O escutai esteve nos dois shows da turnê HOLY FVCK TOUR de São Paulo, em Belo Horizonte e também no Rock In Rio. Duas semanas após o lançamento do novo álbum, Demi Lovato entrega shows eletrizantes no Brasil e escancara a vulnerabilidade como seu maior êxito. Indo por partes, para nós que vimos em Belo Horizonte, tivemos emoções conflitantes.
Com um aparato técnico decepcionante, o palco não possuía sequer um telão — apenas os de visão lateral para os espectadores mais distantes. Por um lado, concentram-se os olhos só para Demi, sua banda toda feminina e o talento de todas ali. Por outro, saímos do show com a sensação de que Demi — e os fãs, que pagaram caro (quase R$ 500 na meia entrada da pista premium), mereciam mais. Com um show recheado de rock, desde as músicas “ambiente” antes de Demi tomar o palco até o fim de sua apresentação, sentimos que certa pirotecnia como chamas ou alguns efeitos visuais, carregariam a apresentação para outro patamar.
Com a mesma duração dos shows de São Paulo e a mesma lista de músicas, Demi Lovato se fez presente por cerca de uma hora e meia, cantando seus maiores hits em versões rockeadas e mais da metade do álbum novo.
O destaque do show é, sem dúvida, sua voz. Os vocais impressionavam mesmo quem já conhecia a potência de Demi, que não se intimidou com o vento frio que passeava pela Esplanada do Mineirão. As oito mil pessoas presentes também não se importaram, e gritavam todas as letras com a fidelidade que a cantora merecia.
Embora em muitos momentos a cantora apresentasse um olhar triste ou vazio, poucos sorrisos e pouca interação com o público, é compreensível dizer que Demi segue tentando, com força, se fazer uma artista concentrada e presente. As letras das músicas carregam mensagens poderosas, traumáticas e até tristes, principalmente quando canta faixas do álbum mais recente, o HOLY FVCK.
“Freak” e “Eat Me” são algumas das faixas do novo álbum que mostram como a cantora está, talvez, em seu melhor momento de direcionamento artístico. Os solos poderosos de guitarra e as instrumentações pesadas parecem ser o lugar em que Demi Lovato se sustenta para brilhar. Sua presença de palco e entrega no rock é incrivelmente superior e mais convincente do que qualquer estilo que a cantora já tenha demonstrado antes, e essa combinação fez o chão da Esplanada tremer — literalmente.
Em outros momentos, demonstrando uma vulnerabilidade absurda em canções como “29” e “Happy Ending”, a cantora apresenta temas delicados com uma crueza impressionante, onde denuncia um relacionamento em que ela tinha 17 anos e esteve com um homem de 29, ou quando canta sobre a busca por um final feliz, mesmo tendo quase morrido e não se sentido bem no céu.
Músicas antigas também marcaram presença na setlist e arrancaram suspiros e gritos dos fãs mais apegados. “Remember December”, “La La Land” e principalmente “Don’t Forget” reforçam como a essência do som mais pesado sempre se fez presente na arte da cantora, e lhe cai tão bem. Algumas dessas músicas foram lançadas cerca de 14 anos atrás, e soam totalmente novas e frescas em um show que valoriza esses arranjos.
“Skyscraper”, uma das músicas mais famosas e querida pelos fãs, marcou um momento íntimo entre a artista e os fãs, que levantaram cartazes de apoio para a artista. Complicada, a carreira de Demi já passou por situações delicadas que vão de polêmicas diversas a uma triste overdose. Claro que muito disso é cantado e exposto no show, mas é ali que vemos em Demi um ser humano em tentativa.
Foi bonito perceber como os fãs se esforçam para ser uma espécie de rede de apoio para a artista, que embora não tenha retribuído com tantos sorrisos, retribuiu talvez da melhor forma que consegue agora: se concentrando na missão de entregar mais um show incrível, de passar para mais pessoas sua mensagem, para ecoar sem medo tantos traumas.
O maior êxito de Demi, no fim, não é apenas sua voz impressionante. É sua capacidade de se mostrar entregue, relacionável e em tentativa, enquanto nos deixa claro que sentimentos não bonitos também nos fazem humanos inteiros.