A revolução musical chamada TikTok

Você já foi influenciado pela maior plataforma de descoberta musical na atualidade: o TikTok

Não importa o quão fã de música você seja, diretamente ou não, você já foi influenciado pela maior plataforma de descoberta musical na atualidade: o TikTok. O app de compartilhamento de vídeos foi renomeado após a compra de seu predecessor, o “Musical.ly”. Nos primeiros meses pós aquisição, tudo parecia ser o mesmo: mesmas funcionalidades e mesma forma de dublar vídeos e áudio famosos e viralizar na internet.

Até que, lá pelo final de 2018, a usuária @nyannyancosplay (que também é cosplayer) postou um vídeo dançando e dublando ao som da canção “Mia Khalifa”do rapper iLOVEFRiDAY e viralizou de uma forma que ninguém tinha imaginado, inspirando inúmeros remakes e milhões de visualizações. De acordo com o site “Insider”, ao final daquele ano, “existiam quase 274 milhões de vídeos ao som daquela música no TikTok”. Foi aí que tudo começou e a popularidade do app cresceu vertiginosamente. Danças e brincadeiras ao som de músicas-chiclete viraram moda e alcançaram um patamar tão elevado ao ponto de começarem a ditar tendências para o mercado fonográfico mundial.

O primeiro grande beneficiado dessa história toda foi o Lil Nas X e sua “Old Town Road”. Um pequeno trecho do futuro hit viralizou na plataforma, sempre com pessoas dançando e, bizarramente, se tornando caubóis. Por mais que o sucesso da faixa não se deva totalmente à rede social (Billy Ray Cyrus com seu vozeirão foram um grande adendo), Lil Nas X soube aproveitar a oportunidade e manter a canção em alta por meio de inúmeros remixes e uma forte presença no Twitter. 

Já o caso da música “The Git Up”, de Blanco Brown, é a prova definitiva do poder do TikTok na indústria. Embarcando na maré country/pop que invadiu os EUA no segundo semestre de 2019, a canção não teve a ajuda de nenhuma mega voz do country norte-americano para chegar ao topo das paradas. Sua popularidade veio através de um desafio de dança (criado por @ajani.huff) que viralizou no aplicativo. Brown não ficou parado e aproveitou toda a situação: criou tutorial da dança no youtube e convidou “tiktokers” famosos para reproduzir o desafio no clipe da canção. O resultado foi astronômico: “The Git Up” alcançou o topo da US Hot Country Songs na Billboard.

Muitos outros hits embarcaram no sucesso do TikTok, mas o principal feito do app é a habilidade de gerar visibilidade a artistas até então desconhecidos. O sucesso de Blanco Brown com sua canção de estréia não é um caso isolado. Quase um ano após o lançamento, o cantor Lonely God, postou um vídeo na rede social pedindo aos seguidores que utilizassem seu single “Malboro Nights” em seus vídeos. O resultado? Um trecho da faixa foi usado em quase meio milhão de vídeos, muitos deles com milhares de visualizações. Um alcance quase que inimaginável para um cantor indie. A estratégia foi copiada por muitos artistas, que obtiveram resultados parecidos ou até melhores.

O que faz algo viralizar?

Talvez essa seja a maior pergunta do meio artístico no último ano. É possível imaginar hordas de empresários e analistas sentados em suas mesas de reuniões ao lado dos grandes artistas da atualidade se perguntando: “Por que o vídeo de @nyannyancosplay ao som de ‘Mia Khalifa’ viralizou?”. Talvez seja pela dança fácil de copiar, o fato de ter entrado nos trendings do aplicativo ou talvez por ser uma diss track (basicamente, uma faixa falando mal) para uma estrela pornô em resposta a um tweet que nem era real.

Qualquer um desses fatores pode estar correto, mas o fato é que, com o TikTok virando uma plataforma de descoberta musical, além de uma poderosa rede social, cada vez mais artistas – sejam eles gigantes ou independentes – podem e devem usar o app como forma de promoção de seus trabalhos. Exemplos disso são os novos singles de Camila Cabello e dos Jonas Brothers, “My Oh My”e “What A Man Gotta Do”, respectivamente, apelam para refrões com trechos grudentos e com alto potencial viral (o segundo já vem até com dancinha pronta).

O app que mudou de vez a forma das músicas que conhecemos

A era dos streamings foi um divisor de águas na indústria musical. O site “Fortune”, no início do ano passado, já havia noticiado que as canções estavam ficando menores por conta de serviços como Spotify e Apple Music. Como o lucro vem diretamente da reprodução de faixas, os artistas tendem a fazer muitas músicas curtas ao invés de poucas músicas longas.  Dessa forma, todos saem ganhando: fãs possuem mais material e o artista, mais lucro. De forma clara, uma faixa de 10 minutos presente em um disco é mais rentável e lucrativa se dividida em partes de dois minutos cada.

Com a popularização do TikTok, essa mudança é ainda mais perceptível. O motivo é simples: os usuários possuem de 10 a 20 segundos de uma canção para criarem seus vídeos e virarem referência. A partir disso, os próprios criadores (compositores e produtores) entendem que, o caminho para o topo das paradas passa por um refrão rápido, chiclete e “reproduzível”. O processo de composição sofre então por uma transformação, onde as partes mais importantes da faixa passam a ser esses “clips removíveis”, que funcionam quase que independentemente da faixa completa.

Um possível problema social

Em diferentes partes do mundo, o TikTok possui uma política de censura bem restrita a alguns tópicos, tais como: política, religião, temas LGBT+, entre outros. ainda não se sabe ao certo o alcance dessa restrição e seus efeitos. Até porque, propositalmente ou não, muitos desses assuntos não ganham espaço dentro do app. O grande risco é ter uma ferramenta de descoberta cultural tão popular e crescente sendo “controlada” por diretrizes tão duras.

Os números do TikTok são incríveis e assustadores, de acordo com o “Global Web Index”, 41% dos 1 bilhão de usuários da rede social tem entre 16 e 24 anos de idade. Os jovens já estão vivendo essa mudança na indústria e na forma de consumo cultural. Por enquanto, podemos acompanhar essa influência nos charts, mas ainda não é certo o seu possível impacto na arte como um todo.

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