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Crítica | Wandinha consegue fazer com que ninguém a defina

Série de uma das personagens mais queridas de A Família Addams, Wandinha tenta e consegue brilhar como o sol em uma obra chuvosa
Crédito: Netflix (2022)

Dentro do universo dos filmes, série e quadrinhos da irreverente Família Addams, há um choque ótimo entre o que é visto como diferente e como agradável. A junção ao desigual e divertido é nada mais do que algo convencional para eles. O família não se importa em não seguir regras — e nós automaticamente também não.

Essas características, presentes em Wandinha (Wednesday, no título original), é a intimidade para nos fazer questionar o quão bom é ser diferente. Durante 8 episódios, a filha prodígio da família Addams, lindamente interpretada por Jenna Ortega, encara a “hostilidade” de uma nova escola, a academia Nunca Mais, e os dramas terríveis de fazer novas amizades — ou assistir filmes de terror como “Legalmente Loira”.

Crédito: Netflix (2022)

É bem essa a definição que a produção merece: algo terrível, dentro dos dialetos da obra, e bom justamente por isso. Quem encabeça essa tomada de resolução é Ortega, tornando ainda mais óbvio ser uma preciosidade de atriz.

Jenna Ortega entrega uma Wanda que sai direto de uma crônica gótica em que a protagonista é corajosa, acentuadamente não irônica e centrada. Sua versão torna a obra encantadora de assistir. Os braços juntos do corpo, as decisões, as falas mórbidas e os sorrisos minúsculos no canto do rosto ativam perfeitamente a educação de uma personagem excêntrica, que vive em nosso subconsciente nostálgico.

Gwendoline Christie aparece repentinamente e soa perspicaz como a diretora da Nunca Mais, se tornando um encaixe perfeito no elenco. O restante dos atores, principalmente os jovens, se saem muito bem, mostrando personagens envolventes. Mas todos sabem que a Mãozinha rouba a cena em todas as vezes que aparece.

Christina Ricci — a Wanda original da década de 90 — contracena com a nova versão, a de Jenna, e emociona aos mais conectados com a história devido às metáforas escolhidas pelo roteiro. Ver Ricci e Ortega juntas é, no mínimo, divertido de assistir.

Por outro lado, a imersão dos núcleos é o que acaba sendo um pouco demais para o cerne de “Wandinha“. Enquanto o piloto é hiper atrativo e mostra um fio narrativo já passável e bem aplicado ao universo em questão, o dissolver da trama parece às vezes invasivo demais e sem destino.

Até alguns tantos minutos do episódio quatro, as subtramas mantêm-se no eixo, mas pesam na tomada de decisões, indo para tantos caminhos que, não só a protagonista parece estar confusa, como também quem assiste. Sem contar que alguns dos hematomas causados na escrita chegam a ficar fatídicos.

Uma fera a solta, uma profecia, a família no pé, escola, mistério e até romance se contraem e extrapolam na divisão de fatos. Muito fica no ar, mas nada fica no ar. Assim como Wandinha consegue fazer com que ninguém a defina, a série faz o mesmo.

A mão de Tim Burton (que dirige alguns episódios), mal pesa e não chega a fazer muita diferença. O mundo e as escolhas feitas para mostrá-lo é, visualmente, escuro e chuvoso, mas não difere em nada que já não tenhamos visto. Sua presença na série é vívida, mas não o bastante para ser marcante.

E ainda para negativar, o tempo que circunda a protagonista se passa nos dias atuais e acaba ficando estranho, levndo em consideração a temática atemporal que a A Família Addams sempre carregou. Uma provável escolha para fazer com que a Geração Z se veja mais ali. Tal tentativa é, na maioria das vezes, falha. A proposta funcionaria e replicaria melhor nos conceitos dos Addams se passando em qualquer dobra de tempo, menos na época do TikTok.

Como um todo, “Wandinha” oferece um ótimo programa de diversão para acompanhar sem intenção e esforço uma personagem que marcou décadas de fãs e aqui ganha uma versão incrível interpretada por Ortega — mas somente isso. A cena do baile consegue captar esse sentimento do início ao fim e é um dos grandes destaques da atriz na série.

“Wandinha” é a escolha perfeita para maratonar num dia de chuva e constrastar com o clima da produção.

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