Tim Bernardes questiona a idolatria que a arte se encontra

No canal Papo de Música, Tim Bernardes fala sobre o título de “voz da geração” e a importância de tirar a obra dos ídolos de um pedestal inatingível

Seja em carreira solo, à frente da banda O Terno ou nas colaborações com artistas (desde composição gravada por Maria Bethânia à participação em disco do Fleet Foxes), Tim Bernardes destaca-se na cena musical como a ‘voz da sua geração’.

O cantor e compositor passou pelo canal Papo de Música e conversou com a apresentadora Fabiane Pereira sobre os elementos que imprimem essa identidade em seu trabalho, questionou o papel dessa geração e a relação com ídolos e falou sobre o nascimento das sessões “quarentênicas” – projeto responsável por abrir a porta da casa do cantor ao público por meio de redes sociais.

“O que é nossa geração? Qual é nossa marca?”, pergunta Tim, jogando aos espectadores algumas das dúvidas ecoadas na poesia que o trouxe até aqui.

“Tento fazer o meu trabalho de um jeito que eu goste tanto do resultado final quanto eu gosto das coisas que eu ouço”, reflete, evidenciando o alto nível de exigência ao qual submete o próprio processo criativo. Ao citar ídolos como o Clube da Esquina, Caetano Veloso e todo o tropicalismo e os Beatles, o artista pontua a importância de tirar a arte de um lugar de idolatria.

“Mesmo que eu não consiga, eu preciso querer fazer um disco melhor que o deles. É um dever da geração fazer coisas incríveis e não colocar tudo feito antes num pedestal divino inatingível”, explica.

A vontade de marcar o próprio tempo, no entanto, não o impede de reconhecer a irreverência das sonoridades produzidas por gerações passadas. Prova disso é o repertório de um especial para televisão gravado com setlist todo dedicado à Gal Costa. Mas além de ponto de encontro de musicalidades de diferentes tempos, o vocalista da banda O Terno se destacou durante a pandemia do novo coronavírus com um projeto que promove o encontro entre plataformas de épocas distintas: o IGTV, do Instagram, e a fita cassete.

“Fui convidado pra fazer uma pelo site francês Blogothèque e gostei do cenário que montei; comecei a fazer uns testes de vídeos e com o meu gravador de [fita] cassete. Ali, me veio a ideia de transformar cada canto da minha casa em um set pra essa série quarentênica”, diz. 

A vocação artística, inclusive, também passa pela casa de Tim Bernardes há um certo tempo. Filho do cantor e compositor Maurício Pereira, ele contou como cresceu com o repertório do pai na ponta da língua, mas a compreensão da profundidade artística das poesias e sonoridades de Maurício só vieram na adolescência.

“Com 14, 15 anos eu já tava baixando a discografia de Os Mutantes, Beatles, bandas que eu ia atrás por vontade própria. Conhecia todas as músicas do meu pai, mas foi quando eu baixei a discografia dele que fui ouvir como alguém que não é filho dele, sabe?”, lembra. 

O bate-papo ainda passou por reflexões sobre a proposta do disco <atrás/além> (2019) – considerada “quase utópica” pelo artista por propor sermos uma versão melhor de nós mesmos -, pensamentos sobre a discografia do grupo O Terno e comparações com Os Mutantes e até uma palinha de Los Hermanos. Complementando as entrevistas em vídeo, o canal também coloca no mundo uma playlist inspirada no universo do cantor.

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