GRAMMYs 2023 tenta amenizar polêmicas, mas repete os mesmos erros

Cerimônia do GRAMMYs 2023 entrega edição que tenta apagar polêmicas, mas comete equívocos que as reforçam ainda mais

Exibida pela TNT e pela HBO Max, a 65ª edição do GRAMMYs tinha tudo para ser um grande marco na história do evento, porém, mais uma vez, a Academia derrapou feio nas escolhas e decepcionou na tentativa amenizar polêmicas do passado.

Há um bom tempo celebração se envolve em polêmicas de cunho racial, xenofóbico e LGBTfóbico. Em 2012 por exemplo, a cantora Nicki Minaj foi a público criticar o evento, já em 2021 foi a vez do cantor The Weeknd, que mesmo com todo sucesso do álbum ‘After Hours’ não recebeu nenhuma indicação, fato que se repetiu esse ano com o incrível ‘Dawn FM.

Para diminuir o impacto negativo desses últimos anos, o GRAMMYs bem que tentou modificar algumas coisas para edição 2023, mas o tiro saiu pela culatra e muito disso é reflexo das escolhas da Recording Academy.

Conduzida pelo comediante Trevor Noah — famoso pelo humor ácido sobre o racismo — a premiação reuniu um número considerável (e maior do que de costume) de artistas pretos. nas indicações, como apresentadores e performers.

O GRAMMYs chegou a destinar quase 15 minutos para um show em homenagem aos 50 anos do hip-hop com gigantes do gênero como LL Cool J, Grandmaster Flash, Missy Elliott, Lil Wayne e Salt-N-Pepa.

O enaltecimento da cultura LGBTQIA+, também fez parte da edição, tendo Kim Petras como a 1ª mulher trans a ganhar um gramofone na edição americana pela colaboração com Sam Smith em ‘Unholy’ — vencedora na categoria de ‘Melhor Performance Duo’.

A performance da canção foi uma das mais comentadas nas redes sociais e a dupla foi introduzida no palco do evento por ninguém menos que Madonna, outro grande ícone do pop e grande referência do cenário LGBTQIA+. 

Ficou nítido para quem assistia, o desespero da Recording Academy de se livrar das polêmicas, amenizar as críticas sofridas e tentar apagar de vez as exposições apontadas em 2019 pela ex-presidente da organização, Deborah Dugan.

A edição de 2023 do GRAMMYs derrapa nas escolhas e segue evidenciando preconceito velado

O empenho da academia para entregar uma premiação que demonstrasse seu desejo de mudar ou uma possível evolução, falhou nos pequenos detalhes e acabou evidenciando ainda mais seus problemas e preconceitos.

Após quase 50 anos sem ter um brasileiro indicado, a cantora Anitta marcou a presença do país na categoria de Artista Revelação, mas perdeu o prêmio para a americana Samara Joy. Cantora de jazz extremamente talentosa que ficou conhecida no TikTok com uma versão de “Take Love Easy” de Ella Fitzgerald.

Por mais que seja sim uma grande revelação, a escolha da artista é completamente arbitrária se comparada ao desempenho e carreira de Anitta. A brasileira virou um fenômeno mundial e conquistou espaços que sua concorrente ainda não chegou nem perto. 

Isso evidencia a xenofobia da premiação quando o assunto é o Brasil, especificamente, que como a própria artista brasileira pontuou no tapete vermelho “é um país latino sim, mas que não fala espanhol”.

Isso é uma barreira evidente quando se trata de valorização da nossa arte lá fora, ainda mais em um cenário que a música latina já tem se destacado com nomes como Rosalía e Bad Bunny, por exemplo.

Beyoncé também foi uma das grandes injustiçadas da edição, mesmo fazendo história e se tornando a maior detentora de gramofones da história do Grammy Awards. A artista superou o maestro Georg Solti e alcançou a marca de 32 prêmios.

Sendo consagrada a maior vencedora, é de se “estranhar” que depois de 88 indicações ao prêmio em diversas categorias, a cantora ainda não tenha um gramofone sequer na categoria de Álbum do Ano, na qual já recebeu 4 indicações. 

São nesses detalhes que se enxerga o descomprometimento da Recording Academy em realmente mudar seus posicionamentos, principalmente quando se atrevem a dar prêmios “menores” para uma cantora que já provou inúmeras vezes a sua excelência, mas continuam dando a maior honraria da noite para artistas brancos.

Não é desmerecendo o trabalho de Harry Styles, que entregou sim um ótimo álbum, mas fazendo uma análise comparativa de carreira, entrega e até mesmo das características disruptivas de uma obra, fica claro que o prêmio não deveria ter sido dado ao cantor.

A Recording Academy e o Grammy Awards tem muito que evoluir e deixar de uma vez por todas seu conservadorismo de lado. Todo prêmio é importante na carreira de um artista, sem sombra de dúvidas, mas hoje, os fãs já sabem distinguir  bem a diferença entre prêmio de consolação e o reconhecimento merecido de um artista.

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