Com line-up ousado, o C6 Fest estreou em São Paulo nos dias 19, 20 e 21 de maio. O festival, que também teve uma edição carioca quase simultânea, não poupou esforços para reunir um elenco de ponta e oferecer uma estrutura de altíssima qualidade, mas a baixa adesão pelo público evidenciou que a opção por setorizar o evento talvez não tenha sido a melhor escolha.
Descendendo de projetos históricos como Free Jazz e Tim Festival, o C6 fez jus ao legado e apresentou uma seleção de alguns dos mais interessantes artistas do momento, mesclando com figurões queridos do público e apostas ousadas. Destaque para os shows de Christine and the Queens, Mdou Moctar, Jon Batiste e Weyes Blood, além da verdadeira rave promovida pelo duo de música eletrônica Underworld.
Tendo como cenário o Parque do Ibirapuera, o festival dividiu sua programação em três palcos, tendo um ingresso para cada área. Também estavam disponíveis passaporte (que chegava a custar R$ 3,5 mil + taxas) e combos de setores. Essa separação confundiu e espantou o público. Logo no primeiro dia, uma pequena multidão ocupava apenas um terço da Tenda Heineken, com capacidade para 5 mil pessoas, durante o show mais lotado da noite — da banda inglesa Dry Cleaning.
Com exceção do Auditório do Ibirapuera, cujos ingressos esgotaram, os demais setores também não pareciam lotados nos dias seguintes, mesmo durante as apresentações de headliners como Kraftwerk e Caetano Veloso.
A localização também ajudou a compor a cenografia elaborada do evento. Na arena externa do auditório, a fechada do prédio desenhado por Oscar Niemeyer virou tela de projeção para os visuais dos shows que aconteceram ali. A ideia fez muito sentido durante as apresentações de Underworld, ganhando cores e movimentos, e Caetano Veloso, servindo de telão para um grupo de pessoas que assistiam o show do lado de fora, na área livre do parque. Contudo, o espetáculo do grupo alemão Kraftwerk acabou perdendo brilho por não contar com o tradicional painel de LED que acompanha os músicos e arremata a experiência.
Outro espaço bem ocupado foi o PACUBRA, como é conhecido o Pavilhão das Culturas Brasileiras. O espaço virou pista de dança para festas e iniciativas como Gop Tun, Feminine Hi-Fi e Selvagem, além do projeto novaiorquino Disco Tehran, que une música e cultura iraniana. Por lá também havia um sushi bar, ponto de bebidas, um mega lounge para descansar e a loja oficial do evento, com camisetas (R$ 78), shoulder bags R$ (80) e mochilas (R$ 240). Já a tenda, apesar de coberta e acarpetada, tinha a visão obstruída de alguns pontos por árvores do parque que foram incorporadas à cenografia.
Entre a tenda e o PACUBRA, uma área verde chamada de Village recebeu stands de bares e restaurantes descolados da cidade oferecendo drinks elaborados e pratos que iam de hamburguer (de R$ 33 a R$ 45) até comida grega (entre R$ 30 e R$ 45). Nos bares, era possível comprar cerveja em lata (R$ 16), chopp (R$ 16), gin tônica (R$ 20 lata e R$ 30 no copo personalizado), refrigerantes (R$ 10) e água (R$ 7, entregue sem a tampa). O espaço também reuniu algumas das ativações de marca, onde era possível criar conteúdos e ganhar brindes.
Com vários bares bem distribuídos, filas também não foram um problema durante o C6 Fest, exceto nos caixas móveis para recarga dos cartões de consumo (cuja retirada era gratuita, bastando recarregar apenas o valor a ser utilizado). Até para usar os banheiros — vários, amplos, com estrutura refinada e constantemente limpos — não era preciso esperar, mesmo durante os momentos de maior movimentação.
Com tantos pontos positivos, a primeira edição do C6 Fest em São Paulo terminou entregando uma experiência de alta qualidade. E mesmo que a setorização com preços elevados tenha afugentado muita gente interessada na programação, deixando a plateia algumas vezes monótona, a expectativa por uma próxima edição é grande.