O folklore e o evermore colocaram, sim, Taylor Swift em um novo pódio. Um que ela mesmo criou. A entrega da artista para com o novo e fértil terreno que percorreu as veias daqueles discos é algo extravagante. Não é a toa tudo que ela colheu com os trabalhos.
Talvez tenha sido bem ali (e com o projetos das regravações) que o termo de titã do pop tenha se fortificado. Esse é o sinônimo que mais acaba por se encaixar no que Taylor mostra e conquista.
Tudo que viria no após não precisaria estar a altura, mas apenas bom o suficiente. E agora temos isso em mãos, e ele surge com a proposta de contar o que Taylor criou em noites mal dormidas. O Midnights é o reflexo disso e o aconchego que ele poderia prover.
Quem esperava o abraço caloroso que a neve traria com “Snow On The Beach” pode e deve ficar decepcionado. O único featuring do álbum, com aparentemente Lana Del Rey, é uma das coisas mais falhas em um bom tempo. Chega a ser cômico a inserção dos vocais de Del Rey no meio das ondas da faixa — que possui um planejamento autenticamente delicioso.
“Anti-Hero” começa básica. Se torna boa. Passa pela atmosfera do Lover. E depois o ouvinte se encontra recitando por todos os cantos “I’ts me, hi, I’m the problem, it’s me“. Há uma deliciosa construção da gama da canção, tornando-a em uma das melhores do registro.
O retorno que o cosmo nos joga ganha aqui uma branda viagem com doces e dançantes melodias; “Karma” não reivindica nada de genial, mas é tão companheira que até a ordinária produção pode ser deixada de lado.
O diário pessoal que engole o ouvinte continua sendo extremamente sólido e acessível
Essas inúmeras meia-noites que Taylor passou acordada brandam algo que ela preza muito: conexão. É justificável reparar que o álbum foi feito para ser palco de noites intermináveis, onde a plausabilidade daquelas harmonias e cores mais usuais da cantora irão encher o peito dos mais íntimos.
Não temos afinadas regalias que poderiam distanciar esse projeto de algum outro de Swift; que o pontuasse como algo fora de sua esfera, na verdade, é o oposto. As monotonias que afetaram as noites dela ganham as luzes da lua até o crepúsculo com letras (sempre pontuais e charmosas), sonoridade e planos de fundo que prontamente já presenciamos.
Essa resolução não deve ser vista negativamente. Afinal, encontramos, sim, efervescentes alturas. “Lavender Haze” é surreal de boa; enquanto “Labyrinth” altera o seu tom e traz alucinações; “The Great War” (do “3am Edition”), é impecável; e “Midnigh Rain” é estranhamente uma das melhores do disco.
O nível espiritual do Midnights está, sim, em algo já feito pelas interpretações de Taylor Swift, mas até que ponto podemos levar isso em conta se temos um registro gostoso, aproveitável e que enche os fãs de orgulho? Queira ou não, ali ou aqui, esse ainda é em algumas linhas mais um triunfante álbum do titã da música.
75/100