Crítica | Pabllo Vittar, “Noitada”

Banhado à ode da loucura da noite, “Noitada”, novo álbum de Pabllo Vittar, é reduzido em sua execução, mas levemente espaçoso na curtição

Com o surgimento do TikTok e o seu crescimento colossal para com o sucesso de uma determinada música, urgiu necessidade em construir hits que possuam uma duração menor que descacar uma laranja. Ao que parece ser, esse é um dos princípios para poder arpoar rumo aos grandes números.

Noitada“, 5ª álbum de Pabllo Vittar, é um pouco refém disso, mas não literalmente. Ainda assim, uma parte das canções presentes no novo registro não passam de mais de um minuto e cinquenta segundos. Fato esse, temos na verdade faixas (e não interlúdios) que nem chegam perto dos dois minutos. Esse ponto ponto não é uma grande novidade na carreira de Vittar — que sempre encaixou grandes hits em meros 2:30 —, mas aqui parece ser grave ao ponto de acometer a densidade da ideia.

Pode parecer chato, sim, reforçar que toda essa questão seja um diminuente enorme perante a totalidade do álbum, mas não faz muito sentido um projeto completo de estúdio não conter ao menos 30 minutos, caso não seja um EP — obviamente, isso não é uma regra, quem decide como abastecer uma obra é o seu criador. Somadas as 11 faixas (com exceção de “Cadeado” que está na tracklist, mas travada), temos 21 minutos e 55 segundos de uma noite, com um decorrer e um fim prematuro.

Crédito: Gabriel Renné

O sentido de que cada uma das músicas compõe uma parte da farra é admirável, mas é extremamente triste encarar como não é possível curtir até chegar no ápice devido ao tempo minúsculo. Se isso simula todo o êxtase e os momentos mais insanos da festa, “Noitada” é de verdade uma obra-prima.

Penetra” é grave como uma força excêntrica da discografia de Vittar e é em todo o seu entorno incrível; “Culpa do Cupido” reforça as sinergias do “Batidão Tropical” com um curto forró; e “After” poderia facilmente tornar-se uma das melhores músicas da carreira da drag queen. Aqui, o tom lírico conversa demasiadamente bem com a proposta do projeto, e a programação reverbera com imponência o abraço das batidas que cravam qualquer corpo que queira dançar.

No quesito produção, “Calma Amiga INTERLUDE” não precisa combater muito para ser categorizada como a melhor do disco. É um encontro dançante e impaciente com o calor e o frio da noite, mesmo que breve — mesmo sendo um interlúdio, é a grande destaque do projeto e incita aqui a idealização de uma versão extendida.

Todo o “Noitada” absorve com elegância a caracterização de farra, breu e luz do luar. E absolutamente todas as canções do álbum conseguem eludir isso com bastante personalidade. Mas há sempre um pedaço faltante para explorar e curtir com toda a intensidade possível que só Pabllo Vittar sabe como fazer.

Esse fragmento adicional, que não está ali, é necessário para a energia vital do projeto, que pela curta duração não consegue entrar numa síncope completa e atordoante (isso dói ainda mais por termos peças elevadíssimas), fazendo com que a fase mais dark da artista carregue consigo a fobia em ir mais além. Como parece faltar algo aqui, é justo a autocompreensão que essa primeira prévia do baile não é completa, mas ainda assim, muito bem feita.

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