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Crítica | “I Wanna Dance With Somebody” não nos permite dançar com a estrela

Longa que retrata a trajetória de uma das maiores estrelas do mundo não entrega a substância da cantora.

Pouco se precisa dizer sobre Whitney Houston: uma das vozes mais marcantes da indústria da música ainda permeia nosso imaginário, nossas lembranças e o coração de muitos de nós. Logo, o desafio de retratar sua história e trajetória na indústria da música, seu talento e seus problemas afetivos, sua vida íntima e familiar, o problema com drogas e até sua morte prematura são um desafio imensurável.

Crédito: reprodução (2023)

Naomi Ackie (The End Of The F***ing World e Star Wars IX – The Rise Of Skywalker) recebeu o desafio de dar corpo a estrela, enquanto o roteiro ficou a cargo de Anthony McCarten (Bohemian Rhapsody) e a direção de Kasi Lemmons (Harriet). Partindo daqui parecíamos ter um time competente e de peso. Naomi até tem um bom desempenho como Whitney: a atriz britânica conseguiu representar muitos dos maneirismos, feições e o até o jeito particular de interpretar as canções e mover a boca tão característicos da cantora. Particularmente, acho que a atriz é mais convincente na segunda parte do longa, ao interpretar a cantora mais velha, mas ainda assim ela parece se esforçar para entregar o necessário. Ainda no elenco, Stanley Tucci faz um bom Clive Davis, um executivo da indústria que se torna um amigo de Whitney — e Tamara Tunie, no papel de Cissy Houston, mãe da artista.

No entanto, antes de falar de outros elementos (e até mesmo dos atores), é preciso apontar o principal problema de “I Wanna Dance With Somebody”: a falta de personalidade. O filme tenta emular filmes similares de sucesso anteriores, como o próprio “Bohemian Rhapsody” — tendo inclusive o mesmo roteirista. Um de seus erros está aí: não se pode colocar todas as estrelas em um único pacote e esquecer suas individualidades. O filme possui um tratamento “comercial” que elimina toda tentativa de profundidade que poderia ter.

Crédito: reprodução (2023)

Não há uma fotografia característica, ou uma abordagem de roteiro que traga personalidade. Embora tente um diferencial ao retratar uma relação sáfica que Whitney teve no começo de sua carreira, isso também é quase apagado no decorrer da história.

As relações familiares não são aprofundadas, nem seu vício em drogas, seu relacionamento tumultuado com Bobby Brown, seu relacionamento com Robyn, o possível drama de aceitação com sua bissexualidade, suas crises na indústria por não ser considerada uma cantora “negra” (por “só cantar música branca”). Seus problemas financeiros, a má gestão do pai com seus negócios… Tudo está presente, mas nada parece ter muita importância. Logo passamos para outra cena, outro “dilema”, outro momento, que tira o brilho dos anteriores, sem trazer uma nova chama para o filme.

Até grandes e importantes momentos como um aborto sofrido pela artista nas gravações de “O Guarda Costas” são apenas momentos, como breve citações sem muita relevância. Sim, os figurinos e perucas icônicas estão ali, a representação quase fidedigna de performances importantes, mas falta um componente que parecia transbordar de Whitney: sua personalidade.

Assim, sem fazer jus a personalidade, carisma e potência que colocaram a cantora no patamar de ícone, lenda ou até mesmo “diva”, o filme te mostra tudo, mas não te dá a chance de chegar muito perto, conhecer mais a fundo, se conectar com paixão à estrela. É como ver um filme de sessão da tarde, cheio de picotes e censuras, com um filtro de aceitação para todas as famílias, e ali no meio acaba perdida uma das maiores artistas de todos os tempos.

Crédito: reprodução (2023)

Um ponto alto do filme talvez seja a abordagem de como Whitney sentia as músicas que queria gravar, quando vemos sua paixão pela música e o início de sua explosão na indústria. Mesmo assim, saímos da sala com a sensação de que, infelizmente, não foi o bastante.

O filme talvez valha o ingresso (ou o play, quando chegar nos streamings) pelas músicas e pelo trabalho da equipe de arte em recriar os looks e performances icônicas. Pode funcionar como um passatempo ou algo para se assistir sem ter que pensar demais. Há momentos emocionantes, como quando Whitney canta o hino nacional no intervalo do Super Bowl. Mas para quem quer conhecer mais, se sentir mais perto e realmente dançar com Whitney: talvez não seja dessa vez.

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