Em um dia nublado e de sereno que refrescou os 100 mil presentes no Rock In Rio, Lexa, Ludmilla, Liniker, Dua Lipa, Ivete Sangalo, Rita Ora e Juliette são alguns dos nomes femininos que fecharam o line-up da edição.
Os portões abriram às 14h de uma tarde de céu fechado para receber seus cem mil pagantes pelo último dia. O primeiro palco a receber um show seria o Sunset, com Liniker no comando e convidando Luedji Luna. O show histórico das artistas arrebatou quase todo o público presente, que entoou as mais de 10 músicas do repertório, interpretado pelas artistas e uma banda impecável de quase 15 músicos.
Com faixas que se tornaram clássicos instantâneos do Índigo Borboleta Anil como “Lili”, “Presente”, “Diz Quanto Custa” e “Antes de Tudo”, Liniker emocionou os presentes também com um discurso potente sobre a excelência da mulher preta, trans e travesti. E foi o que vimos: excelência do começo ao fim.
Com “Lua de Fé” a cantora trouxe Luedji Luna, que também cantou algumas músicas de seu repertório solo, como o hit “Banho de Folhas”, antes que Liniker voltasse com outro figurino para um fim energético de um show histórico. Depois, o mesmo palco recebia uma homenagem à Elza Soares, enquanto o Palco Mundo se preparava para receber mais um mega show de Ivete Sangalo.
A artista, que concluiu esse ano sua décima sétima participação no festival, provou porque ainda é convidada para abrir a festa no Palco Mundo edição pós edição. Em um dos melhores shows da noite, Ivete surgiu tocando o riff de guitarra da clássica “Sweet Child O’ Mine”, de Guns N’ Roses. Lembrando que, na última edição, Ivete surgiu no palco arrasando num super solo de bateria!
Enganou-se quem pensava que as surpresas terminaram ali. Com fogos de artifício que iluminaram a noite nublada a todo tempo, o ponto mais alto da noite talvez tenha sido o vídeo interlude da participação da cantora em 2011, pouco depois do nascimento de seu primeiro filho, fazendo uma homenagem a ele. No vídeo ela diz que, em breve, ele a veria do telão em cima daquele palco, e que ela havia nascido apenas para esperar por ele. Com todos emocionados, Marcelo entrou no palco usando um fraque, sentou ao piano e tocou “Quando a Chuva Passar”, ao lado da mãe, provando que mais que “a vendo no telão”, ele está trilhando seu caminho em conjunto ao furacão que é Ivete.
Misturando hits antigos e consagrados à novas músicas, Ivete Sangalo ainda fez uma declaração política anti-armas enquanto cantava a emocioante “Muito Obrigado Axé”, e pouco depois convidava todos a “mudarem tudo” no dia da votação presidencial, arrancando gritos energéticos da plateia.
Mas a noite estava apenas começando. Era hora de voltar ao Palco Sunset que, após receber a americana Macy Gray, se iluminava para receber o super show de Ludmilla, que parou a Cidade do Rock.
Com uma estrutura impressionante, Lud cantou por mais de uma hora uma seleção de hits que são apenas não um resumo de sua carreira, mas a cara do Rio. E enquanto brincava com o fato de passear por diversos ritmos, Ludmilla trouxe todo seu Ludsessions em parceria com Glória Groove para os românticos, “Rainha da Favela”, “Verdinha” e “Onda Diferente” para os mais animados, o bloco “Numanice” e “Maldivas” (ao lado de Brunna Gonçalves, sua musa inspiradora e esposa) arrancando gritos ensandecidos do público e uma surpresa especial.
Em uma mesa gigante, a cantora se somou à dupla Tasha e Tracie, revelações do rap e hip hop, Majur, Mc Soffia e Tati Quebra Barraco — que causou a maior comoção na platéia lotada.
Com sua reunião de hits e todas as mulheres que convidou para sentar em sua mesa, Ludmilla cravou seu nome na história do festival e no coração e memória de todos os presentes, que sempre se lembrarão desse como um dos melhores shows que o Rock In Rio já teve.
