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Crítica | Taylor Swift, “The Tortured Poets Department”

Morno e cansativo, 11º álbum de estúdio da cantora é carente de potência, experimentação e criatividade.


O que um turbilhão de sucesso pode fazer na vida de alguém? Como a admiração desenfreada e a aclamação quase sempre universal podem somar na vida de um artista? Consagrada em diversas frentes e sendo a única artista a vencer o Grammy de Álbum do Ano quatro vezes, é inegável o impacto e o alcance da cantora da Pensilvânia — mas entre tanto trabalho e retrabalho (com as regravações sendo lançadas entre os projetos inéditos e uma turnê que já dura mais de um ano), ainda sobra espaço para produções criativas, artísticas e originais?

Anunciado durante o Grammy de 2024 e super esperado pelos fãs, o novo álbum surpreendeu ao vir acompanhado de uma antologia. Completa, a saga de “The Tortured Poets Department” alcança 31 faixas e duas participações. Muito da produção se divide entre Jack Antonoff (que colabora com Taylor Swift na maior parte de seu trabalho recente) e Aaron Dessner, que esteve com a artista, por exemplo, no aclamado “folklore“.

Se o volume de trabalho impressiona, essa é uma das poucas coisas responsáveis por alguma surpresa na obra. O uso de batidas oitentistas, sintetizadores abafados, brilhos sonoros e a escolha pelo indie-soft-pop não são bem uma novidade: nem na discografia da cantora e nem de seus produtores. Muito do “Midnights“, álbum anterior de Taylor, e do próprio produtor (Antonoff) se sustentam sobre esses mesmos pilares. Dessa vez, os ingredientes diminuem a identidade sonora do álbum, e a sensação de que muitas das faixas poderiam facilmente estar no último disco dos Bleachers, projeto de Antonoff, demonstram um problema na inventividade ou frescor no material.

As parcerias tampouco impressionam. “Florida!!!”, com Florence, é um dos poucos pontos altos do álbum, que traz uma sonoridade diferente e agrega um tom de vida muito necessário quase na metade do disco. Mesmo assim, a faixa parece pouco uma soma de forças, mas sim uma faixa possivelmente descartada pela convidada. “Fortnight”, com Post Malone, é mais uma (das muitas) faixas de “destaque” do disco, em que os vocais discretos do cantor acrescentam pouco à música, e que no conjunto da obra, traz novamente a sensação de que estamos ouvindo o último álbum dos Bleachers: uma voz masculina sem muito destaque em instrumentos requentados e com pouco brilho.

Quando o disco está caminhando para seu encerramento (e chamando pouca atenção até ali), é difícil encontrar ânimo para encarar o dobro de faixas da antologia — e que também agregam pouco à sonoridade do projeto. Com uma experiência cansativa e maçante, são muitas letras e histórias para se assimilar em tão pouco tempo, mas também com pouca substância para seguir adiante: mesmo com a promessa de poesias potentes e uma vulnerabilidade cruel, a obra desponta com poucas composições e melodias expressivas ou marcantes — destoando de algo que é marca quase registrada em discos anteriores de Swift. É quase difícil assimilar que a artista que encabeça esse projeto é a mesma que entregou discos como “Red”, “1989” e “folklore”: trabalhos que impactaram a indústria, que se tornaram referenciais e que arrebataram audiências com qualidade.

É até complicado revisar algo com base apenas pelo material técnico apresentado, uma vez que ele parece raso de criatividade e se sustenta muito pelas questões midiáticas, ou seja, entregando um parecer mais íntimo sobre os relacionamentos mais recentes de Taylor. É fato que a maior parte dos artistas escrevem de um ponto de vista pessoal e íntimo, mas se você não se importa muito pela novela de ex-relações da artista, é como se o trabalho perdesse ainda mais qualquer tipo de atrativo ou relevância. Como Swift baseia suas obras em trazer esses relatos em suas faixas, é difícil também tentar se abster de críticas que beiram o pessoalismo.

O sentimento que permanece é quase como se essas emoções e narrativas merecessem mais maturação, Taylor precisasse de mais tempo para criar e, principalmente, novos produtores com quem se sentisse segura para experimentar e tomar novos riscos. O direcionamento de Antonoff agora é inatrativo e definitivamente cansativo. Somando isso a falta de um referencial amadurecido, o resultado é o trabalho menos interessante de Taylor Swift.

A fraqueza lírica e a sonoridade desanimada fazem parecer que os poetas estão à beira de um burnout, se esforçando para contar uma história que tem sua importância dissipada no pouco brilho em que está embalada.

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