Crítica | ‘Saltburn’ brilha nos visuais, mas carece de ousadia

“Saltburn” carece de ousadia, mas não deixa de tentar traçando muita maturidade em relação ao que se diz loucura e em simultâneo, cuidado

O modo como “Bela Vingança” colocou Emerald Fennell nos holofotes foi como uma bonita saudação: ela poderia proporcionar como ninguém uma escrita e direção ácida e, ao mesmo tempo, sensual (no que se diz estilo e maturidade).

Três anos depois, ela volta com um pouco menos de assertividade na escrita, mas totalmente sagaz nas lentes com o obsessivo ‘Saltburn‘. Diferente de sua estreia em um longa-metragem, o novo filme carece de ousadia, mas não deixa de tentar traçando muita maturidade em relação ao que se diz loucura e em simultâneo, cuidado. Fennel coloca em tela o insano Barry Keoghan drenando uma paixão por Jacob Elordi.

Keoghan é sem precisar de muito, incrível, assumindo uma posição neutra e íntima em todo o seu papel como Oliver, esse sentido mais contido é algo típico seu, mas aqui tem algo diferente. Já Jacob Elordi tem aqui o usual personagem típico visto em ‘Euphoria’, ele não se sai ruim, mas fica nisso.

O caos se reverbera com tamanha facilidade pelas lentes da atriz, diretora e roteirista britânica, sempre tendo um cuidado em transportar o espectador para um caminho devidamente controlado diante das próprias inseguranças do filme; que não entende muito do seu papel no real intuito em impressionar e incomodar.

Sem surpresas, ‘Saltburn’ tenta criar consciência por espaços básicos

As nuances mostradas pelas lentes de Emerald Fennell e atmosferas são os elementos visuais que mais suprem a falta de uma narrativa que cause arrepios nos momentos certos. A mansão, o labirinto, o calor, os frames dos corpos, todo o espiritual dos anos 2006 (indo talvez até 2008) são capazes de gerar muito conforto; obviamente como um combustível para criar choque.

Essas posições colocam Fennell de novo em um patamar para ficar de olho. Sua escrita aqui não funciona em todas as áreas, mas ainda assim o resultado é algo sexy e voraz o suficiente para entendermos que ela sabe o que tá fazendo.

Perto do fim, o filme só aceita o seu destino e o que se espera é justamente o que é mostrado: sem colocar ou remover, tornando a conclusão insossa. ‘Saltburn‘ gera mais do mesmo sem ceder muito espaço para uma possível construção (definitivamente) não épica, mas divertida, original e consciente, como o excelente “Promissing Young Woman”, estreia de Emerald Fennel na direção e roteiro.

É nítido que o longa tenta deixar uma marca profunda (seja pela direção em si ou os fatos mostrados) sobre humanidade, mentiras e um grande pé na psicopatia, mas talvez fosse melhor achar outro método de gerar consciência.

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