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Crítica | Red Hot Chili Peppers, “Unlimited Love”

O tão esperado disco do RHCP conta com o retorno de John Frusciante às guitarras – e talvez esse seja o único atrativo de Unlimited Love.

A Califórnia nunca foi tão fria quanto se tornou após o dia primeiro de abril deste ano, dois mil e vinte e dois. O tempo não ficou necessariamente gélido, mas sim morno, como uma sopa que não fica tempo suficiente dentro do microondas – como “Unlimited Love”, mais novo disco dos Red Hot Chili Peppers.

Não existe uma palavra melhor do que “morno” para descrever o álbum. Aqueles muito animados com a volta do guitarrista John Frusciante para a banda, após mais de uma década fora do grupo, talvez possam estar maravilhados com Unlimited Love pelo fato de que o disco traz nos créditos o nome do guitarrista que levou os Chili Peppers ao estrelato; aqueles que reconhecem a importância de seu retorno, todavia não atribuem a ela todo seu glamour, podem ter outras coisas a dizer.

Aqui se aplica o segundo caso. Mesmo com toda a importância de John Frusciante para o RHCP, sua volta à casa não o torna o filho pródigo. Assim como na história bíblica, foi sua a decisão de partir, porém é errôneo afirmar que o guitarrista estava perdido. Quem quisesse acompanhar os trabalhos de Frusciante poderia acompanhar o músico em seus trabalhos solo (seja sob seu próprio nome ou sob seu pseudônimo Trickfinger), bem como em suas parcerias com sua noiva, Aura T-09 (Marcia Pinna) , nas performances que realizam em sua produtora, Evar Records.

É claro que a união de John, Flea, Anthony Kiedis e Chad Smith traz um novo ar à música californiana, sem contar, como se presume, à discografia e à história da banda. Nem tudo nesta vida é perfeito, porém os trabalhos dos Red Hot Chili Peppers assim poderiam ser considerados antes de Unlimited Love.

Talvez este seja um novo caso de “primeiro disco a ser lançado com um novo guitarrista”. Josh Klinghoffer, que aceitou pegar no batente após Frusciante abandonar o RHCP pela segunda vez, em dois mil e onze, foi duramente criticado quando “I’m With You”, décimo álbum da banda estadunidense, foi lançado. Os comentários de que as guitarras de Klinghoffer não se adaptaram à estética sonora do quarteto podem ser aplicadas no contexto atual, desta vez com Frusciante. Sua volta ao Red Hot Chili Peppers demorou dez anos para acontecer, enquanto o Unlimited Love ficou no forno por mais dois (e mesmo assim ficou morno). 

Unlimited Love é um disco sem constância ou fluência. As dezessete faixas do décimo segundo trabalho dos Chili Peppers – sexto com Frusciante – não dispões de constância musical. Dessa forma, é possível fazer uma análise do que gosto de chamar de “amplitude sonora”: um disco que contém grande amplitude, como é o caso de Unlimited Love, não apresenta uma distribuição equilibrada de faixas. É como se todas tivessem sido colocadas ali em uma brincadeira, tal qual The Strokes fizeram em “Angles”. Isso faz com que muitas emoções sejam sentidas, porém não de forma escalada, planejada. 

A sonoridade do disco é bem californiana e segue os caminhos trilhados pela banda ao longo dos últimos vinte e três anos. Todavia parece ter algo de errado ali. Não com os solos de Frusciante, ou com o baixo de Flea, muito menos com a bateria de Chad Smith. O problema parece estar na fatia de Anthony Kiedis. Claro, não é possível atribuir toda a tepidez de Unlimited Love ao vocalista do RHCP, porém parte da estranheza percebida ao ouvir o álbum vem do jeito com que Kiedis canta. No entanto, um dos maiores letristas em atividade, o vocalista dos Chili Peppers não poupa em mostrar seu talento com métricas, rimas e palavras.

Mas esta crítica não é apenas um compilado de críticas sobre Frusciante e seu efeito sobre os Chili Peppers: ela também destaca alguns bons feitos do grupo, como a quebra de seu hiato de oito anos sem lançar um disco. Algumas faixas de Unlimited Love resgatam a sonoridade de “Californication”, álbum popularmente escolhido como o melhor trabalho do RHCP. Outras, por outro lado, são uma fraca tentativa de realizar tal resgate.

Trata-se de um disco que tinha imenso potencial para um comeback fenomenal – ainda mais diante de tanto tempo cozinhando para ser servido, bem como pelo fato de que foi produzido pelo grande Rick Rubin, produtor renomado, vencedor de Grammys e amigo dos Chili Peppers. Todo o disco parece uma piada de primeiro de abril e no final, se torna uma pena que Unlimited Love não nos mostra a verdadeira face da banda.

Entretanto, o lançamento do disco “coincidiu” com a inserção do Red Hot Chili Peppers em uma estrela própria na bem quista Calçada da Fama, em Hollywood. Sendo assim, podemos considerar que as circunstâncias do lançamento de Unlimited Love são mais atraentes do que a sonoridade do disco em si.

Nota: 57/100

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