Crítica | Drive My Car e as estradas emocionais

Nós assistimos Drive My Car, longa japonês favorio ao Oscar 2022, à convite da MUBI Brasil e aqui está o que achamos

Desde 2020, a Academia do Oscar vem renovando sua visão quanto a escalação de filmes para a categoria “Melhor Filme”. Com Parasita, uma produção Sul-coreana de Bong Joon-ho, as portas para produções orientais concorrerem (e até vencerem) foram abertas.

Agora, vem Drive My Car, um filme japonês dirigido por Ryusuke Hamaguchi, baseado em um dos contos da obra Homens sem Mulheres de Haruki Murakami, concorre a principal categoria do Oscar.

O filme conta a história de Yūsuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima), um ator e dramaturgo que de forma repentina perde sua esposa. Anos se passam e Kafuku é convidado a dirigir a peça Tio Vânia. Além disso, contratam para ele uma motorista, Misaki (Toko Miura), uma jovem muito quieta com um passado triste. Juntos os dois percorrem várias estradas e caminhos emocionais.

Imagem: O2/MUBI (Reprodução)

Em grande parte da película é perceptível uma preocupação estética e um uso de cores para destacar a importância dos indivíduos, por exemplo, o carro de Kafuku – enquanto todos os automóveis são cinza ou preto, o Saab do protagonista é de um vermelho vivo, evidenciando como ele não é apenas um elemento de cena, mas um personagem.

Ainda sobre o carro, a história deixa evidente como as relações são construídas e mantidas a partir do ato de dirigir – por exemplo: quando Kafuku relembra à sua esposa, Oto, o conto que ela criou; as gravações que ela fazia para ele, e também a como aos poucos Misaki se abria para Kafuku.

Um grande destaque do filme é como ele trabalha a ideia de luto, afeto, mágoa e culpa. É perceptível como os protagonistas vivem essas sensações de forma tão intensa, que eles desenvolvem traumas. Um exemplo disso é a forma como Kafuku lida com a peça Tio Vânia e seus atores, principalmente Takatsuki (Masaki Okada), que de certa forma vira seu bode expiatório. Ou até mesmo a difícil relação que Misaki tinha com sua mãe, que a levou a ser uma motorista silenciosa e muito atenta.

Imagem: O2/MUBI (Reprodução)

Ademais, a história também explora bem como o afeto e o processo criativo estão relacionados. Quando Oto (Reika Kirishima), esposa de Kafuku tem relações sexuais, ela cria roteiros. Este foi um hábito que ela desenvolveu após uma grande perda, que a paralisou profissionalmente. Ou seja, ela busca o conforto e suas ideias a partir do sexo.

Muito se discutiu quanto a duração do filme, já que o longa possui cerca de 3 horas e na atualidade, com tantas mídias para explorar, tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo – um filme de 3 horas parece inviável. Contudo, sua história precisa dessa duração, tanto para o desenvolvimento, quanto pelo seu conceito, principalmente quando se pensa na preocupação do protagonista em passar por viagens longas, viver cada segundo de seu passeios no carro.

Imagem: O2/MUBI (Reprodução)

Drive My Car vem ganhando um grande destaque e é um dos favoritos do Oscar, e isso não é atoa! Com as ótimas atuações de Hidetoshi Nishijima, Toko Miura, Reika Kirishima e Masaki Okada, a grande direção e direção de arte tornam este um excelente filme e que ainda gerará muita discussão.

Drive My Car está disponível nos cinemas e com exclusividade na MUBI Brasil a partir de 01 de abril.

Nota: 98/100

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