Opinião | “Bonnie & Clyde” faz combinação de sucesso com produção e elenco afiados

Produção estreou em curta temporada com Beto Sargentelli e Eline Porto no 033 Rooftop em São Paulo

Ultimamente tem se tornando muito difícil as produções, ainda mais quando falamos sobre as inéditas, superarem a expectativa do público que é fã de teatro musical – principalmente quando falamos de São Paulo, onde nos últimos 12 meses tivemos produções como Sweeney Todd, A Família Addams, Anastasia, Evita Open Air e tantos outros. Atualmente temos em cartaz Wicked, Once, A Herança e outros que ainda vão estrear. Conseguir destaque nesse cenário pode parecer desafiador para algumas produções, mas para Bonnie & Clyde isso foi tarefa fácil.

Crédito: Beto Sargentelli e Eline Porto por Stephan Solon / reprodução

Contar a história de Bonnie & Clyde bem feito e em estilo musical é para poucos, nessa produção em curta temporada temos um time de peso que fez tudo isso se tornar realidade da melhor maneira possível, o musical traz João Fonseca na direção geral do espetáculo, mesmo diretor responsável pelo “Os Últimos 5 Anos” e Rafael Oliveira responsável pela versão e tradução das músicas, ambos fazem um trabalho fino e muito bem feito para essa produção, tanto as músicas quanto a direção conversam muito bem entre si, situando todo mundo que assiste sem deixar dúvidas sobre a história contada aqui.

Baseado na história real de Bonnie Parker e Clyde Barrow, o musical narra esse amor proibido entre os dois criminosos mais famosos da década de 1930. Tudo começa quando o casal se encontra em uma lanchonete e rapidamente se apaixonam. Juntos, eles formam uma das quadrilhas mais temidas dos Estados Unidos, cometendo assaltos a bancos e assassinatos enquanto tentam escapar da polícia. Com uma trilha sonora emocionante, o musical retrata a vida desses dois personagens controversos e sua luta para manter esse amor vivo em meio à violência e ao caos.

Para além das histórias clássicas que conhecemos do clã Barrow, nessa produção temos a ótica da população da época e entendemos um pouco mais de um contexto político-social que todos viviam, todo o agravamento da crise financeira da época que os Estados Unidos vivia influenciou e muito na vida criminosa da dupla protagonista. Mostrar essa ótica nova de algo que aconteceu na vida real é sempre muito interessante e bem vindo para enriquecer ainda mais a história.

O trabalho dos protagonistas é simplesmente excepcional. Beto Sargentelli e Eline Porto são talentosos em todos os aspectos, seja atuando ou cantando. É evidente que ambos estão em um momento de grande destaque em suas carreiras, e isso fica claro através da entrega e paixão que colocam em cada cena. Beto, que já havia impressionado em “West Side Story”, mostra ainda mais versatilidade e habilidade nessa nova produção. Já Eline brilha igualmente, com uma performance apaixonante e impressionante, especialmente na música “Se você morrer (Dyin’ Ain’t so Bad)” onde ela mostra todo seu talento com essa personagem tão marcante. O entrosamento entre os dois é incrível, e é impossível não se envolver com a química de seus personagens.

É preciso destacar a dedicação e empenho desses dois atores em trazerem à vida personagens tão complexos e icônicos como Bonnie & Clyde. A dupla consegue transmitir com maestria todas as nuances do relacionamento dos dois, desde a paixão arrebatadora até a tensão e desespero que acompanham o casal em sua trajetória criminosa. É notável a sintonia que Beto e Eline possuem em cena, e isso só é possível graças ao talento e profissionalismo de ambos. Assim, não há dúvidas de que o duo é uma das grandes razões para que o espetáculo esteja sendo tão bem recebido pelo público e pela crítica. Eles merecem todos os elogios e reconhecimentos por entregarem uma performance tão impactante

Adriana Del Claro e Claudio Lins interpretam Blanche Barrow e Buck Barrow, respectivamente. Os atores fazem um contraponto mais cômico e caricato, se comparados à Bonnie & Clyde. Além de trazerem bons momentos divertidos à narrativa, também são responsáveis pelo ar mais humano no segundo ato da história.

Mas não é só de protagonistas bons que se faz um musical. Aqui temos como parte do elenco: Aline Cunha, Aurora Dias, Bruna Estevam, Davi Novaes, Ela Marinho, Gui Giannetto, Lara Suleiman, Mariana Gallindo, Oscar Fabião, Pedro Navarro, Rafael de Castro, Renato Caetano, Thiago Perticarrari e Yudchi Taniguti. Todo o elenco é extremamente talentoso, Pedro Navarro, que antes mostrava um domínio enorme pra comédia, agora traz um personagem mais dramático e muito bem executado. Davi Novais faz um cidadão extremamente divertido de se assistir e arranca boas risadas de todo o público.

Um dos momentos que ganha facilmente o público é a abertura do segundo ato, quando temos Gui Giannetto entregando uma das melhores performances que poderíamos assistir em um musical. Todo o elenco se reúne numa espécie de missa e são espalhados por todo espaço do O33 Rooftop guiados pelo pastor (Gui Giannetto), que faz a interpretação – na minha opinião – de uma das melhores músicas do espetáculo “Feito pra lutar (Made in America)”. Nessa hora, onde temos o elenco misturado ao público, tudo se torna mais imersivo e somos transportados para a mesma época em que a narrativa acontece. Gui faz um trabalho excepcional com seu personagem, dando mais camadas e profundidade, mesmo com poucas músicas e falas.

Em suma, Bonnie & Clyde conquista facilmente até os mais críticos do teatro, seja por sua produção impecável ou por todas as soluções criativas que fizeram para encaixar esse espetáculo dentro do 033 Rooftop, trazendo pequenos momentos de interação dos atores com o público que os assiste. O musical está em cartaz de sexta à domingo no 033 Rooftop, localizado acima do Teatro Santander, em São Paulo.

Para mais informações, acesse o perfil oficial do musical nas redes sociais.

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