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Crítica | This Is Us conclui sua trajetória honrando sua maior personagem

Em seu último ano, This is Us homenageia de forma brilhante sua melhor personagem e valoriza toda a jornada de seus personagens.

Uma das séries mais amadas, familiares e tristes da televisão americana terminou, This is Usintegrante do catálogo da Star+ – concluiu sua trama depois 6 temporadas de forma sensível e nostálgica. A produção, que narrou a intensa história da família Pearson desde o início, entregou uma temporada concisa, amarrando de forma poética sua viagem temporal.

O ponto alto da última temporada foi com certeza o fato de o show escolher seus últimos episódios para honrar sua maior personagem. Durante toda a construção, a produção dava sinais claros da valorização de Jack Pearson (Milo Ventimiglia) como uma das melhores figuras paternas da dramaturgia, o pai perfeito, o marido dos sonhos e o homem ideal, contudo, o grande prêmio dessa história toda sempre foi de Rebecca Pearson.

Interpretada brilhantemente por Mandy Moore – que entregou a todos uma personagem completa em todos os períodos, da jovem adulta à senhora de idade – Rebecca é cativante, amorosa, falha e muito perseverante. Criou 3 filhos sozinha após a morte do marido e mesmo depois que eles crescem e constituem suas próprias famílias, ela não deixa de ser o principal apoio da vida de cada um e dos demais membros de toda a família. A personagem é uma das maiores mães da história da TV e se desenvolve de forma individual e potente, como mulher – sem se anular pelos filhos – mas sem deixar de ser uma mãe presente.

Em This is Us o que é mais real, é que Rebecca está sempre ali, presente e muito próxima, mas como toda mãe, nem sempre é notada com a devida importância. A história é sim sobre a família como um todo, seus ciclos, sua coletividade, suas dificuldades e principalmente seu amadurecimento, mas uma família não seria nada, não existiria sem uma mãe – seja ela biológica ou não.

No fim a série, que já colocou todos os seus em algum lugar de importância, finalmente honra a sua maior criação e homenageia de forma melancólica, poética e muito bela a matriarca Pearson. É sobre como ela levou cada membro da família até ali, cada filho, neto, nora, genro e todos ao seu redor, a serem as melhores versões de si mesmos e estarem agora uns pelos outros para ingressar em novos ciclos.

A família que como o próprio nome da série já diz, também é nossa

A palavra ‘Us‘ presente em seu título, intencionalmente ou não, acaba revelando seu maior legado, pois ela é tão envolvente que o espectador se torna parte da narrativa, se sente membro daquilo. Quem assiste o programa é sim parte da família, sofre com as dores de cada membro, chora com as derrotas e vibra com as vitórias.

Dan Folgeman fez um trabalho incrível no roteiro e conseguiu de forma única encantar o público com todas as versões de seus personagens (e meu Deus, a série tem personagens) – só os trigêmeos Kate (Chrissy Metz), Randall (Sterling K. Brown) e Kevin (Justin Hartley) foram interpretados por pelo menos 4 atores diferentes cada.

Os personagens de apoio da série apresentam um apelo forte de conexão com o espectador, um mérito do elenco e claro da direção impecável de Ken Olin, que extrai deles o melhor em cena, mesmo em pequenas aparições.

Mulheres com M de Maiores

Todo elenco da série é brilhante e mesmo com alguns furos no roteiro ou momentos cansativos durante as 6 temporadas, This is Us consegue se reinventar na forma de emocionar o público por intermédio de cada arco. Muito dessa habilidade está intimamente ligada ao elenco feminino da produção.

Cada mulher da série desempenha um papel fundamental em sua própria história, mas também na concepção de família e de quem realmente está a frente dela. Susan Kelechi Watson é uma das melhores e mais potentes personagens do elenco e dá a Beth Person camadas de humor, acidez, sabedoria e força que vão muito além do esperado à uma personagem coadjuvante.

Outros grandes nomes que se agigantam na tela são: Hannah Zeile, como a jovem Kate; Lyric Ross, como Deja e Rachel Hilson, como a jovem Beth. Cada uma dessas mulheres rouba a cena para si quando aparece em tela e cria uma ponte tão genuína entre passado e presente, que é impossível dizer que não são de fato a mesma pessoa.

Uma história sobre histórias

A série fará uma falta que talvez nenhuma outra consiga suprir, mas terminou no momento pertinente e deixando o legado que pretendia deixar. Seu maior trunfo sempre será a forma que ambientou seus episódios, viajando no tempo para trás e para frente. É desta maneira que This is Us construiu sua narrativa e gerou o encanto e conexão com seus personagens. A cada temporada se é apresentado a novos arcos, sem deixar de lado os arcos passados e mesmo o futuro acaba por fortalecer os laços entre espectador e show.

Um dos maiores dramas da TV americana, a produção merece ser vista como tal. Ela soube de forma bela, melancólica, mas incisiva ir além da camada básica na exploração do que é a família e tocou em assuntos sensíveis e potentes. Ser uma criança negra adotada por uma família branca, foi um dos temas mais intensos e tensos explorados na trama, talvez o mais complexo de todos. Neste tópico o pequeno Lonnie Chavis e iSterling K. Brown (1ª negro a vencer o Golden Globe na categoria de ‘Melhor ator em Série Dramática em 2018), foram viscerais ao dar vida a dor de Randall.

This is Us sempre foi uma história sobre histórias, como cada uma delas se entrelaça. Cada ciclo tem sua importância, cada pessoa traz dentro de si emoções e catarses próprias e o ‘nós’ só pode se tornar de fato ‘nós’ quando se compreende e mais do que isso, se respeita as vivências. Alguns ciclos se enceram para outros poderem nascer, mas de algum modo, eles sempre estarão interligados.

Assista This is Us na Star+

Nota: 97/100

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