Crítica | Pabllo Vittar, “Batidão Tropical”

Depois de um álbum morno, “Batidão Tropical” é um resultado revigorante e marcante para a carreira da drag.

Pabllo Vittar decidiu começar a nova fase provocando rumores de um possível casamento. Houve quem acreditou, mas também houveram as muitas descrenças de que seria apenas uma maneira de iniciar os trabalhos para um novo disco. De fato foi. O que a gente não sabia é que o lead single (“Ama Sofre Chore), era apenas uma breve (breve mesmo) prévia de que a próxima coleção de músicas da maior drag queen do mundo estava prestes a ser marcada como o seu melhor trabalho.

Com o “Batidão Tropical“, Vittar decidiu manter-se em duas zonas de conforto; a primeira é quanto ao estilo tecnobrega, que já faz parte da sua discografia e é hoje acima de tudo, através de uma estilização, uma marca sua; e quanto à sua própria nostalgia que lhe moldou, isso porque nesse disco, temos apenas 3 músicas inéditas e 6 regravações de músicas que representam muito para ela.

O prato mais interessante a se valorizar aqui é a cantora ter entregado um trabalho primoroso diante de novas roupagens de faixas que não são suas, mas que com o disco, energizam em uma frequência única o sangue de qualquer ouvinte através de uma revisitação eficiente ao que moldou a vida da drag.

A breguice das letras ganha aqui um tom de fazer cantar com a mão no coração, sentimento esse que se resplandece logo com a música de abertura. “Ama Sofre Chore” mostra a simplicidade incrívelmente deliciosa da estética que ela põe dentro do corpo do álbum. Puxando mais para um lado forró, o que se vê nessa é um diálogo inicial muito bem idealizado em toda a sua estrutura para começar a promover o que vem a seguir.

Triste com T” é a segunda inédita da coleção e assim como a anterior, resplandece em suas linhas o forró feito para conquistar e, resulta em uma união infalível com a faixa de abertura. Os dizeres pegajosos recitados num alto falante nos pontos altos da canção acalantam.

Depois de ouvir “A Lua” pela primeira vez, na próxima, a terceira e última faixa inédita nunca soa a mesma. Pabllo canta com a voracidade suficiente para exaltar as raízes do suingue pop brasileiro, onde a estrutura da canção fortalece todo o trabalho. É sem dúvida a melhor dentre todas as inéditas.

Ânsia” abre o percurso paras as regravações, aqui a canção lançada pela banda Brega.com na voz de Eliza Mell ganha uma vestimenta um pouco mais acelerada, que segura-se pelo seus quase três minutos de duração por uma diagramação atraente e o carisma exercido pela voz da Pabllo. Vindo a seguir, o cuidado em vestir “Apaixonada“, da Banda Batidão, quase como uma canção pop fornece para a pista de dança um som hábil que reforça a identidade acessível, seja pela letra melosa, ou pela marcante condução chiclete.

O brega espacial e cheio de repetições de “Ultra Som” da Banda Ravelly, é a peça mais extraordinária que Vittar poderia proporcionar para toda a obra. O cover não possui nem 2 minutos, mas é sem a menor sombra de dúvidas o ponto mais alto de todo o projeto (e talvez uma das músicas da carreira). Os efeitos e sintetizadores exorbitantes dão uma vida surpreendente para a canção que molda-se pelo synthwave, onde soma uma experiência espetacular e sem explicação em toda sua breve duração.

Nenhuma das canções de “Batidão Tropical” possuem 3 minutos, e é notório reparar que se possuísem uma duração maior, seriam ainda mais contemplativas. Porém, isso não é um problema gigantesco, já que não é costume da drag queen fazer músicas longas. E em “Zap Zum“, da Companhia do Calypso, a coisa passa como um foguete, mas a atmosfera que promove a todo momento uma desenvoltura ótima faz isso ficar de lado. O mesmo se repete na deliciosa “Não é Papel de Homem“, sucesso da banda Kassikó, onde a melodia repleta de simplicidade sintetiza uma faixa incrível e que nunca se cansa.

Para encerrar, “Bang Bang“, também da Companhia do Calypso, mixa tudo o que deu certo no disco inteiro e flecha um final certeiro com um clima faroeste que evoca uma sensação incrível vindo do resultado extremamente bem feito do álbum, que desbrava equilibradamente uma nostalgia que reluz o melhor da cultura norte e nordeste que marcou os anos 2000.

O pano de fundo que Pabllo Vittar implementou em todas as 9 faixas de “Batidão Tropical“, podem e devem ser considerados o melhor dela até aqui. Todas as obras ficam melhor a cada vez que se ouve, colocando sempre em destaque a realização da cantora aqui em tornar sua zona de conforto algo universal.

Curioso que na versão deluxe do último registro de estúdio, “Eu Vou”, faixa que se eterniza por um forró cativante, é o que mais funciona ali e nesse plus da era inteira. Tanto é que quem escutou o “111“, sabe que a pegada mais comercial do disco não funcionou, embora tenhamos boas composições, o trabalho não foi marcante o suficiente. Mas essa névoa se dissipa com a permanência da drag em suas raízes nesse trabalho aqui. Caso haja um volume 02 e ela opte por colocar mais músicas inéditas, o futuro da Pabllo Vittar pode ser extremamente marcante, mais ainda do que já é.

Nota do autor: 85/100

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