbum extremamente moderno, diverso e com sucesso de crítica, a apresentação se tornou uma das mais aguardadas pelo público presente.
Esses foram apenas alguns ingredientes que culminaram na multidão que se formou na área do palco Chevrolet, no começo da noite de domingo, inclusive fazendo com que espectadores precisassem sair mais cedo do também ótimo show de Tove Lo, que se apresentava mais cedo mas em um palco distante. Minutos antes da apresentação de Rosalía, os últimos chegavam à multidão e tentavam um ângulo bom para presenciar o show. Aliás, vamos dar um nome melhor ao que vimos: obra de arte.
Abrindo sua apresentação com sons vorazes de motocicletas zunindo pelo palco e seguindo com o hit “Saoko”, Rosalía e seus dançarinos surgiram com roupas em preto e branco, capacetes iluminados e toda energia do furacão espanhol que é a cantora. A força e empolgação dos fãs presentes pareceu acender ainda mais os artistas no palco, que pareciam vorazes e felizes com a receptividade brasileira. E foi por isso que, minutos depois, Rosalía até tentou uma interação com o público presente, mas a aclamação foi tamanha que deixou a cantora sem palavras.
Com algumas diferenciações de estrutura e setlist comparando com a apresentação de agosto, tudo no Lollapalooza pareceu aprimorado. O palco parecia mais dinâmico e pensado para potencializar a performance da artista e seu balé. O câmera-man (que irritou muitos na apresentação anterior), brilhou ainda mais e revelou todos os ângulos corretos, dando o tom de um dos maiores diferenciais da apresentação.
O jeito que o espetáculo foi filmado e transmitido, como uma espécie de filme-documentário que era construído ao vivo diante dos nossos olhos, com interatividade e inventividade de quem já possui décadas de carreira e de especialidade em turnês.
Rosalía se provou, mais uma vez, apaixonada pelo ofício. Sua entrega impressionou e literalmente deixou os fãs – brasileiros, sim, os mais apaixonados e barulhentos – em completo silêncio por diversas vezes, como quando entoou o medley de “De Aquí No Sales” e “Bulerías”, onde suas raízes flamencas ficaram estampadas e os vocais foram tão brilhantes que só nos restava prender o fôlego e assistir. Em outros momentos, como “Hentai”, a cantora também emocionou os fãs, tocando um piano de cauda e deixando a produção de lado, esbanjando apenas a voz e muito carisma.
Poderíamos elaborar sobre o talento, a performance, o carisma e as inspirações e respeito pela cultura brasileira que a própria disse ter, mas o fato é que o show escancarou que Rosalía encontra seu maior triunfo em não negar suas origens. Com canções em inglês e muitas em espanhol, a cantora (que também arriscou um português muito bem falado!) não pretende replicar uma fórmula de sucesso que consagrou outros artistas na sua trajetória: ela parece seguir única e triunfal num caminho que é só dela, e que não se esconde para se adequar a outras culturas ou mercados.
A soma de todos os elementos “naturais” de Rosalia à excelência técnica de sua produção, câmeras e bailarinos presenteou o festival com um show original, energético, histórico e completamente artístico, que só colaborou para a consagração da artista no país e na mente e coração dos quase 100 mil presentes durante a performance. Ficou claro como o mundo precisava de uma artista como Rosalía, e como o Brasil provavelmente seguirá ansiando e aclamando suas próximas aparições e performances com a mesma paixão que a artista transpirou no palco. Mal podemos esperar por mais!