Rita Ora nos levou de volta ao Palco Mundo, para um show repleto de hits e carisma. “Ritual”, “For You” e “Anywhere” levaram os fãs ao delírio. Mal sabiam eles que Rita ainda tinha uma carta na manga: Pabllo Vittar foi chamada ao palco e cantou “Amor de Que”, e até quem estava no ponto mais distante da Cidade do Rock conseguiu sentir a vibração do momento.
Megan Thee Stallion também foi atração no Palco Mundo, trazendo um show calorido — e até um pouco caótico — para os presentes. A artista, que conta com alguns hits na curta carreira trouxe músicas como “WAP” e “Body” para animar o público. Usando até uma roupa típica do carnaval brasileiro em uma homenagem e sempre frisando como estava feliz de estar conosco, a artista entoava seus bordões e chamou vários fãs no palco. O momento, que certamente alegrou os sortudos, entediou boa parte da audiência — que começou a deitar no gramado ou se entreter em outros espaços do festival. O grande “meet and greet” no palco durou mais que dez minutos, e fez o show perder boa parte do pique.
Na retomada, Megan entoou os super hits “Sweetest Pie”, “Her” e “Savage” — recobrando parte da empolgação da platéia, antes de ir embora dizendo que queria poder ficar mais.
Enquanto isso, Lexa tomava conta do Espaço Favela em um show lotado, que fez todos os presentes se perguntarem porque ela não estava em um palco maior. Com a presença de uma banda que levou os arranjos de suas músicas mais para o pop que para o funk, ficou mais evidente que a artista merece mais destaque nas próximas edições.
Por fim, a principal headliner da noite subiu ao Palco Mundo. Com meia hora de atraso no show ao vivo e uma breve polêmica sobre adiar sua transmissão na TV em adicionais 30 minutos, Dua Lipa se apresentou com a Future Nostalgia Tour, presenteando os fãs brasileiros com muito carisma, uma setlist de hits do começo ao fim e uma produção digna de encerrar o festival.
Com as trocas de roupas e coreografias características dos shows, Dua repetiu a mesma fórmula do show de São Paulo — que assistimos e te contamos tudo aqui! De fato, em São Paulo ela pareceu mais emocionada e natural: talvez por ser o primeiro show no Brasil depois de se tornar uma mega estrela, ou talvez por um nervosismo trazido pela transmissão e pelo público de 100 mil pessoas.
Mesmo assim, Dua se demonstrou inabalável enquanto alternava hits de seu álbum mais recente, cantando inteiro o Future Nostalgia, duas músicas do primeiro álbum e algumas de suas parcerias de sucesso, como “Electricity”, “One Kiss” e “Cold Heart”, com Elton John. Com o conceito bem amarrado e show ensaiado, Dua coroou os fãs brasileiros como os melhores do mundo, e encerrou sua passagem no Brasil em grande estilo, com fogos de artifício que encantaram os presentes ao som de “Don’t Start Now”.
Shows à parte, a organização do Rock In Rio aparentou receber um desafio maior no domingo, que parecia o dia mais lotado de todos, mesmo com a mesma quantidade de ingressos vendidos. Eram muitos os relatos de “fila pra tudo”, que pagantes presentes em outros dias disseram estar muito mais “cheias” no domingo. Mesmo assim, o festival comportou bem os pagantes que precisavam ir e vir, bem como se alimentar e realizar outras atividades nesse meio.
Fica nossa reclamação somente para melhorias no som — característica essencial em festivais de música. O Palco Sunset não comporta a quantidade de espectadores em shows como o de Ludmilla, e quem fica mais para trás não consegue escutar. Mesmo com a transmissão no Palco Mundo, o áudio estava atrasado e causou incômodo em quem estava no meio do caminho, que acabou desistindo e optando por outra atividade.
Mesmo assim, saímos encantados com o festival como um todo: desde a atenção às atrações puramente femininas que brilharam em todas suas nuances e especificidades, passeando entre o rap, axé, hip hop, funk, pop, soul e r&b. Não importando se no Palco Itaú, Sunset, Favela ou Mundo, o Rock In Rio provou que a pluralidade é seu maior atrativo — e nesse dia, acerto.