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Crítica | Kacey Musgraves, “Deeper Well”

A cantora country retorna em seu sexto álbum para uma limpeza emocional revigorante

Kacey Musgraves está abandonando velhos hábitos, se desfazendo de galhos mortos e conhecendo seu lado ainda mais introspectivo. Seu novo álbum, “Deeper Well“, lançado em março de 2024, é a extensão perfeita de seus últimos lançamentos.

O álbum “Golden Hour“, vencedor do Grammy de Álbum do Ano 2019, contava detalhes sobre a fase mais apaixonante de seu casamento. Depois, veio “star-crossed“, que narrou o fim e o divórcio desse mesmo romance. Agora, seu último projeto parece expandir isso em uma trilogia, narrando o processo de seguir em frente, priorizar a si mesma e encontrar paz após um período turbulento.

“Deeper Well” é um álbum que talvez exija ser ouvido com fones de ouvido em uma tarde de domingo para ser bem-entendido. Afinal, quem buscava algo semelhante ao último projeto digno de um filme de 50 minutos, que poderia ter sido lançado por grandes potências como Beyoncé, possa se decepcionar. Ao começar com uma guitarra setentista em “Cardinal”, ela define um tom diferente, desta vez mais reflexivo e focado em entender os novos caminhos de sua vida.

Faixas como “Too Good to be True” evocam um folk de Carole King e aborda as dificuldades que Kacey enfrenta para conhecer novas pessoas. No refrão, ela afirma: “Por favor, não me faça arrepender de abrir essa parte de mim, que tenho medo de dar novamente. Seja bom comigo e serei boa com você“.

Em contraste, “Lonely Millionaire” surpreende ao mostrar seu espírito sarcástico com o fim do casamento, e a recusa em se limitar às expectativas. Esse ecletismo adiciona um toque de leveza ao clima introspectivo do álbum, pois mesmo em um momento de autorreflexão, há também espaço para debochar dos falsos romances.

Sua habilidade como compositora também continua afiada. Kacey aborda temas profundos como luto, insegurança e o sentido da vida com uma facilidade conversacional que envolve o ouvinte. Em “The Architect”, por exemplo, ela questiona a existência de Deus com a falta de respostas que temos durante a vida em uma belíssima balada acústica, com sua voz leve flutuando sobre um violão. Em geral, as letras são poéticas e instigantes, deixando os ouvintes leves enquanto refletem sobre suas próprias experiências.

No entanto, a tranquilidade do álbum pode ser uma faca de dois gumes. Embora seja reconfortante, às vezes faltam-se mudanças dinâmicas, necessárias para manter o ouvinte totalmente envolvido ao longo de todo o álbum. A produção minimalista, embora enfatize sua vulnerabilidade, também expõe eventuais fraquezas no material. Algumas faixas, como “Giver / Taker” e “Anime Eyes” são agradáveis, mas não deixam uma impressão duradoura.

“Deeper Well” não é um retorno sutilmente caótico. É um momento de reflexão silencioso, uma oportunidade para Musgraves processar o tumulto recente e traçar novos rumos. A honestidade em suas letras e seu compromisso com a autodescoberta são os maiores pontos fortes do álbum. Embora nem todas as canções brilhem, as melhores oferecem vislumbres de uma mulher mais sábia, pronta para emergir o universo da introspecção e abraçar o futuro. Certamente, apreciá-lo é uma chance de desacelerar a vida ao lado de uma xícara de chá, e refletir sobre as complexidades da vida.

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