Com ‘Mulher-Gato’ Halle Berry transformou um filme subestimado em ícone cult

‘Mulher-Gato’ resistiu ao teste do tempo e conquistou um lugar peculiar na história do cinema

Desde o seu lançamento em julho de 2004, Mulher-Gato (Catwoman, no título original), dirigido por Pitof e estrelado por Halle Berry, foi alvo de intensas críticas. O filme narra a jornada de Patience Phillips, uma funcionária de cosméticos que, após descobrir segredos sombrios sobre a empresa em que trabalha, é assassinada e ressuscitada por um gato místico, ganhando habilidades sobre-humanas. Embora o enredo tenha sido considerado superficial na época, é inegável que a atuação de Berry, a primeira mulher negra a vencer um Oscar de Melhor Atriz, trouxe à personagem um novo olhar.

O longa é baseado na clássica personagem de histórias em quadrinhos da DC Comics que teve a sua primeira aparição no ano de 1940, na edição de número #1 de Batman, onde ficou conhecida como “A Gata”. Mesmo com críticas negativas —incluindo uma avaliação de apenas 8% no Rotten Tomatoes que classifica o longa como um projeto “risível”— o filme resistiu ao teste do tempo e conquistou um lugar peculiar na história do cinema.

Alguns o consideram um clássico por “todos os motivos errados”, enquanto outros enxergam no filme uma qualidade que beira o cômico. Halle Berry, inclusive, abraçou o humor da situação ao aceitar pessoalmente o prêmio Framboesa de Ouro de Pior Atriz. Com isso, ela consolidou a obra como um símbolo de autodepreciação e uma visão honesta do trabalho que realizou, independentemente das críticas. Berry demonstrou uma notável capacidade de transformar um papel desafiador em algo memorável, levando o filme a ser revisitado por fãs e até mesmo elogiado pelo seu valor “cult”.

Halle Berry, aliás, já expressou em algumas entrevistas seu desejo de reimaginar o filme. Durante o The Tonight Show, a atriz comentou que só faria um remake da produção se “pudesse dirigi-lá”, destacando que, na época, os fãs e a crítica talvez não estivessem prontos para uma abordagem tão ácida da personagem. Ao Jake’s Takes a atriz disse: “Gostaria de poder voltar e reimaginar a Mulher-Gato e refazer isso. Refazer essa história, agora sabendo o que sei. Eu faria a Mulher-Gato salvar o mundo como a maioria dos super-heróis masculinos faz, e não apenas salvar mulheres de seus rostos serem quebrados”, concluiu. 

Sua atuação —criticada ao extremo— deu à Patience uma dualidade tangível, indo de uma mulher tímida a uma figura audaciosa, algo que os fãs da personagem apreciam, especialmente quando comparado com outras representações no cinema como Michelle Pfeiffer, Anne Hathaway e a mais recente, Zöe Kravitz. Curiosamente, os movimentos felinos de Halle Berry no papel se tornaram uma referência no universo da personagem, sendo comparados à Mulher-Gato do jogo Batman Arkham City, por exemplo.

Mulher-Gato se tornou um ícone cult improvável não por seus acertos técnicos ou a aclamação crítica inexistente, mas por sua capacidade de se manter relevante na cultura pop por quase duas décadas. O filme é uma aula sobre como, às vezes, uma obra pode ganhar novos significados com o tempo, e como Halle Berry, com sua dedicação ao papel, ajudou a manter a personagem viva na memória coletiva. Mesmo sem apoio crítico, Mulher-Gato oferece um exemplo sobre o que fazer — e o que não fazer — em adaptações de quadrinhos, mantendo a obra viva no imaginário popular, seja pelos motivos certos ou errados.

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